horas vazias.

nesta primeira madrugada, deste novo dia, do marco zero em mim, a noite escorre e o silêncio tem ruídos.

tudo emana um som real e abstrato, ainda que no meu cérebro entenda que há um silêncio absurdo.

junto ao silêncio, vem um frio dos pólos...

este frio ora ártico, ora antártico me rodeio o corpo e a alma e me abraça.

acho que na minha vida, estes sempre me abraçaram e talvez por isso me identifique com o gelo e o glacial.

a noite também sou apaixonada por ela, ela puxa o intrínseco, o mais profundo do ser. acostumei ter minhas entranhas e vísceras sendo fuçadas e remexidas.

devia ser um guarda noturno, que segura um copo de café que nunca o tomará, querendo com isto tentar me aquecer do frio da madrugada e tentando me proteger do sereno.

aquele que vaga pela noite muda, circulando por entre as horas vazias, só em seu ambiente que hipoteticamente está a vigiar ou proteger.

e quem está a protege-lo?

é acho que como um guarda noturno, cochilo e acordo, ando um pouco, vejo uma coisa e outra, volto a cochilar, acordo repentinamente de sobressalto assustado.

nada mudou, as coisas continuam da mesma forma e seguindo o rumo que seguem por si só.

sobressalto, acho que esta é a ação e sensação que percorre em mim, ainda que dentro das possibilidades do que poderia vir acontecer, ainda assim após longos anos, ainda assim fui pego.

acho que nunca estamos preparados ou acreditamos no momento que poderá chegar...

e antecede às horas vazias, talvez a sua efetivação esvazie tudo e o tempo parece pesar ainda mais, ao nada.

ah! e a noite parece ter pacto direto com o tempo e seus efeitos.

tudo parece se intensificar ao nos recolhermos (ou não!?) e talvez por isso o silêncio (ruídos) da noite seja mais intenso e barulhento que todos os barulhos do dia.

o sol parece mostrar o mundo externo e esconder o que há por dentro, coisa que só o cair da noite consegue trazer a tona.

as horas cheias do dia, perdem toda a sua força, para a interiorização destas e a exposição do mais profundo do ser, nas horas que se esvaziam cada vez mais, no que se aprofunda a madrugada e a noite se faz intensa no mundo.

eu cá, com minhas horas vazias, cheio de nada...

não quero ficar com cacos, com café e nem com a vigília.

já o frio e a noite, ah! estes sempre vou ter com carinho, fiéis companheiros.

jo santo

zilá

Paulo Jo Santo
Enviado por Paulo Jo Santo em 02/05/2017
Reeditado em 02/05/2017
Código do texto: T5987188
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