PESQUISA: "MOTIVAÇÃO PARA O USO DAS DROGAS"

PESQUISA SOBRE MOTIVAÇÃO PARA O USO DAS DROGAS

(Atualizada em 10/06/2009

Dr. Márcio Funghi de Salles Barbosa (*)

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa foi realizada com o intuito de complementar as informações obtidas na pesquisa realizada (01 a 04 de abril de 1997) em parceria com o COMEN-Araras. Este levantamento foi feito de 01 a 04 de abril de 1997, com 12.053 resultados válidos, pesquisados em 04 dias - o maior resultado obtido de pesquisa neste curto espaço de tempo, que temos notícia. Entretanto faltava a esta pesquisa um aprofundamento sobre a pergunta: "O que leva às pessoas ao uso das drogas.

Aí surgiu esta nova pesquisa.

Perguntas escritas foram apresentadas a usuários de drogas em processo de orientação/tratamento, em diversos pontos do Estado de São Paulo, a maior parte em cidades vizinhas a Araras.

As perguntas foram apresentadas após serem ministradas palestras, com o título “Sexo com Felicidade”, que tem como finalidade abordar também os malefícios causados pelo uso das drogas e pelo descuido na preservação da AIDS, sem que estes dois objetivos fossem anunciados previamente.

Tal estratégia foi criada, após o autor ter percebido que os temas AIDS e drogas têm sido muito debatidos nas escolas e seja por mecanismo de auto-afirmação, seja por exaustão diante do tema, ou por não considerá-lo pertinente, os alunos passavam a participar dessas palestras com enfado, muitas vezes tumultuando o ambiente. Como o assunto sexo desperta muita curiosidade, o autor reservava, durante a explanação, um espaço curto, mas incisivo, para tratar os temas alvo, como possíveis causadores dos distúrbios da sexualidade e do relacionamento interpessoal.

A idéia da pesquisa surgiu, ao perceber o autor, que muitos usuários de drogas vinham, ao final da palestra, conversar consigo e por “sentirem um ambiente de não repressão”, começavam a contestar, a ratificar, ou tentar defender o uso liberalizado das drogas.

Sem impor seu pensamento, o autor pedia permissão para oferecer as perguntas, que foram respondidas de bom grado.

Material e Método

Já foram entrevistadas 1308 pessoas de diversas cidades de São Paulo, a maioria próxima de Araras, sendo 947(72,4%) do sexo masculino e 361 (27,6%) do sexo feminino.

As idades variaram de 13 a 35 anos e a escolaridade constatada entre os entrevistados foi a partir do básico incompleto, com 684 (52,3%), o colegial, com 340 (26%) e o superior, com 284 (21,7%).

Os dados computados foram obtidos sem indução de respostas, de pessoas que afirmaram ser usuários freqüentes de drogas, principalmente álcool, maconha, cocaína e crack.

Também foram inquiridos outros dados:

Qual o percentual do uso das drogas, entre estes pesquisados (múltiplas respostas foram admitidas)?

Álcool (76%),

Maconha (64%),

Cocaína (35%) e

Crack (22%).

Quem o iniciou no uso das drogas?

Amigo: 482 (36,9%);

Comprou: 372 (28,4%);

Parente: 164 (12,5%);

Namorado(a): 185 (14,1%) e

Estranho: 105 (8%).

O que os levou a experimentar?

Curiosidade: 457 (35%);

Ambiente: 312 (23,8%); <<<<<<

Diversão: 204 (15,6%);

Tristeza 176 (13,4%) e <<<<<<

Tédio 159 (12,2%). <<<<<<

O que esperavam sentir/obter?

Mal: 156 (12%);

Alegria: 439 (33,6%);

Excitação sexual: 649 (49,6%) e <<<<<<

Paz: 64 (4,9%).

Perceberam alterações no desempenho sexual com as drogas?

Sim: 435 (33,3%); não: 873 (66,7%). <<<<<<

Que tipo de alterações sexuais?

Melhora: 313 (72%); <<<<<<

Piora: 122 (28%). <<<<<<

Qual droga produz melhora sexual?

Maconha: 206 (66%);

Álcool: 70 (22%) e

Cocaína: 37 (12%).

Qual droga produz piora sexual?

Crack: 34 (28%);

Álcool: 42 (34%) e

Cocaína: 47 (38%).

