O USO DO COMPARATIVO

“Mestre JM! Frente à afirmação de que o “como” não deve ser usado, a comparação “tal qual” e os demais comparativos que podem ser sinônimos de “como”, também não devem ser utilizadas em Poesia?” Cler Ruwer, pelo Facebook.

Poeta CR, atendendo ao questionamento e ainda trabalhando na emenda modificativa do texto em voga. Olha com cuidado, certo? Vejamos: "... O sonho de amar está no alto da esfinge,/ tão ignoto (como) tal esses moços que desmaiam...". Neste último verso, substituí o “como” por “tal”, buscando a aliteração, que consiste na repetição de consoantes como recurso para intensificação do ritmo ou como efeito sonoro significativo. No caso, a consoante é o “T” (tão/tal), e, por dever de ofício, peço licença ao poeta-autor para sugerir essa emenda substitutiva. Também se poderia fazer a substituição do “como” por “feito”, com menor efeito rítmico. É necessário ter muito cuidado com o comparativo "como", especialmente quanto ao ritmo, no ato de leitura em voz alta e que pode apresentar, especialmente as famigeradas CACOFONIAS E CACÓFATOS, tão prejudiciais à peça poética. Ao demais, raciocine-se: quem ‘come’ quem? E se ‘comer’ o que vai excretar? O "como" é palavra quase proibida em Poesia, porque é o mais feudal dos comparativos, além de insaciável no ato de “comer”. E, se temos a metáfora à disposição para o uso, com que fito vir a utilizar o comparativo, que é meramente gramatical? O comparativo é muito menos rico, no poema, visto que Poesia é imagética, ou seja: “que encerra imagem, ou revela imaginação”. E mais: aquele que opta pelo comparativo, quando do momento de criação do poema está excluindo a metáfora. E esta não é essencial para que se constate a Poesia no texto? No caso em estudo pode-se depreender que ocorre mera comparação entre vocábulos ou situações dadas. Acho que, agora, o texto ficou como eu desejava: mais justificada e escorreita a substituição do "como" por "tal", no caso do poema do Elias Borges. Então, "tal" e "feito" são substituições aconselháveis, em Poesia, para a palavra "como". A frequente utilização, em Prosa, da expressão "tal como" – por ser predominantemente explicativa – entendo ser o seu uso também desaconselhável, em linguagem poética.

– Do livro OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02; 2015/17.

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