O apolineo e o dionisíaco da existência

Friedrich Nietzsche, ao ser abordado por Oliveira (2022), consta uma das célebres frases do filósofo de que: “precisamos da arte para não morrer de verdade” – o que vai de encontro da concepção de Friedrich de que o ser humano precisou e precisa inventar conceitos, regras e concepções para satisfação racional e lógica humana, no sentido de conceber significação a tudo, pois o ser humano em si não suportaria de que a existência fosse produto do ocaso infinito do cosmo e da realidade.

Diante disso, Nietzsche era muito niilista (visão de que não há sentido do ser humano no mundo) e pessimista, na sua visão crítica trágica, e por isso, ele vê na arte um alívio do ser humano diante da racionalidade científica e filosófica. O campo da arte leva o ser humano a apreciar e admirar a beleza da natureza, das formas e do que o ser humano considera belo, o que é uma forma de transcender o trágico e o horror do mundo, podendo proporcionar ilusão e aparência neste sentido,se não for bem refletido.

Nietzsche ao refletir sobre a tragédia grega, remete ao deus grego Dionísio, o deus da vida de forma mais crua, ou seja, da morte, da dissolução e da desmedida, e que se representa por emoções primitivas como ira, violência, selvageria e impulso, o que torna o princípio da individuação do ser humano como horror da existência, principalmente, quando se depara com leis morais, Estado, família e controle social, o que demonstra o lado sombrio da existência. Para Nietzsche, tais instituições humanas deveriam ser abolidas para proporcionar a liberdade ao ser humano da forma e maneira como ele é. Assim, o arquétipo dionisíaco se caracteriza como a dor, o absurdo, o horror e a crueldade da vida.

Já, o deus grego Apolo representa o deus da luz, da medida e da razão, o que o coloca na posição da beleza e da harmonia, como algo ideal do ser humano. Assim, o arquétipo apolíneo representa a civilização e a harmonia na convivência dos seres humanos, através que se concebe e vive na busca da realização dos sonhos dos seres humanos, o que o coloca na trama da existência humana na dimensão onírica no acaso.

Diante destes arquétipos, dionisíaco e apolíneo, que se contrapõem e se chocam, o que provoca a tragédia da existência humana, a arte se coloca como uma ilusão, ou seja, como véu da beleza do sonho aterrador, no sentido de contrabalançar a medida e a desmedida da vida.

Assim, Nietzsche exemplifica o caso do mito de Édipo, o qual se apaixona pela beleza da mãe, sem saber que é sua genitora, e quando descobre a verdade que a desposa após matar o marido dela (que é seu pai), a personagem fica traumatizada e se cega por seus feitos irremediáveis.

Nesta tensão das dimensões apolínea e dionisíaca, conforme Machado (2006), Nietzsche coloca que a visão apolínea é uma exigência da vida de forma razoável, no sentido de que a vida deve ser uma busca da harmonia, da beleza e do ideal, mas ao mesmo tempo a vida, na perspectiva dionisíaca, é breve, ou seja, dolorida, sofrida e com a certeza da morte, e que diante desta tragédia paradoxal, torna a tragédia então bela como verdade insuportável, logo, metafísica.

Se for superar o pessimismo, a afirmação mais profunda da vida e da existência é saber alcançar a verdade trágica e metafísica para poder contemplar e viver a vida de forma plena, sabendo compreender as duas dimensões da medida e desmedida da própria existência.

REFERÊNCIAS

MACHADO, Roberto. O nascimento do trágico: de Schiller a Nietzsche. São Paulo: Zahar, 2006.

NIETZSCHE, F. W. O nascimento da tragédia, ou, Helenismo e pessimismo. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.

OLIVEIRA, Richard Romeiro. Estética. Unidade V. Storyboard. Curso de Graduação de Licenciatura de Filosofia. São João Del Rei: UFSJ, 2022.

Lúcio Rangel Ortiz
Enviado por Lúcio Rangel Ortiz em 12/05/2024
Código do texto: T8061219
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