Escrever um PROCESSO de autonomia

Escrever nunca foi tarefa fácil e Neruda que nos perdoe, mas o que vem entre a letra maiúscula e o ponto final é que é difícil. As ideias são parte do que somos, mas colocá-las no papel para que outros compreendam, é que são elas... Isso apenas reforça o que Guimarães Rosa já apontou sobre o processo de escrita_é dificultoso_ e nessa árdua tarefa ainda há de se agradar ao leitor. Esse, portanto pode ser o maior medo de quem escreve, já que não basta usar temos ou palavras bonitas, formais e cultas que enfeitam o texto, pois o que vale mesmo é o conteúdo, e esse, aqui entre nós, não se acha por aí, pelo contrário é uma bagagem que vamos juntando ao longo dos anos e, quando menos esperamos, está bem pesada, porém nunca o suficiente...

A bagagem vai ganhando peso no cotidiano, principalmente do estudante, que mesmo sem perceber tem no contato com as pequenas leituras e escritas, provando que é o papel da escola, apresentar, partilhar e aprimorar o vocabulário, mas em nenhum momento condicionar o aprendiz a usos gráficos ou verbais que lhes são totalmente desconhecidos. O que se faz é relacionar e proporcionar ao estudante, em plena consciência, que se aposse com categoria e consciência, para que possa ser um crítico de sua produção. É por isso que o estudo da língua materna, aos poucos vai incorporando, em fases distintas, novos vocábulos, pois só assim conseguem absorver o significado e o real uso no cotidiano, para que não desenvolvam textos equivocados.

Um dos grandes impasses na atualidade é a possibilidade de que, com o livre acesso aos veículos de comunicação, essa tarefa da escola ficasse sem muita relevância, mas pelo lado positivo, constata-se que tornou-se ainda mais completa, pois nossos estudantes têm hoje uma gama de possibilidades que nós, pais e professores, não tivemos. Podendo assim, fazer o uso de um vocabulário muito mais completo, diversificado e rico, no momento das construções textuais. E é nos anos finais do Ensino Fundamental que mais observamos, porque numa posição privilegiada, deparamo-nos com as mais variadas construções de nossos estudantes, visto que ao longo de anos eles foram aprimorando seu repertório autoral e significativo.

A tarefa para estudantes de Ensino Fundamental, anos finais, em encontrar a palavra certa, para dizer o que se deseja, e o que é necessário nessa fase é bastante complexa, se considerarmos que devem estar atentos às normas da língua e às tantas regras impostas que, muitas vezes, funcionam como anestesia nesse processo de criação, levando-os a se sentirem incapazes, até mesmo de lerem o que escrevem. O papel do professor, nesse contexto, passa longe de ser o de mero regulador, agora é hora de ouvir, ser parceiro, estar atento, afinal nesse momento estão ali seres a construir seus EUs e, nesse sentido, ao constatar que os múltiplos processos de leitura que fazemos do mundo auxiliam a constituirmo-nos como autores, a leitura crítica, ao mesmo tempo, funciona como um método de autodescoberta e um meio para o desenvolvimento da autonomia.

Não é fácil, pois muitos já creditam ter a bagagem suficiente e serem autorais. Como auxiliar sem ser invasivo, deixando prevalecer a autoria? Para responder a essa pergunta, basta que nos situemos em nosso papel de apoio, para gerar confiança e segurança e as novas construções irão surgindo como mágica, numa verdadeira salada colorida, podendo ou não agradar o leitor, mas terá coesão e coerência.