Sobre a conversibilidade de conceitos - Todo Incognoscível 44

NESTE ENSAIO

1. USUALMENTE É POSSÍVEL TRADUZIR TEXTOS DE UMA LÍNGUA PARA A OUTRA, MESMO COM ALGUMA IMPRECISÃO 2. A TRADUÇÃO DE UMA TEORIA PARA A OUTRA ACARRETA ALTERAÇÃO DE SENTIDO 3. É IMPOSSÍVEL USAR INDUÇÃO PARA DECIDIR POR UMA TEORIA 4. DECIDIR UMA POR UMA TEORIA A PARTIR DA OUTRA É PETIÇÃO DE PRINCÍPIO 5. A MANEIRA DE SE DECIDIR POR UMA TEORIA É APELANDO PARA ALGO DE FORA DA TEORIA

PRE MBULO

Meus ensaios são em grande medida debates que realizo. Com receio de ser impreciso passei a perguntar se aquilo que escrevi é coerente com a lembrança da pessoa cujo debate está sendo retratado. Recentemente um diálogo a respeito de um ensaio (que escrevi a partir da perspectiva de Mises) me rendeu uma epifania!

“É correto que você não teve nenhuma divergência séria a respeito do texto?”

“Tanto faz, você é muito confuso, eu nunca sei se você está falando sobre o valor de troca ou sobre o valor de uso.”

INTRODUÇÃO

Atualmente vejo vídeos e leio livros em inglês, mas quando esbarro em uma dificuldade penso em qual seria o conceito em português. Traduções acarretam uma imprecisão aceitável. A troca de “door” por “porta” é inócua, não prejudica a compreensão do texto. Mesmo um conceito que não existe em uma língua pode ser traduzido. Assim “Eu sinto saudade de você.” (sendo ‘saudade’ uma palavra inexistente em inglês) pode ser traduzida como “I miss you.” Na medida em que as línguas são mais distantes os desafios se tornam maiores. Traduzir “Bom dia!” do português para o chinês é trivial para quem conhece ambas as línguas, já traduzir uma poesia do chinês para o português é uma tarefa ingrata. Mas as línguas faladas ainda são relativamente semelhantes em comparação com a tradução de linguagens ainda mais diferentes. Traduzir um filme em palavras levará a traduções muito diferente de acordo com quem o assistiu, especialmente no caso de filmes cujas mensagens são mais sutis. Quantas palavras seriam necessárias para traduzir o quadro Monalisa ou a música Pipoca Moderna (cuja versão original não tem letra)?

Quando encontro uma dificuldade em um livro acabo traduzindo para o português tanto a frase na qual travei como também alguns parágrafos anteriores. Às vezes me surpreendo tendo dificuldade em traduzir para o português uma parte que havia entendido em inglês! Isto revela que o próprio entendimento (assim como qualquer conceito ou teoria) não é completo, não é suficiente em si mesmo: posso ter entendido uma frase em inglês, ainda assim não entender como ela se relaciona com as outras frases num parágrafo. Posso entender um livro, ainda assim não entender suas metáforas em relação à vida cotidiana : o entendimento é parcial 1*. É fácil aceitar que uma tradução mesmo mal feita pode passar uma informação em larga medida consistente com o texto original. Já que a tradução é possível entre línguas seria de se esperar que o mesmo se desse entre teorias diferentes: alguém que conhecesse bastante astrologia ao ler sobre astronomia poderia trazer os conceitos de astrologia para a astronomia.

Entretanto, embora o conceito de astronomia e de astrologia tenham um objeto em comum (ambos se referem a astros), as relações entre os conceitos 2* são completamente diferentes. A partir da astronomia é impossível dizer que uma galáxia distante descoberta agora tem determinado impacto na personalidade de quem nasceu em tal hora e lugar e, assim, aperfeiçoar a astrologia. Da mesma maneira é impossível a partir da personalidade das pessoas nascidas em tal data e local determinar a existência de alguma estrela em alguma localização. Pois o campo do conhecimento que investiga o lugar em que os corpos celestes se encontram é a astronomia.

