O inferno é branco

Ele disse que o inferno era branco, um grande e invencível branco que tomava tudo ao redor. Não havia fogo, enxofre ou labaredas: unicamente o branco por onde quer que se olhasse. Durante sete minutos, que foi o tempo até ser ressuscitado pelos médicos, ele permaneceu no meio desse branco e soube que aquela seria a sua própria eternidade. Não havia pessoas, não havia objetos, tampouco outros espíritos. Seu destino seria permanecer, até o fim dos tempos, preso no meio do nada. E aquela visão lhe pareceu tão terrível que ele quis fugir, mas para onde é que se foge quando se está no meio do nada? Ele sentiu como se tivesse rangendo os dentes de desespero, mas já não havia dentes, como não havia corpo, tudo o que havia era uma consciência atormentada. Ah, numa hora dessas, que bem não faria o fogo. Seria até um alívio ser consumido por ele, pois o sofrimento causado pelo fogo é tão doloroso que faz esquecer de todo o resto. Ele não se lembraria mais do branco, não estaria mais entregue aos seus pensamentos. As chamas impediriam que ele pensasse nos motivos que o levaram para aquele inferno. Mas o branco, ah, o eterno branco, esta é a pior condenação que existe, porque nem por um instante ele se esqueceria de quem era, nem por um momento lhe abandonaria o seu sofrimento moral. Nessa eterna solidão, nesse terrível encontro consigo, ele se consumiria pensando no amor que poderia ter sido dado e não foi.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 08/07/2017
Código do texto: T6048949
Classificação de conteúdo: seguro