O Banquete Niilista

Em seu prefácio à sua Introdução à Filosofia Moderna, Roger Scruton, traça um retrato um tanto sombrio acerca dos rumos da filosofia contemporânea, aventando inclusive, a hipótese de que, por mais que evolua, existem questões que a Filosofia dificilmente resolverá como a insólita indagação, que há muito tem sido proposta aos estudiosos do assunto: O que é, realmente, a Filosofia? Mesmo tendo a consciência de que o velho Heidegger, em algumas de suas conferências de título homônimo, tentou resolver o intrincado problema, este ainda é um dos maiores calcanhares de Aquiles da História do Pensamento.

Olhando por este lado, tendo por base o panorama de quase niilismo que Roger Scruton nos expõe ao falar do ponto a que a Filosofia chegou, este é o momento de se por 5ª Sinfonia de Beethoven para rodar e ao som dela reler-se O Eterno Retorno de Frederich Nietzsche. Isto porque ao se descobrir algo novo no terreno do pensamento, percebe-se, embasbacado, que esta descoberta já foi cogitada por algum pré-socrático ou mesmo por Aristóteles. E aqui vêm algumas indagações ainda mais perturbadoras, e as quais, talvez, nem sequer passaram pela mente dos pensadores contemporâneos: Por que achar que se pode chegar à verdade através do pensamento?O que é o pensamento? Qual sua medida, sua dimensão exata, sua textura para que o usemos como método infalível na comprovação da verdade?O que distingue um pensamento de outro, posto que, os dois têm sua raiz na mesma fonte, ou seja, a mente? O que nos garante que se pode confiar na mente sendo ela tão contraditória ao ponto de gerar pensamentos bons e maus ao mesmo tempo?! E o que comprova que a mente está pensando corretamente ou incorretamente? O que é um pensamento correto? Quem garante que todos os sofisticados raciocínios dos pensadores são verdadeiros, visto que muitos deles, só existem no terreno metafísico e somente neste terreno encontram suas provas, ou seja, longe, muito longe, de qualquer realidade imediata?! E mais ainda, não seria o pensamento humano somente uma função orgânica, como a respiração ou a audição, visto que todo ser humano, correta ou incorretamente, pensa? E mais esta: todos os pensamentos são oriundos de um órgão anatômico, no caso o cérebro - que nada mais é que um simples músculo - que por inúmeros motivos pode conter deformações, algumas até mínimas, quase imperceptíveis, mas que, no entanto interferem em seu funcionamento, pois bem, o que garante que este ou aquele pensador está correto, visto que, para que um deles estivesse, realmente com a verdade, mister seria que seu cérebro estivesse em perfeito funcionamento e como provar isto?! Justo sendo o setor cerebral um ramo no qual a medicina ainda engatinha?! Será que não seria possível descobrir a verdade, sem que para esta descoberta, necessariamente entrasse a atividade cerebral?

Diante deste pavoroso espetáculo de ceticismo a que o pensamento ocidental aportou, houve quem afirmasse que para que o homem descobrisse a verdade seria conveniente que o mesmo parasse de pensar. Demócrito de Abdera, famoso filósofo pré-socrático, convencido de que jamais se atingiria a verdade através do pensamento, pois este nada mais era que o fruto de todas as sensações que se adquire através dos órgãos dos sentidos, vasou os próprios olhos, para que não fosse mais exposto ao engano das impressões exteriores.

Mediante a constatação da falibilidade da mente humana é chegada a hora de se começar a rever todos os valores éticos, morais, religiosos e políticos, porque, quer queiram; quer não, estes valores, direta ou indiretamente descendem, todos, do pensamento.

Fortim-Ce., 13 de setembro de 2007.

André Breton