O que meu amigo fazia ao tentar entender meus ensaios (escritos na “língua” de Mises) era traduzir um a um em conceitos de Marx (como indica ele usar os conceitos ‘valor de uso’ e ‘valor de troca’, conceitos incompatíveis com a teoria de Mises). É claro que meu texto se tornava confuso! Pessoas marxistas que receberam meu texto não criticaram a ideia fundamental do ensaio, apenas responderam com outros textos marxistas. A elas só é possível acessar ideias econômicas a partir de Marx, mas a ideia central do texto era de Mises! Para elas o marxismo é como uma linguagem a partir da qual elas liam meus ensaios. Entretanto, o marxismo não é uma linguagem, é uma teoria. É impossível ler um conceito de um a partir de conceitos do outro. O resultado de tal tradução são bugs, mero erro 3*.

Ante o apontamento desta incompatibilidade entre as teorias, meu amigo (cuja inteligência sempre me impressiona) fez a consideração de que se ambas são completamente distintas ambas podem ser usadas. Oras, ele tem razão! Se são conceitos distintos que guardam relações lógicas distintas entre si, é possível acreditar em ambos sem incorrer em contradições. É possível acreditar tanto em astrologia (para investigar os traços de personalidade de alguém) como acreditar na astronomia (para investigar a localização de astros no espaço)! Caso a Astrologia usasse os traços de personalidade de alguém nascido em tal momento e lugar para descobrir a existência de astros, então haveriam dados empíricos comparáveis intersubjetivamente. Se assim fosse a astrologia seria considerada ciência (a partir da perspectiva de Popper), pois seria possível usar dados para recusar a teoria caso ela divergisse das observações. Caso duas teorias façam previsões divergentes é possível recusar uma ou outra com base na experiência. É o caso, por exemplo, da alquimia e da química.

Ambas as formas de conhecimento descrevem propriedades dos materiais e substâncias. Assim é fácil decidir por uma forma de conhecimento ou por outra, basta comparar o sucesso na manipulação das substâncias. Neste caso a química se saiu melhor e acabou negando a alquimia. Me repetindo: tal comparação é impossível entre a astrologia e a astronomia, pois o campo em que as previsões são possíveis não são incompatíveis um em relação ao outro (uma pessoa de libra ser indecisa não é incompatível com o sol ser o centro do sistema solar). E em relação às teorias de Marx e Mises, qual a relação entre elas? É possível o convívio de ambas as teorias (como no caso da astrologia e da astronomia) ou as teorias são incompatíveis (como é o caso da alquimia e da química)?

Antes de responder a esta questão preciso antes mostrar porque rejeito a indução. A indução consiste em entender que uma evidência observada (isto é, uma evidência “positiva”) é uma prova de que determinada teoria está correta. Popper mostrou que não há um número de observações a partir do qual a teoria pode ser considerada “comprovada”. Seu exemplo mais famoso (popularizado por Taleb) é o do cisne negro. Foram observados diversos cisnes (talvez milhões) na Europa, todos eles brancos. Caso uma observação provasse uma teoria então a teoria “todos os cisnes são brancos” estaria provada. Entretanto, na Austrália descobriu-se que existem cisnes negros. Assim bastou uma observação contrariando a teoria (do cisne negro) para que todas as milhares de outras observações (de cisnes brancos) se mostrassem inócuas para provar a teoria.

Além de Popper, outro filósofo que desenvolveu um argumento incrível contra a indução foi Nelson Goodman com o seu “enigma do verdul”. As esmeraldas que conhecemos são verdes. Entretanto, alguém poderia alegar que as esmeraldas são verduis. Mas o que é verdul? Verdul é tudo aquilo que é verde até o ano 3 mil, mas que após esta data se torna azul. Assim, se considerarmos que uma observação prova uma teoria (positivismo) teremos que aceitar que sempre que vemos uma esmeralda verdul temos uma prova de que todas as esmeraldas são verduis. É claro que é um absurdo defender que algo é verdul. O ponto de Nelson Goodman é exatamente este: através da indução se torna possível defender teorias estapafúrdias 4*. A propósito, qualquer teoria científica atualmente descartada já foi “confirmada” por muitas evidências. Sou libriano e um traço de libra é ser indeciso. Toda vez que tenho dúvidas estou “confirmando” a astrologia. Assim, encontrar um caso que “confirme” Marx ou que “confirme” Mises é irrelevante para a discussão.

