Emprego e educação

Emprego e educação

Ter emprego é um tema bastante presente, às vezes angustiante, na vida de grande parte da sociedade, principalmente de jovens universitários, pois estão entrando no mercado de trabalho e têm muitos sonhos a realizar. Porém, não é incomum que enfrentem desafios e frustrações, uma vez que o mercado de trabalho exige muito mais do que uma formação técnica especializada.

O perfil do profissional sofre alterações constantes. Os requisitos necessários se avolumam, porém é certo que o profissional de hoje, além ter conhecimento técnico específico, deve também ter habilidades em outras áreas do conhecimento humano.

Os empregados de hoje não são como os de antigamente que se limitavam às tarefas repetitivas na linha de produção. Hoje eles precisam ter visão de futuro, criatividade, versatilidade, compreensão e resistência às frustrações para viver com qualidade na sociedade pós-industrial.

Deseja-se que seja um profissional dinâmico, que saiba trabalhar em equipe, ético, solidário, que saiba ouvir, expressar-se, compartilhar ideias, entre outras coisas.

Assim, as instituições responsáveis pela formação de profissionais não podem ignorar as exigências da sociedade e precisam repensar sua prática pedagógica, considerando que a incidência de desemprego crescente no mundo todo é realidade.

O desenvolvimento tecnológico trouxe grandes mudanças, aumentando a produtividade, diminuindo a necessidade de mão-de-obra e gerando novos comportamentos no mundo.

Sobre os novos comportamentos, Reale observa:

Ora, essa celeridade na mudança das estruturas para propiciar mais retributivas programações, quando transposta para o plano macroeconômico, onde a febre do lucro predomina, já provocou na grande maioria dos países, tremendo desempregos, visto como a aquisição de um mecanismo de prodigiosa auto produtividade tem, como consequência a supressão de dezenas ou centenas de postos de trabalho. Surge assim, uma nova e inesperada forma a de ‘capitalismo selvagem’ ao qual não é descartado apenas um utensílio, mas um ser humano. (REALE, 2000 apud EVILASIO, 2000)

É fato que a revolução tecnológica está mudando a mentalidade das gerações para as quais só tem valor o que é novo, surpreendente, mensurado em cifrões, e que a dimensão humana tem sido desconsiderada.

Segundo o professor Milton Santos, essa corrida para o lucro, tecnicidade e organização maiores e mais adequados gerarão sempre desemprego porque o foco do cuidado não é o homem, mas sim o dinheiro.

Desse modo, todos querem trabalhar porque quem trabalha tem dinheiro e, consequentemente, é mais valorizado, satisfazendo a vaidosa máquina do mundo capitalista.

Em contrapartida, estar empregado tem se tornado, cada vez mais, uma tarefa árdua, pois além da automatização das atividades de produção, há vários fatores que contribuem, tais como: o aumento da população do planeta, o êxodo rural, a inclusão de mulheres e portadores de necessidades especiais no mercado de trabalho e o aumento da escolaridade.

Segundo Roberto Gonzalez (2010), técnico em Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), “a combinação de aumento da escolaridade com o mercado favorável faz com que haja crescimento da presença de pessoas com maior grau de instrução tanto ocupadas como procurando emprego, o que as define tecnicamente como desempregadas.”

Dados do IBGE (2010) mostram que entre a população desocupada de 1,480 milhão pessoas, em setembro de 2010, 828 mil, aproximadamente 56%, eram pessoas com 11 anos ou mais de escolaridade.

Entre as pessoas com menos de oito anos de instrução os números das estatísticas apontam em sentido contrário. Houve grande redução do desemprego, provavelmente porque o perfil do trabalhador é menos exigente.

Assim, associar maior escolaridade com garantia de emprego não é uma afirmação totalmente válida, endossando a premissa de Pedro Demo, título deste texto.

Apresenta-se então um desafio a ser enfrentado pelas instituições de ensino superior: proporcionar meios de pesquisa e atuação eficientes, pois é evidente que não basta apenas conhecimento formal, instrucional, é preciso colocar os alunos em situações de convívio com os desafios reais da profissão, lidar com pessoas diferentes, com a concorrência, com a possibilidade de se estabelecer ou não no mercado e ainda saber lidar com a frustração do insucesso.

Ao educador acrescenta-se a necessidade da flexibilidade e a visão interdisciplinar do saber.

Deste modo, a universidade deve também pautar seu currículo na interdisciplinaridade, pois não se pode separar as dimensões ética, política e técnica na educação, pois educa-se o homem na sua totalidade.

Assim a avaliação da aprendizagem precisa passar da condição de instrumento de punição, de reprovação, de prova de incompetência, para a condição de instrumento norteador do trabalho docente, através do qual o professor poderá replanejar seu trabalho e orientar seus alunos para sanarem as dificuldades, desenvolvendo suas habilidades e competências.

A avaliação norteadora ajudará a desenvolver habilidades para o enfrentamento dos desafios do mercado de trabalho, desenvolver a ética e a capacidade de atuar responsavelmente na sociedade.

Fica evidente que o professor precisa de atualização constante, aprimorando-se para uma educação contextualizada e globalizada, desenvolvendo seu senso crítico, repensando o papel da educação na sociedade e as necessidades de mudanças.

Esse repensar a educação e a sua prática (desconstruir, construir e reconstruir) deve ter seu espaço consagrado na universidade, que não pode isentar-se dessa responsabilidade, uma vez que é formadora de educadores e de grande parte da mão- de-obra.

Ao contrário do que muito se pregou, ter diploma universitário não garante vaga de emprego. É apenas um dos requisitos para a empregabilidade. Também sabemos que não há emprego para todos, então cabe cada vez mais uma educação voltada para a totalidade humana, uma educação universal, holística onde aprender estará desvinculado do status quo capitalista e passará a significar descobrir a vida em sua plenitude e viver bem, igualitariamente, na prática da solidariedade para o bem comum.

Deste modo, educação e desenvolvimento não é uma relação impossível, mas pensada e desejada com certa dose de utopia, aquela que nos faz ficar com vontade de realizar, que faz a gente agir em busca de um ideal.

Referência Bibliográfica.

ABBAGAGNO. Nicola. Dicionário de Filosofia. Martins Fontes: São Paulo, 2007.

ALTHUSSER. Louis. Ideología y aparatos ideológicos de Estado, Freud y Lacan. Disponível em www.philosophia.cl / Escuela de Filosofía Universidad ARCIS. Acesso em 15 de março de 2010.

EVILASIO, Regina Roppa. O tempo livre e as novas formas de trabalho no século XXI. Monografia de conclusão de curso. FATEC: Guaratinguetá, 2000.

IBGE - www.ibge.gov.br - acesso em 15/08/2010.