CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(19) “A Criação Divina e o Big Bang: Uma Coexistência Possível”

A origem do universo é um tema que desperta o interesse e a curiosidade de muitas pessoas, mas também gera controvérsias e conflitos entre diferentes visões de mundo. A religião e a ciência são duas formas de abordar essa questão, mas muitas vezes são vistas como opostas e incompatíveis. Neste ensaio, pretendo mostrar que é possível conciliar a crença na criação divina com o conhecimento científico sobre o Big Bang e a evolução, sem negar nem desprezar nenhuma das duas perspectivas.

A religião é uma forma de expressar a fé e a espiritualidade humana, buscando um sentido para a existência e uma relação com o transcendente. A Bíblia é o livro sagrado dos cristãos, que contém relatos sobre a criação do universo por Deus. Segundo Gênesis 1:1, "No princípio criou Deus os céus e a terra". Segundo Hebreus 11:3, "Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente". Essas passagens revelam a crença na origem sobrenatural do universo, que depende da vontade e do poder de Deus.

A ciência é uma forma de investigar os fenômenos naturais, usando métodos sistemáticos e evidências empíricas. A ciência oferece uma explicação racional e verificável sobre o Big Bang e a evolução. O Big Bang é a teoria que descreve o início do universo como uma grande explosão há cerca de 13,8 bilhões de anos. A evolução é a teoria que explica a diversidade e a adaptação dos seres vivos através da seleção natural e da mutação genética. Essas teorias se baseiam em observações astronômicas, fósseis, experimentos e cálculos matemáticos.

Muitos religiosos rejeitam as teorias científicas sobre o Big Bang e a evolução, considerando-as como "alucinações ridículas" que contradizem a revelação divina. No entanto, essa atitude é fruto de um mal-entendido sobre a natureza e o propósito da ciência e da religião. Como disse o filósofo francês Blaise Pascal, "A fé é diferente da prova; uma é humana, a outra é um dom de Deus" (Pensées). A ciência não pode provar nem refutar a existência de Deus, pois isso está além do seu alcance. A religião não pode impor nem negar os fatos científicos, pois isso seria irracional.

É possível harmonizar a crença na criação divina com o conhecimento científico sobre o Big Bang e a evolução, reconhecendo que ambos têm valor e validade em seus respectivos domínios. Como disse o teólogo católico Hans Küng, "Não há contradição entre uma interpretação correta da Bíblia e uma interpretação correta da natureza" (O começo de todas as coisas). Deus pode ser visto como a causa primeira e o fim último do universo, sem interferir nos processos naturais que Ele mesmo criou. A ciência pode ser vista como uma forma de descobrir as leis e os mecanismos que regem o universo, sem negar o sentido e o valor da vida.

Em conclusão, não há necessidade de escolher entre religião e ciência quando se trata da origem do universo. Ambas podem contribuir para um entendimento mais amplo e profundo da realidade, desde que se respeitem e se complementem. Em vez de rejeitar as teorias científicas como "alucinações ridículas", é mais produtivo abraçar o diálogo entre ciência e religião. Como disse o sábio Provérbio 4:7, "O princípio da sabedoria é: Adquire a sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o entendimento". O verdadeiro entendimento começa com a consideração e a abertura para novos conhecimentos.