Navegar é preciso... E viver também é! Cap.I (Paola Lírio)

CAPÍTULO I (Por Paola Lírio)

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

"Navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito desta frase,

transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar...

(Fernando Pessoa)

Fernando Pessoa deve ter revirado no túmulo quando minha prima, Coach de relacionamentos, me disse: “Paola, navegar é preciso..., mas viver também é!” Eu estava com a autoestima ainda baixa e com uma extrema carência afetiva, após terminar de vez um relacionamento que me levou ao fundo do poço. Naquele momento, eu só queria navegar, viajar, criar! Realizar meu sonho de escrever um livro e deixar uma pequena parte de mim em uma história.

Sabe aquele momento em que você quer fugir de tudo? Fugir do trabalho, de casa, dos fantasmas do relacionamento falido, enfim, da rotina até então conquistada. E aí, de repente, você “acorda para a vida” e percebe que sua vida não te satisfaz, não te faz feliz e não tem nada a ver com você? Se não sabe, se nunca passou por isso, você é uma pessoa sortuda. Mas se já passou por algo semelhante, como uma crise existencial, sabe quando precisamos fazer alguma coisa para nos reconectar com a própria essência. Então, foi em um desses momentos que agendei minha primeira viagem sozinha, após me recuperar de um relacionamento tóxico e tirar férias do meu trabalho, que estava sendo igualmente tóxico para mim. Foi um Minicruzeiro de três noites, com embarque no Rio de Janeiro, rota para Ilha Grande, Ilha Bela e retorno para o Rio de Janeiro.

Eu precisava passar um tempo sozinha, apenas comigo mesma, para recuperar minhas energias. Escrever meu livro naqueles três dias de descanso seria uma ótima opção para fazer algo que realmente me desse prazer e sair um pouco da vida de trabalho monótono (nada criativo) que eu mesma me enfiei. Por sustento, pelo dinheiro, por sobrevivência, pelo sonho dos pais, etc., seja qual for a desculpa, é exatamente isso que a gente acaba fazendo. Porém, aos trinta anos, parece que não dá para continuar em uma vida que parece não estar sendo realmente vivida, e sim levada, apagada, sem brilho no olhar. Refazer planos, sonhos, enfim, me refazer seria o objetivo da viagem, e voltar com uma meta específica para atingir, onde eu não aceitaria nada menos do que me sentir plena e satisfeita diariamente. Sei que a vida é feita de altos e baixos, mas os baixos se tornam mais profundos quando insistimos no caminho “errado”.

A manhã estava perfeita. Ensolarada, porém com um clima ameno. Os pássaros pareciam cantar mais alegres quando acordei, ou seriam meus ouvidos em sintonia com a natureza devido ao entusiasmo pela viagem? Levantei, tomei um bom banho, acabei de arrumar uns detalhes finais na minha mala e saí rumo ao porto do Rio de Janeiro para embarcar sozinha no Cruzeiro. Porém, estranhamente, eu não estava me sentindo só. Minha mente já estava borbulhando de ideias para escrever meu livro num confortável local, onde eu não precisaria me preocupar com mais nada, além de aproveitar o início das férias do entediante trabalho fixo.

– Paola Lírio – Eu disse meu nome para a moça fazer meu check-in, após um bom tempo de espera. Ela me olhou curiosa pare saber se eu estava realmente sozinha. – É... Só tem eu mesmo. – Eu disse com um sorriso sem graça. Ela ficou sem entender e me devolveu o documento fazendo sinal para que eu pudesse entrar no navio. Sério que eu estava ali? Sozinha e parecendo complementamente perdida? A ficha tinha caído naquele momento. Ainda bem que não dava mais para voltar atrás. Então respirei fundo e entrei no navio confiante, como se já tivesse pelo menos meia dúzia de amigos lá dentro me esperando.

Adentrei por um hall muito lindo e chique, ao fundo via-se um balcão com funcionários bem arrumados, fui até lá para indicarem meu quarto. Assim que peguei meu cartão e virei para o lado vi um rosto conhecido que pareceu surpreso ao me ver.

– Olha quem está perdida aqui! Como vai Paola?

Ele me cumprimentou com dois beijos. “Não pode ser!”, pensei. Antony Richard era um colega que trabalhava na mesma empresa que eu. Inteligente, simpático, carismático e, ao mesmo tempo, reservado, educado e lindo. Esse último adjetivo não sei se tinha a ver com minha carência ou se era uma opinião unânime. Não trabalhávamos diretamente, mas tínhamos vários amigos em comum, ou seja, éramos amigos nas redes sociais.

– Oi! Tudo bem?

Respondi surpresa e um pouco assustada. Para quem estava querendo fugir de tudo, encontrar alguém do trabalho não estava sendo muito confortável.

– Resolveu passear um pouco também? Esse navio é maravilhoso, não é? – E olhando ao meu redor completou – você está sozinha?

– Sim. – Respondi com o rosto corado de vergonha. – Resolvi fugir de tudo e de todos por esses dias.

– Ah, é bom fazer isso de vez em quando.