O uso das drogas modificou sua preocupação com uso de preservativos e DST?

Não: 1014 (77,5%) e

Sim: 294 (22,5%) >> aumentava: 164 (55,8%);

diminuía: 130 (44,2%).

O uso das drogas modificava sua preocupação com a gravidez:

Não: 1008 (77%);

Sim: 300 (23%) >> aumentava: 227 (76%);

diminuía: 73 (24%). <<<<<<

Como sentiam a vida após se iniciarem no uso das drogas?

Cheia de amigos: 353 (27%);

Normal: 523 (40%);

Solitária: 298 (23%);

Desesperante: 134 (10%).

Há quanto tempo iniciou a usar as drogas? (Subtraídos os 512 entrevistados da pesquisa anterior, onde este item não havia sido questionado)

Menos de 06 meses; 278 (35%)

Mais de 06 meses e até à 01 ano 183 (23%)

De 01 a 05 anos: 215 (27%)

Mais de 05 anos: 120 (15%)

Conclusões

1 – Os indutores ao início das drogas, continuam sendo na maior parte os amigos, parentes e nesta pesquisa, o(a) namorado(a). A atitude espontânea da compra e fornecimento pelos estranhos é minoria.

2 – Os motivos declarados, que induziram ao uso da droga foram em 74,4% das vezes, por curiosidade, ambiente ou necessidade de uma diversão diferente, motivações comuns às atitudes dos jovens. Entretanto, em 25,6%, dos entrevistados, houve indução alternativa à tristeza ou ao tédio.

3 – A questão seguinte, nos mostra que 36,6% dos usuários confessaram ter necessidade de alegria , 49,6% de mais excitação sexual e 4,9% de paz. O mais curioso é que apenas 12% temiam passar mal. Este resultado difere da pesquisa inicial, pela maior experiência adquirida pelos aplicadores, transmitindo mais tranqüilidade aos pesquisados.

5 – 33% dos entrevistados acharam que as drogas usadas alteravam seus comportamentos sexuais, sendo que destes, 72% se sentiam mais dispostos e 28% tiveram uma piora. A droga que mais era apontada como favorecedora da melhora para o sexo era a maconha e a que mais prejudicava era o crack. Não consideramos a expressão da verdade, esta resposta, pois pareceu-nos que “a melhora” era causada pela desinibição em muitos pesquisados.

6 – 130 (44,2%) entrevistados se descuidavam da prevenção às D.S.T. e 73 (24%) à gravidez, sob o uso das drogas.

7 – Após iniciarem o uso das drogas, 183 (33%) entrevistados relataram uma piora no estilo de vida e 876 (67%) não se queixaram.

8 – Sabemos que os usuários têm muita relutância em admitir seus erros, problema este decorrente de uma sociedade de espelho, falsa e embusteira, em sua maioria. Mas as respostas fornecidas foram, a nosso ver, honestas em sua maioria, coincidentes com o observado em consultório. Os resultados desta pesquisa de certa forma complementam e esclarecem alguns pontos não elucidados na pesquisa anterior.

9 – As respostas obtidas, mais espontâneas, respondidas em ambiente de confiança, apontam para o acerto do método de abordagem do problema drogas e AIDS, usando-se o curso “Sexo Responsável” para, inicialmente despertar interesse e depois permitir uma abordagem concisa, mas incisiva dos problemas decorrentes do uso das drogas e as conseqüências do sexo irresponsável, notadamente a AIDS e as doenças sexualmente transmissíveis. Também demonstram o acerto da criação curso para formação de “Orientadores Sexuais”, que estão multiplicando nosso trabalho de ajuda e orientação. Nossa peça teatral “SAI DESSA!” (em E-Livros sob o número 905158.pdf), exposta para livre leitura e apresentação em diversos sites e em nossa página, conta com mais de três mil leituras e mais de 1800 pedidos de encenação em diversos locais onde se fala o português, inclusive no Japão e nos Estados Unidos, afora os países de língua portuguesa,

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(*) É médico psiquiatra, terapeuta e trabalha

há mais de 25 anos na prevenção da AIDS e ao uso

de drogas nas escolas e empresas.

CE: pergunte@drmarcioconsigo.com

EE: www.drmarcioconsigo.com

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