Agora podemos voltamos à pergunta: Uma vez que é impossível usar uma evidência para confirmar uma teoria, a teoria de Marx e a de Mises são compatíveis (como é o caso da astrologia e da astronomia) ou são incompatíveis (como é o caso da alquimia e da química)? Seria possível investigar a lógica interna de cada teoria e mostrar que elas são mutuamente excludentes 5*. Mas isto implica apenas que uma teoria está errada aos olhos da outra. Entretanto, julgar uma teoria a partir da outra carrega consigo apenas uma informação: as teorias são incompatíveis (não diz se alguma delas deve ser aceita). Para entender como é impossível julgar uma teoria a partir da outra é ilustrativo pensar em uma tautologia.

Em uma tautologia ambos os lados de uma equação são verdadeiras. A partir das regras matemáticas que temos atualmente dois mais dois é igual a quatro. Da mesma maneira cinco é dois mais três. Tal avaliação ‘x + y = z’ só pode se dar a partir de regras que estão fora deste texto (a saber, as regras de aritmética). Imagine que ‘dois mais dois’ é o marxismo e que ‘cinco’ é a teoria de Mises. Se dissermos 2 + 2 = 5 percebemos que há um erro (é errado dizer que a teoria de Marx é igual à de Mises). Mas é impossível dizer, sem recorrer a elementos externos (e mais fundamentais à quem faz a escolho por alguma destas teorias) qual delas é uma teoria adequada (se é que alguma delas é).

Nos debates em que entro é usual alguém negar a teoria que eu defendo sem entrar no mérito do que eu disse. Digamos que em um debate eu defenda a teoria X. Rebater apenas dizendo “a teoria X está errada porque é inconsistente com a teoria T” e descrever algum caso em que a teoria Y ocorre (ou enviar um texto mostrando algum caso que ilustra a teoria Y) é mera petição de princípio. Dizer que ambas as teorias são incompatíveis não ajuda a decidir por alguma destas teorias. A resposta que eu gostaria (e é o esforço que faço ao escrever os ensaios) é o de mostrar que a tese que eu defendo é mais coerente a valores mais básicos para mim (e, espero, também para quem me lê). Ou mesmo gostaria de um esforço para mostrar que aquilo que defendo é falho (apontar alguma inconsistência interna à teoria ou alguma inconsistência entre a teoria e crenças mais básicas). Quando defendo a tese X apenas gritar com muita vontade e ficar repetindo que Y é ‘a’ Verdade e mostrar vários casos em que Y ocorra é vão. Me repetindo: dizer que Y é ‘a’ Verdade é mera petição de princípio. Mostrar casos que “confirmam” Y é cometer o erro da indução: é acreditar que eu ficar em dúvida confirmo a astrologia (pois sou de libra, um signo caracterizado pela indecisão).

Outra situação muito comum (especialmente no debate entre Marx e Mises) é a ofensa ao interlocutor: um lado atribui o posicionamento do outro à sua índole. Os defensores de Marx dizendo que o outro lado é egoísta e mesquinho. Os defensores de Mises dizendo que quem segue Marx quer apenas mais poder e mais privilégios a partir do Estado. Acho bizarro ter que mostrar que isto é incorreto, pois isto é uma falácia famosa (ad hominem). Mas em se considerando a frequência que a recebo gostaria de mostrar que ela está errada: para dizer “quem é contrário à tese Y é do mal” deve-se primeiro provar que a tese Y é a correta. Caso contrário também temos a petição de princípio (por que eu deveria acreditar na tese Y, em primeiro lugar???).

O que quero que fique claro é que a decisão por uma teoria se dá a partir de um arcabouço mais fundamental. Examinar uma teoria a partir da outra é eleger uma delas como mais fundamental que a outra. Mas por que a escolhemos como a mais fundamental? Só é possível eleger uma teoria como mais fundamental apelando para algo de fora de ambas as teorias.

A proposta de Popper sugere que usemos como critério a observação empírica para decidir por uma teoria ou por outra. Mas isto só seria possível se ambas as teorias fizessem previsões. Infelizmente nem sempre isto é possível, inclusive Mises é enfático em defender que qualquer previsão em relação a ação humana é impossível. Para Mises há tantas variáveis que é impossível isolar algumas a ponto de serem suficientes para uma previsão 5*. Uma vez que a arena empírica está indisponível para decidir entre teorias filosóficas, não há alternativa senão obedecer a valores mais básicos (a quem está ponderando a respeito das teorias) e externos às teorias em questão.

