Desprezai a Mitologia!

Tales de Mileto e Anaximandro, só para evidenciar o fluxo e refluxo da Filosofia, em suas concepções já antecipavam o panteísmo moderno de Baruch de Espinosa* ao salientar que a natureza estava povoada de deuses, posto que a própria physis, afirmavam, é manifestação divina.

Saliente-se, outrossim, que Anaximandro ao formular a idéia do Ápeiron precedeu, assim, o surgimento da elucubração monoteísta da divindade, a qual marcaria profundamente a civilização hebraica, contemporânea do povo grego.

Outro fato a ser observado é o de tanto o filósofo grego como o pensador oriental Lao Tsé terem alcançado a mesma explicação para o princípio das coisas, sendo que aquele denominou-o de Ápeiron e este de Inominável, sendo que estas conclusões ocorreram de maneira independente.

Vale ressaltar ainda que no entender de Anaximandro o processo de criação de todas as coisas dá-se através de um processo de separação ou um destacamento dos contrários (quente-frio, seco-úmido) do princípio uno, segundo uma razão intelectual, ou movimento eterno, gerado, talvez, pela tendência dos contrários de se impor um ao outro, ao passo, que na corrente monoteísta oriental, o uno, ou seja, Deus teria criado o universo por um ato deliberado de sua vontade e fazendo-o surgir do nada.

Tomando como perspectiva o pensamento anaximândrico conclui-se que a relação entre a Filosofia e o Mito é unilateral, ou seja, de sistemas filosóficos podem resultar tradições míticas como a que se aventou logo acima sobre o surgimento do judaísmo, entretanto, dificilmente, de mitos originar-se-ão verdades filosóficas, posto que um dos pressupostos da postura filosófica é exatamente o desprezo pela mitologia.

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*Baruch de Espinosa (1632-1677), filósofo holandês, explanador do panteísmo moderno. A Ética demonstrada segundo o método geométrico (1677) é sua obra principal.

Fortim - Ce, 14 de setembro de 2007.

André Breton

9h48mim