Das minhas angústias e aflições.

As minhas experiências fracassadas de amor, os meus dias de aflição e crença na melhoria deste mundo tão indiferente, os meus suspiros ingênuos, as minhas fugas, os meus intensos conflitos comigo mesmo e com uma incontável multiplicidade de relações (a maioria inventada), as esperanças, as intervenções, os estudos, o vento sobre a face... a minha vidinha limitada e muitas vezes medíocre que eu sempre amei tanto e que, agora me foge dos sentidos imediatos, se reservando apenas aos poucos reflexos, as poucas gotas de lembranças que sobrevivem apesar das minhas tantas transformações... das minhas andanças, mudanças e modificações.

Um desejo? apenas sonho com dias em que nossas saudades se encontrem numa cerveja ou vinho à tardizinha, sardinhas fritas na mesa, som de crianças correndo pela casa, luzes recordando o passado compartilhado, e uma incontrolável vontade de sorrir de nós mesmos, meninos com sangue “azul” dividindo as mesmas veias, de, enfim, confirmar que nenhuma das poucas diferenças foi capaz (jamais!) de separar as muitas afinidades e de enfrentar a concretização destes sonhos tão intensos, por vezes indizíveis que apoiamos uns nos outros, vida à fora... um sonho por uma vida melhor!

Só pra não deixar de registrar: muitas vezes eu fico assim mudo, mas meu coração, só pra mim, canta tantas fortes dúvidas, tantos questionamentos, tantas saudades! O que fazer? O jeito, faz tempo que descobri, é continuar andando... não que eu esteja lá muito firme nas escolhas e coisas que faço ou digo (quando a sensatez não me contradiz), apenas sinto uma quase-dor em ser assim confuso e retraído, assim falante e afônico, ao mesmo tempo, e sem intervalo. Assim, a minha coleção de sentimentos escondidos bem que poderia ser exposta, vez ou outra. Faria mal? Faria bem? Faria ao menos diferença? Não sei. Nunca sei nada além dessa agonia impertinente, agressiva, incontrolável até, que me diz em momentos assim, noturnos, que eu e minhas dores somos mais do que equivocados acertos acidentais e esporádicos nesse quebra-cabeça abstrato que é a vida. Então, por não saber o que falar, apesar do tanto de emoções que sinto, me esvazio das aflições cotidianas, das querências absurdas e das lembranças ensangüentadas que me incomodam tanto o dormir, quanto o viver!

Só me resta, então, esperar por mais um desses momentos criados pelo mercado consumista a fim de aumentar as vendas – os conhecidos vulgarmente como feriados festivos – para quem sabe, voltar a reunir toda a “tribo”, para assim, poder compartilhar, novamente, de momentos felizes, mesmo que sejamos ameaçados pela chegada do dia útil seguinte. No qual todos deverão tornar-se, novamente, subordinados ao poder coercitivo imposto por essa máquina cruel chamada “SOCIEDADE”.

Lucas Barbosa, Juazeiro 17 de julho de 2007.