O FUNDAMENTALISMO DOS NOSSOS NEOLIBERAIS

Ouvimos desde criança aquela frase "a teoria é diferente da prática". E se existe um campo do conhecimento em que esse dito popular se aproxima muito da realidade é o campo das ciências sociais,

onde repousam a economia, sociologia e a psicologia.

Não é possível afirmarmos que um modelo apreenda toda a complexidade das relações humanas.

Os modelos econômicos conseguem , no máximo , uma aproximação.

No entanto, no Brasil , presenciamos uma tentativa de impor todo um modelo teórico neo liberal à economia brasileira através das reformas trabalhistas e da terceirização irrestrita da produção.

A toque de caixa, como se o mundo fosse acabar no dia seguinte, reformas caras ao trabalhador estão sendo aprovadas sem um tempo hábil necessário para analisar os seus efeitos de curto e longo prazos.

A crença na auto organização do mercado é o suporte teórico que avaliza essas reformas que na verdade são um retorno a períodos remotos do capitalismo industrial. Dito de outro modo, o que chamam de modernidade nada mais é do que o resgate de uma relação capital/trabalho embrutecida e desumana.

Em certa medida, o postulado neo liberal toma emprestado do Darwinismo a ideia de que apenas os mais aptos sobrevivem, dando a ideia que não ha lugar para os mais fracos. Dito de outro modo, a competição é a maneira pelo qual a prosperidade pode ser alcançada. Contudo esquecem que a teoria darwiniana não postula apenas sobre a competição, mas coloca a cooperação no mesmo patamar para que os seres possam sobreviver.

Enebriados pela crença na teoria da "mão invisível" os pensadores de direita brasileiros tornam-se insensíveis ao sofrimento da classe trabalhadora ao ponto de cunhar frases que tornam-se verdadeiros mantras, como a do ex presidente do IBGE Paulo Rabello de Castro, formado na escola de Chicago: "O governo grátis é o grande adversário da prosperidade e o inimigo número um da ascensão social.

Em países capitalistas de primeiro mundo como a Alemanha, mesmo com governos de direita, o estado grátis, criticado pela pessoa do presidente do IBGE, não é visto como um vício a ser debelado, mas sim como uma garantia para que os cidadãos tenham uma vida digna.

Segundo estudos da OCDE, um terço da população alemã recebe algum tipo de transferência governamental. Esse total equivale a um gasto anual de 43,3 % do PIB.

Não podemos deixar de lembrar que a população brasileira é muito mais carente do que a população alemã. Sendo assim, a lógica era que as críticas a participação do estado em políticas sociais fosse menos entranháveis.

Enquanto isso, a Finlândia está colocando em teste a adoção de uma renda mínima universal, cujo objetivo é garantir direitos básicos a sua população. Não vemos nesses países uma oposição tão passional à participação do estado nas políticas sócio econômicas como a que ocorre

no Brasil.

Quando o assunto propõe tratar-se da aplicação de políticas com objetivo de desenvolvimento econômico, o alinhamento e adesão ao arcabouço teórico neo liberal é total. É um posicionamento quase que religioso.

Na linha da "necessária" ausência do estado, os que assaltaram o poder impõem uma destruição de toda uma estrutura regulatória, mas na visão da nossa direita, essas regulações são como amarras ao desenvolvimento econômico.

Alinhadas a este postulado, as reformas propostas suprimem direitos e garantias dos trabalhadores que remontam o período pré estado novo. Para termos uma ideia, nesse momento, a proposta original da reforma trabalhista traz a supressão de 100 artigos da Consolidação das Leis Trabalhistas, flexibilizando uma relação de trabalho em que não ha correlação de forças.

Desse modo, o trabalhador negociará com os patrões em visível desvantagem.

No bojo da nova legislação virá o aumento da carga horária sem o aumento proporcional da remuneração. Tudo isso, juntamente com o aumento do prazo para empregos temporários e terceirização irrestrita, promoverá uma vasta precarização do trabalho, fazendo do Brasil um laboratório neo liberal que nem mesmo países com tradição de direita ousaram fazer.

Segundo o postulado da microeconomia, existem duas formas de se alcançar o lucro. As empresas obtém lucro aumentando suas vendas ou reduzindo os seus custos.

A segunda opção é a mais nefasta , pois coloca sobre os ombros do trabalhador a responsabilidade do sacrifício de erguer a economia do país. Porém essa conta que para as empresas, isoladamente, parece positiva financeiramente, será cobrada cedo ou mais tarde porque a macroeconomia será atingida pelos baixos salários e perda de benefícios que reduzirão o poder de compra do trabalhador, o que provocará um excesso de oferta frente a demanda.

Dessa forma, não é necessário ser um economista ou estatístico para inferir que haverá aumento do desemprego, gerando uma espiral "queda nas vendas/redução de custo/desemprego. Essa espiral se dará em um contexto preocupante, pois o que mais as empresas poderiam cortar para recuperar os lucros se vários direitos e garantias já estariam extintos? Como aumentar as vendas se não ha renda que possa absorver o produto?

"A relação crise-desemprego pode ser vista como um círculo vícioso. Maiores taxas de desemprego levam a uma

diminuição da renda do consumidor, e menos renda leva a um menor consumo.

Essa queda reforça a diminuição de investimento dos empresários, repetindo o ciclo de demissões. Além disso, gera-se também uma crise de consumo psicológica, isto é, as pessoas passam a consumir menos por temer a perda do emprego.

Ao longo do ano de 2015, o chamado Índice de Medo do Desemprego dos brasileiros cresceu 36,8%, de acordo com

pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Na última semana, a Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio) do IBGE, revelou preocupantes níveis de emprego no Brasil. A taxa de desemprego elevou-se para 9,5% no trimestre encerrado em janeiro de 2016. É o maior valor da série histórica, que começou no primeiro trimestre de 2012. Em 2015, no mesmo período do ano, o índice estava em 6,8%."

Quando a equação não tem resposta, a variável "estado" é chamada para fechá-la e a solução derivada do estado promove um rombo nas contas públicas. Mas, dessa vez, não para ajudar diretamente aos pobres, que é a causa das entranháveis críticas do uso do dinheiro do estado, o chamado "almoço grátis", mas para socorrer àqueles que, em busca do lucro máximo e irrestrito, causam grande prejuízo à economia.

Apesar de repetidas crises por que passou o capitalismo mundial e mesmo com exemplos de países capitalistas europeus que adaptaram o receituário neo liberal, abrindo espaço para o estado colaborar na sobrevivência e na reprodução do próprio capitalismo, os defensores da direita brasileira não aprenderam e parece que jamais aprenderão. Eles incorporaram à teoria uma religiosidade quase fundamentalista.

Enquanto os radicais Islâmicos realizam barbáries, alegando que eles são "a mão de Deus", nossos radicais de direita oprimem o trabalhador em nome de uma teoria da "mão invisível."

Albertino Ribeiro
Enviado por Albertino Ribeiro em 09/07/2017
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