USANDO OS VALORES PARA DECIDIR POR UMA TEORIA

Há quem defenda que a teoria deve ser intrinsecamente ligada aos valores morais de uma pessoa. Assim a própria relação entre os conceitos (o que Popper chama de lógica da teoria) seriam decididas pelos valores do que consideramos moral e imoral. Recuso esta ideia, acho que os valores “moral x imoral” devem ser separados do “certo x errado”. Por exemplo, não escolho a aritmética por achá-la moral. É um valor meu para a escolha de uma teoria a distinção “certo x errado” de “moral x imoral” 7*. Outro critério que eu adoto para a escolha da teoria em que acredito é a sua clareza.

Entendo que a exigência da clareza seja particularmente difícil, pois a clareza é subjetiva. Daniel Kahneman inclusive aponta que aquilo que nos é mais familiar temos mais facilidade de entender e vemos como mais confiável, ao passo que aquilo que é diferente é mais difícil de entender, estranho e vemos com desconfiança e medo. Conceitos que são familiares, por serem mais fáceis de entender nos parecem mais claros. Já David Hume apontou que o hábito transmite a sensação de Real. Assim, aquelas conexões entre os conceitos com a qual estamos muito habituadas nos parecem necessárias (parecem ‘a’ Realidade). Além disso, a clareza depende da maneira que determinada teoria é apresentada (sendo que uma mesma teoria pode ser apresentada de uma maneira muito mais clara por uma pessoa particularmente didática).

De qualquer maneira entendo que existem alguns sintomas da falta de clareza: falta de consenso sobre seguidores de determinada teoria e necessidade da genealogia do conceito (dizer as fontes da teoria). Já a possibilidade de usar um conceito sem recorrer a quem o definiu por último (e de quem ele é seguidor), bem como a possibilidade de definir um conceito em poucas páginas são sintomas de clareza.

CONCLUSÃO

Escrevo teoria filosófica/econômica a partir da perspectiva de Mises, mas conversando com um amigo percebi que ele converte cada conceito para os termos de Marx. Da mesma maneira que ao ler um texto em língua estrangeira um principiante traduz cada frase para sua língua original meu amigo traduzia cada conceito do nosso debate para o arcabouço marxista. A tradução entre duas línguas às vezes acarreta imprecisões, mas em diversas circunstâncias é possível comunicar a ideia principal. Entre duas teorias, entretanto, isto é simplesmente impossível, imagine passar os conceitos da alquimia para a química: de acordo com a alquimia, cada substância é composto por elementos fundamentais (fogo, ar, terra e água), de acordo com a química cada elemento é composto por moléculas - traduzir uma pela outra gera erro, algo sem sentido! Uma vez que duas teorias são incompatíveis devemos optar por alguma delas (ou por recusar ambas).

Mas como fazer isto? Goodman (através do ‘enigma do verdul’) mostrou que através de evidências positivas é possível confirmar afirmações estapafúrdias. Portanto, descarto a indução (confirmação, evidências positivas) como um critério para a escolha da teoria. Mas como escolher por uma (ou por recusar ambas)?

Se julgarmos a química pelos olhos da alquimia decidimos que a química está errada. Se julgarmos a alquimia pelos olhos da química decidimos que a alquimia está errada. A saída para este impasse está em buscar algo fora da teoria. No caso de teorias científicas é possível apelar para a observação empírica para descartar a que se mostrar menos adequada - como sugeriu Popper.

Infelizmente este recurso (apelar para observação empírica) é impossível quando não se tratar de ciência, como é o caso de teorias filosóficas. Para tais casos é necessário apelar para valores mais básicos, a teoria que estiver em conformidade com tais valores é a escolhida. Um dos valores básicos que eu uso para orientar as minhas crenças é distinguir “moral x imoral” de “certo x errado” em uma teoria. Uma teoria econômica, química ou matemática podem servir de base para considerações éticas/morais, não o contrário.

