A NATUREZA HUMANA NO “POÇO”.

A NATUREZA HUMANA NO “POÇO”.

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Dirigido pelo espanhol Galder Gaztelu, o Poço é um filme classificado de terror e ficção científica. O longa foi lançado em 2019 e é uma produção original da Netflix e desde então, tem causado diferentes opiniões a respeito de sua narrativa, o que nos faz refletir sobre a intenção explicitada pelos diferentes tópicos abordados no filme.

A temática, sobretudo, gira em torno do ser humano. Sua posição em relação ao mundo, a dicotomia existente entre a razão versus emoção, individualismo ou cooperativismo, egocentrismo, egoísmo e acima de tudo, saciar a fome para sobreviver em um mundo caótico, cercado pelo concreto, tendo ao centro o buraco do poço. A intertextualidade religiosa torna-se presente quando a percebemos os pecados capitais, como também, o questionamento da crença em Deus.

Percebemos que, assim como existe a pirâmide social, o poço também está divido por celas enumeradas, as quais podem ser benéfica ou maléfica, a depender da qual o indivíduo se encontra. A força motivadora é o alimento (a comida). E sua distribuição parte da cela de número 0 de forma progressiva até a cela 666, que representa o final do poço. Cada personagem possui sua especificidade marcante, o que nos leva a crer que são peças fundamentais para entendemos a mensagem implícita.

Questões como, o que o homem é capaz de fazer para sobreviver no poço, são questionadas ao percebermos que o indivíduo está sozinho e que depende apenas de si mesmo, não podendo desta forma, esperar nada do outro. É importante frisar que, este sistema prisional fora construído para isolar os indivíduos, afastando-os do coletivo, como também, distanciá-los da solidariedade espontânea.

A metáfora existencial se destaca como meio de justificar os atos das personagens, tais como, comer ou ser comido, numa tentativa de sobreviver ao desespero da fome através do canibalismo, como também, lembrá-los que todos estão sozinhos e uns contra os outros.

A intertextualidade literária se dá quando comparamos o filme o Poço com o livro O Poço e o Pêndulo, de Edgar Alan Poe. O conto foi incluído no livro Histórias Extraordinárias e publicado em 1842. A história se passa na Espanha no período da Inquisição. Aqui neste contexto, um homem também é julgado, condenado pelos inquisidores e jogado em um calabouço submetendo-se a tortura, tanto física quanto psicológica.

O narrador, que é em primeira pessoa, é colocado em uma sala escura com paredes de metal e um poço no centro dela. Diferentemente do filme, o poço não é um meio de sobreviver e sim uma armadilha para a morte. O meio de sobrevivência é o mesmo, a comida que, quando acorda a cada dia a recebe com água. Outro detalhe que o diferencia do filme é que a personagem se encontra sozinho e não há convívio com outros presos.

Uma semelhança intrínseca é quando a personagem dorme. No filme as luzes ficam vermelhas e no livro a personagem dorme sob efeito de algo que fora colocado em sua água. As mudanças ocorrem neste momento.

Ao acordar encontra-se deitado, amarrado à cama, com as luzes acesas, o que lhe permite ter a visão geral do cômodo em que está confinado, com desenhos de horríveis criaturas e demônios. Somando-se a isso, há um pêndulo de metal em formato de lâmina afiada que vai descendo lentamente em direção à personagem amarrada na cama. O clímax do conto se dá neste momento. A personagem percebe que irá morrer cortado pela lâmina afiada sem poder se desprender-se das cordas que lhe aprisiona. Somente um braço está livre para que o mesmo possa se alimentar e beber água.

Percebe que há diversos olhos minúsculos e famintos a observá-lo: ratos. Assim como seus torturadores inquisidores. Diante do desespero a personagem encontra a solução para a sua salvação. Com o seu braço livre ele coloca carne nas cordas, esfregando o molho, para que os ratos roam as cordas e o liberte.

O poço, seja ele no filme ou no livro, é o caminho. Resta ao personagem decidir qual seguir. E para tanto, é preciso vencer seus temores, usar a razão sobre a emoção, e acima de tudo, não perder a esperança de um recomeço.

ginaldo
Enviado por ginaldo em 01/04/2020
Código do texto: T6903946
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