A FORMA AUTÊNTICA DE FELICIDADE

Se a felicidade que muitos perseguem consiste em obter satisfações e prazeres às custas da dor e do sofrimento de outrem, eu prefiro ser o homem mais infeliz do mundo. Pois quem sabe, ficando longe dessa felicidade que eu chamo de vulgar e dessa tola propensão a um prestígio social a qualquer preço, não poderia encontrar uma felicidade mais rara e preciosa, como uma fragrância ainda inacessível e pouco apreciada? Quem sabe não viveria no ser da própria beatitude na negação heroica da triste alegria hedonista e barata?

Penso, pois, que uma felicidade autêntica acontece quando encontramos o sentido do que é estar e viver em comunhão com o nosso próximo mais próximo (e, talvez, com o estranho na disposição de estreitar os grandes abismos), deixando de lado por algum momento as nossas defesas, vaidades, pré-julgamentos e prepotências em face do mistério de outro ser, e atingindo a radicalidade do em-com-o-outro em meio a oportunidade para o desnudamento do fenômeno de uma existência em sua pureza e originalidade.

Quem vive protegido por máscaras, de fato, nunca poderá reconhecer o valor intrínseco de uma amizade, de um amor ou de qualquer vínculo onde exista diálogo e compreensão, até porque a sua própria escuridão não irá permitir qualquer demonstração singela de reconhecimento de uma vida na sua integralidade e da importância de uma rica interpessoalidade. Mas quem deixa transparecer a sua verdade sem imposições, sabendo de uma verdade mais profunda do que a sua verdade, uma veracidade capaz de orientar os seus passos (constelando o numinoso no foro do próprio ser), sabe melhor discernir o que é luz do que é trevas, o que é ser do que é não-ser, e o que é ser a sua própria realidade autêntica do que inevitavelmente nunca poderá ser.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 13/08/2021
Reeditado em 13/08/2021
Código do texto: T7319908
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