Como decidir por uma teoria nos casos em que é impossível usar a observação empírica para resolver a disputa? Chamo a atenção para a impossibilidade de avaliar uma teoria a partir da outra (pois neste caso o que se dá é a falácia chamada petição de princípio). Por que avaliar a teoria X a partir de Y e não o contrário? É necessário usar algo que está fora da teoria para decidir por alguma delas. Este ‘algo’ são os valores internos e mais básicos que a própria pessoa (que está decidindo pela teoria) possui. Defendo que dentre estes valores esteja a clareza e a simplicidade da teoria.

Termino este ensaio com um pedido, mesmo sabendo que é um pedido extremamente custoso: caso você discorde do meu posicionamento em algum dos meus ensaios, por favor, faça o esforço de tentar refutar as ideias contidas no ensaio através de suas próprias palavras, se possível por escrito em um texto - embora o envio de textos com visões alternativas continuem sendo bem vindos!

OBSERVAÇÕES:

1* Douglas Hofstadter no livro ‘Godel, Escher, Bach: An Eternal Golden Braid’ tem como metáfora conceitos como cidades dentro do cérebro. É possível acessar um conceito a partir de caminhos extremamente diferentes. Mas na qual as “cidades” (isto é, os conceitos) são definidos pelas ligações que fazem com outros conceitos. Minha interpretação da metáfora de Hofstadter é que, uma vez que os símbolos são definidos por suas conexões, eles não são completos, os símbolos não são suficientes em si mesmos!

Trazendo o argumento da regressão ao infinito: para conhecer um símbolo precisamos conhecer todas as suas conexões com outros símbolos, entretanto para conhecer tais símbolos precisamos conhecer outros símbolos. Assim até o infinito. A não ser que definamos os símbolos exclusivamente a partir deles (o que leva à falácia da da definição circular). Se podemos ter algo como conclusão de si mesmo podemos concluir qualquer coisa a partir de qualquer coisa. Se podemos definir algo em função dele mesmo temos uma tautologia.

2* Popper se referia às relações entre os conceitos de uma teoria como sua ‘lógica interna’.

3* A definição de conceitos de um a partir dos conceitos do outro só é possível para a DESCONSTRUÇÃO de uma das duas teorias (uma vez que os conceitos são definidos em termos completamente diferentes).

4* Uma vez que é impossível defender o positivismo, eu aceito a proposta de Popper como critério para escolher uma teoria. Entretanto o critério de Popper só é possível em casos em que a experiência pode ser usada para decidir por alguma teoria. Para os outros casos defendo usar o critério de Popper tanto quanto possível: elaborar teorias claras com conexões lógicas transparentes de maneira que sejam criticáveis (senão com o uso da experiência, ao menos com o senso crítico).

5* Mises foi incansável em mostrar que a teoria marxisa é incompatível com a sua própria teoria - textos que me levaram à minha recusa de qualquer conceito marxista.

6* Embora a percepção de Mises de que é impossível a previsão, é uma resposta que não me satisfaz. Entendo que algumas variáveis são tão importantes a ponto de em uma amostra grande ser possível sua observação. Por exemplo, creio que o aumento da quantidade de moeda (impressão monetária, multiplicador bancário e artifícios afins) influenciam causando o aumento de preços. Concordo que diversas variáveis influenciam, por exemplo, o aumento de produtividade pode ser maior do que a impressão de dinheiro (e acabe a superando). Entretanto, entendo que pegando uma grande amostra de países em que ocorreu uma grande impressão de dinheiro veremos aumentos de preços (seja de arroz, de carne, seja de limusine ou do preço das ações). Este é um tema para um ensaio futuro, mas para quem conhece a praxeologia sabe que esta é uma divergência séria.

7* O que já me rendeu diversas acusações de que eu seria “liberal” e outras ofensas. Não me identifico com nenhuma orientação política pois eu criei a minha, o simplismo. Mas o simplismo é extremamente baseado em ideias liberais (como a de Mises). Portanto aceito ser chamado de liberal, mas a altura dos gritos mostrava que o “liberal” era um xingamento. Assim sou obrigado a esclarecer: acho considerações éticas importantíssimas para o debate público. Só entendo que a teoria ética deve ser separada da teoria econômica (da mesma maneira que é separada da aritmética).

Chico Acioli Gollo
Enviado por Chico Acioli Gollo em 21/11/2021
Código do texto: T7390464
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