"Em Contos da Net"
Ensaio - Crítica sobre o Livro
O Chamado
Na rua escura, o velho poeta(lume de minha mocidade) já não criava, simples criatura exposta aos ventos da cidade.
Ao vê-lo curvo e desgarrado na caótica noite urbana, o que senti, não alegria, era, talvez, carência humana.
E pergunto ao poeta, pergunto-lhe (numa esperança que não digo) para onde vai - a que angra serena, a que Pasárgada, a que abrigo?
A palavra oscila no espaço um momento.
Eis que, sibilino, entre as aparências sem rumo, responde o poeta: Ao meu destino.
E foi-se para onde a intuição, o amor, o risco desejadoo chamavam, sem que ninguém pressentisse, em torno, o Chamado.
- Carlos Drummond de Andrade(Claro Enigma)
Inicio a análise dos contos do escritor José Elias com um poema de Drummond que além de poeta foi um escritor comprometido com o espaço e os aspectos sociais de seu tempo.
O mesmo que contemporaneamente José Elias ousa a fazer e o faz tão bem, de conto em conto, compenetrou-se nas vidas de seus personagens e os fez filosofar sobre suas existências e experiências.
Mesclados alternadamente de cada uma destas nuanças temáticas, os contos de José Elias emergem carregados de desejos, paixões e entregas em que o jogar com as palavras narradas vem legitimar a maestria de seu criador.
O eu do autor por vezes debate-se regularmente, com a personalidade de seus personagens ocasionando e desnudando sua alma em muitos de seus escritos.
O escritor apresenta cenários muito bem delineados, levando ao leitor e a leitora uma inquietude pessoal, e profunda, pois o sentimento individual de culpa de encontros e desencontros pela vida amorosa servem de consolo e até mesmo uma certa justificativa pela tecnologia tão avançada que ajuda e em parte desequilibra.
O adultério ao contrário do que se pensa nas histórias pela Internet não aparece nos contos do escritor como algo natural, que a meu ver, quer fugir deste tema e trazer um outro sentido aos encontros e desencontros pela Net. No novo testamento, para Deus, devemos resistir as paixões impróprias e mantermos a nossa dignidade moral. S. Tiago (4,4)
A leitura dos contos é nesse sentido, a recuperação do desejo da união.
Temos, portanto, nesse conjunto de contos de José Elias, um bom exemplo de encontros amorosos, procura da cara metade, desafios de comportamentos e regras pré-estabelecidas que passo então a filosofar: O filósofo grego Platão foi o primeiro a escrever sobre o erotismo em "O Banquete" que conta o seguinte: Antes do surgimento de Eros, a humanidade se compunha de três seres, o masculino, o feminino, e o Andrógino, estes eram seres redondos e possuíam quatro mãos, quatro pernas, duas faces, dois genitais, quatro orelhas e uma cabeça. Esses seres tornaram-se muito fortes e resolveram desafiar os deuses e foram castigados por Zeus, que decidiu cortá-los em duas partes.
Após essa divisão, os novos seres mutilados e incompletos, passaram a procurar suas metades correspondentes. Daí originou Eros, o impulso para recompor a antiga natureza e restaurar a antiga perfeição. E nos tempos atuais, originou-se
a INTERNET, talvez um caminho na ajuda a Eros.
Naturalmente que José Elias ao pensar escrever seus contos agora em época contemporânea intensifica valores e grupos sociais em suas particularidades, especificando temáticas, e ainda caracterizando seus contos em uma cultura diferente da que está inserida no contexto amplo de amor e carência humana.
No limite mais extremo desses contos, que funcionou como uma espécie de crítica na pura aceitação da realidade; cada um em sua reflexiva leitura poderá ter a resposta, inclusive, para os vários tipos de relacionamentos citados; e parafraseando Drummond que parafrasea Bandeira (...) para onde vai - a que angra serena, a que Pasárgada, a que abrigo?"... irá cada relacionamento?
E aí eu vos respondo: A Pasárgada para cada um está dentro de si, meu caro leitor!
Fontes:
ANDRADE, Carlos Drummond. Claro Enigma
CÂNDIDO, Antônio. Vários Escritos.
HISTÓRIA DA FILOSOFIA: Os Pensadores
SAGRADA, Bíblia. Novo Testamento
Profª Cláudia V.R. Lima
Disciplina: Português e Literatura.
Poetisa.
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