CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(17) Desafios e possibilidades da igualdade de gênero na fé evangélica

O tema da obediência feminina e da condenação do adultério é frequentemente abordado nas igrejas evangélicas, com base em interpretações bíblicas. No entanto, é fundamental analisar esse tema sob uma perspectiva crítica e atualizada, levando em conta os princípios de igualdade de gênero, autonomia e liberdade espiritual. Neste ensaio, pretende-se discutir como esses princípios podem ser conciliados com a moralidade e a ética cristãs.

Em primeiro lugar, é necessário destacar que qualquer forma de submissão cega e opressão de gênero é contrária aos princípios da igualdade e dos direitos humanos. A ideia de que as mulheres têm até três protetores e devem obedecer cegamente a eles perpetua um padrão de desigualdade de gênero que a sociedade moderna repudia. O respeito mútuo e a autonomia são valores fundamentais que não podem ser ignorados. A Bíblia afirma que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança (Gênesis 1:27), e que ambos são herdeiros da graça divina (Gálatas 3:28). Portanto, não há justificativa para a discriminação ou a dominação de um gênero sobre o outro. Como disse Simone de Beauvoir, "querer ser livre é também querer livres os outros".

Além disso, a condenação do adultério deve ser contextualizada de forma apropriada ao século atual. Embora a fidelidade conjugal seja valorizada em muitas culturas, a ênfase exagerada na virgindade e a ideia de que as mulheres são as únicas responsáveis por manter essa virtude perpetuam estereótipos prejudiciais. A fidelidade no casamento deve ser um compromisso mútuo, não um fardo imposto apenas às mulheres. A Bíblia condena o adultério tanto para o homem quanto para a mulher (Êxodo 20:14), e reconhece que ambos são tentados pela lascívia (Mateus 5:28). Portanto, não há razão para uma moral dupla ou uma culpabilização excessiva das mulheres. Como disse Nelson Mandela, "liberdade parcial não é liberdade".

Por fim, é importante lembrar que as relações espirituais também evoluíram ao longo do tempo. A comparação do afastamento de amar a Deus com o adultério pode ser vista como excessivamente punitiva e limitada. A espiritualidade é uma jornada individual e pessoal, e não deve ser imposta de maneira coercitiva. A Bíblia ensina que Deus é amor (1 João 4:8), e que ele deseja um relacionamento íntimo e sincero com seus filhos (Jeremias 31:3). Portanto, não há espaço para o medo ou a coação na fé cristã. Como disse Immanuel Kant, "você é livre no momento em que não busca fora de si mesmo alguém para resolver os seus problemas".

Em resumo, enquanto a interpretação tradicional do texto bíblico enfatiza valores como obediência e fidelidade, é fundamental reconsiderar esses conceitos à luz dos princípios de igualdade de gênero, autonomia e liberdade espiritual. O entendimento da moralidade e da ética deve evoluir para refletir as complexidades da sociedade contemporânea e o respeito pelas escolhas individuais.