Fure a bolha

Enquanto gritamos que a dignidade humana só será dignidade humana quando for para todos os humanos, línguas pestilentas imaginam varrer para debaixo do tapete a desigualdade social. Criar mais prisões e armar-se fazem parte do arsenal destas mentes para acabar com este detrito social que são calçados em argumentos de preguiça e meritocracia, usando exemplos exceções para confirmar uma tese que não se sustenta.

Não querem dar o peixe, preferem a vara, mas a vara é de marmelo nas costas nuas de quem não tem como se defender. Se de um lado o que muitos consideram “favores sociais” produzem uma parcela do povo indolente, produto explorado para quem prefere dar a vara, a falta destes favores retroalimenta o caos e para aqueles que não tem nada à perder, sentimentos de injustiça favorecem a violência num estado de coisas em que faltará tapete para tanta desigualdade.

As pessoas que não entendem isto estão numa bolha e vão reforçando as paredes desta bolha com falácias cada vez mais contundentes. Cada vez mais virulentas elas não percebem que o mundo que estão preparando para seus filhos não terá a proteção desta bolha, que a realidade cáustica os deixará a mercê de toda a desigualdade que pretenderam abstrair e expulsar da bolha. A bolha não vai protegê-los da desigualdade marginal e para sua tristeza talvez os percebam para além da bolha que imaginam estar construindo.

Como já tinha dito numa poesia qualquer perdida entre tantas que sangram meu pensamento “Numa catarse do eu” – eu sei que talvez poucos entendam minha língua estrangeira, porém mais do ter que ouvintes eu preciso falar. Quem sabe outro estrangeiro entenda. Eu sei que eles existem e sei também que como estrangeiros que são, estão sendo escorraçados por este neonacionalismo umbiguista que nada tem haver com defesa da pátria, mas sim com valores ensinados dentro da bolha, xenofóbicos com tudo o que é diferente e que não se encaixa. Puxaram para dentro da bolha bandeira, cores e outros símbolos nacionais para que fossem identificados com um país acima de tudo. Dentro de uma lógica simples onde não queremos nos identificar com estas pessoas egoístas, estes valores surrupiados vão perdendo seu significado e, portanto, seu valor.

Estamos fora da caixinha. Ela não nos serve: Somos mais!