– E você?

Não era para eu ter perguntado isso, mas quando vi já tinha saído.

– Vim com meus familiares. Irmãs, sobrinho... Aproveitar um pouco a família.

– Ah legal...

Ele percebeu que eu estava sem graça e querendo fugir daquela situação inusitada.

– Um ótimo descanso e passeio. Tudo de bom!

– Obrigada. Para você também.

Respondi com um sorriso sem graça e já me afastando em direção ao elevador para encontrar meu quarto. Percebi o rosto dele corado também, por trás da sua irradiante simpatia. Certamente, assim como eu, ele não estava esperando encontrar ninguém do trabalho num passeio de férias. Logo que me afastei consegui voltar a respirar novamente. "Deus do céu! Logo ele!" Pensei. Eu tinha acabado de curtir a atualização da foto do seu perfil na rede social, onde ele estava gato demais! Seu sorriso na foto e seus lindos lábios no meio da barba desenhada, haviam me inspirado a escrever uma poesia. Ele tinha algo que me atraiu desde o primeiro momento que o conheci e eu não sabia o que era. Seu carisma e seu rosto branquinho que também ficava vermelho facilmente, assim como o meu, me encantaram. Desde então nem preciso dizer que eu adorava ver suas fotos. E ele estava ali agora no mesmo navio que eu, tão perto, tão lindo, tão, tão... "Foco Paola! Você está aqui para escrever seu livro." Foi quando reparei que estava perdida. Chamei por um funcionário do navio para me ajudar a encontrar meu quarto. Era tudo muito grande, luxuoso, maravilhoso, mas não sei por que eu não conseguia me concentrar em nada além da lembrança do sorriso do meu colega, e de tudo que poderia acontecer naquele navio. Minha mente fértil já havia começado a imaginar e não queria mais parar. "Foco Paola. Foco!"

Quando cheguei ao quarto já haviam deixado minha mala em frente a porta. Entrei e fui logo para a varanda onde seria meu local inspirador de trabalho como escritora naqueles dias. Havia uma pequena mesinha e duas cadeiras. O suficiente para caber a mim e o notebook. Tirei algumas coisas da mala e resolvi subir até o deck superior para ver o navio sair. Já estava quase na hora.

Com uma leve brisa soprando meus cabelos, eu observava o Rio de Janeiro se afastando enquanto navegava mar a dentro. Fui sentindo aos poucos a paz e a alegria típica dos introvertidos quando estão sós, em contato apenas com seu interior. É como se eu estivesse já repondo minhas energias e ainda teria três dias para "encher" meu tanque. Eu poderia fazer tanta coisa nova e diferente apenas em minha companhia, sendo eu mesma, que eu nem sabia por onde começar. Até que uma voz familiar me tirou dos meus devaneios.

– É a primeira vez que navega?

Quando olhei para o lado vi aquele sorriso lindo que me fez distrair dos meus próprios pensamentos e perceber que eu não estava mais só, embora a companhia fosse agradável, inusitada e, tudo bem, se tivesse que escolher um colega de trabalho para encontrar coincidentemente em um navio, seria exatamente ele. Após alguns segundos imersa em minha própria mente, consegui responder.

– Não. – Sorri – Mas sozinha é a primeira.

Virei para o lado para voltar a ver o mar e esconder um pouco o rosto envergonhado.

– Desculpe, não quero incomodar seu passeio com a melhor companhia que escolheu.

Olhei para ele com um sorriso ruborizado e percebi que ele também estava com o rosto igual ao meu.

– Que isso! Você não incomoda. É muito bom saber que tem alguém conhecido nesse navio enorme cheio de estranhos. Confesso que me sinto mais tranquila. Caso precise de alguma coisa vou recorrer a você.

Falei sorrindo antes mesmo dele oferecer seu apoio.

– Claro. Pode recorrer sim. Se precisar de alguma coisa estou à disposição.

– Obrigada.

Sorri e consegui olhar por um breve tempo seus olhos cor de mel, que logo se desviaram dos meus ao avistar alguém da família.

– Estão me chamando. Se precisar de alguma coisa, por favor, é só falar.

– Pode deixar. Obrigada mais uma vez.

"Só irei precisar de um abraço gostoso e essa sua barba encostando em meu pescoço..." Pensei com um sorrisinho malicioso e, ao mesmo tempo, reservado enquanto ele se afastava e eu olhava discretamente seu belo físico por trás. "Foco Paola!" Pensei sorrindo, lembrando da minha poesia e imaginando que aquele passeio poderia ser bem mais interessante do que eu imaginava.

Em destaque, seus lábios

No entorno, sua barba

Desenhada em seu rosto

Nos olhos um brilho

Por trás dos óculos

Compondo seu sorriso

Simplesmente lindo

Simpática feição

Que faz bem ao coração

Contemplar, admirar

E imaginar-te assim

Sorrindo para mim

Livro completo disponível em:

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Cila Mattos
Enviado por Cila Mattos em 02/09/2018
Reeditado em 28/02/2019
Código do texto: T6437519
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