O Muro Imaginário (mas real)

Ele queria ser revolucionário. Um rebelde sem causa (talvez até mesmo com causa, desde que fosse um rebelde). Olhava os muros e queria transpor, saber o que havia do outro lado, na rua. Um dia ele cresceu e enfim conheceu a rua. Logo se acostumou com seus encantos, medos e perigos e, então, quis conhecer além.

Dobrou a esquina e viu uma nova rua, com os mesmos encantos, mesmos medos, mesmos perigos (e os mesmos desafios). Então decidiu subir. Primeiro subiu em árvores, depois escadas, torres e montanhas. Até que voou! Voou muito alto até não ver mais muros. Se encantou com a vista, até que se acostumou outra vez.

Novamente os mesmos encantos, mesmos medos, mesmos perigos, mesmos desafios (e a mesma mesmice). Quando aterrissou se sentiu prisioneiro. Um prisioneiro sem grades, muros ou correntes. Queria fugir dali. Estava rodeado de pessoas, mas no fundo estava só.

Criou então um universo paralelo, dobrou a esquina e viu uma nova rua. Nessa rua fez amizade com um amigo imaginário. Novos encantos, novos medos, novos perigos, novos desafios, nova mesmice (e uma nova insanidade). Então decidiu descer. Primeiro desceu das árvores, depois pelas escadas, porões e calabouços. Até que se aprisionou (fisicamente dessa vez).

Desceu tanto que começou a ver novos muros. Muros mentais (mas não imaginários) de seu mundo imaginário (mas que era real). Enfim parecia ter encontrado um muro que valia a pena transpor. Dessa vez ele não estava do lado de dentro, estava do lado de fora e, para se sentir livre, ele queria entrar.

2º JJ 7:9