Entrevista concedida ao blog Fio de Ariadne

Senhores, este é um blog muito modesto. Mas também é um blog muito orgulhoso. Graças a Deus sabe lá o que, desde que comecei a escrever aqui para relaxar simplesmente, venho colecionando leitores de primeira. E um dos meus mais antigos leitores é também um dos primeiros escritores blogueiros que conheci por aqui. O Rômulo, do (Inter)dito [escritos cotidianos] escreve para leitores sem medo de ouvir umas verdades .

Blog - Quem é Rômulo ?

Rômulo - Meu nome é Rômulo Pinto de Souza, tenho 25 anos e moro na cidade onde nasci, a grande São Gonçalo. Atualmente, curso a minha segunda faculdade de letras, uma especialização em leitura e produção de textos na Universidade Federal Fluminense (estou na fase de monografia) e leciono Redação pro pré-vestibular Logos, que fica em Neves (também parte de São Gonçalo). Ah..também não posso esquecer de minha participação como bolsista em um Acervo de um núcleo de pesquisas da UFF (NUFEP), onde trabalho em um projeto sobre lingüística e antropologia. Confesso que não gosto muito de descrições, porque acredito que somos muito mais do que nomes. Mas costumo sempre me definir como o Rômulo.

Blog - Rômulo, escrever por quê?

Rômulo - Comecei a escrever aos meus 16 anos de idade. Antes só imaginava demais as histórias e a minha família não gostava muito disso. Só a minha mãe incentivava as notas boas que tirava em redação na escola, mas com o sonho de escritor mesmo só em minha adolescência. Não sei o motivo de gostar de escrever. Isso me faz lembrar de que o meu gosto pela leitura só veio muito depois. Na verdade, como os jovens de nossa época, fui bombardeado por muitas imagens e não tinha paciência para ler. Com o tempo, os estudos e a maturidade aprendi o valor de ambas. Acredito que a minha escrita melhorou consideravelmente após as leituras que fiz. No entanto, nunca fui mal em redação, mesmo na época em que lia muito pouco.

Blog - Você transita com facilidade pelas formas da escrita, como o seu texto nasce?

Rômulo - Isso é curioso. Não acho fácil escrever, mas a minha escrita melhora com o esquecimento dessas formas. Quando fiz a minha primeira faculdade de literaturas, adorava a gramática e odiava errar aquelas regras. Ao mesmo tempo, um bom texto surgia com o esquecimento de tudo que havia aprendido. Acredito naquela velha história do escritor transgredir regras, ainda que, para isso, precise conhecer muito o certo. Assim, o meu texto nasce da incessante "luta vã" com as palavras. Tenho um texto em que digo sobre a amizade que procuro nelas. O método intimista e espontâneo me atraem muito. Escrevo sempre com o coração.

Blog - Você tem rotina para escrever ou é daqueles que tem uma ideia no meio na noite e anota num bloquinho?

Rômulo- Em minha adolescência, tentei escrever um livro em forma de diário que ainda não concluí. Descobri, então, que a rotina me sufoca. Escrevo de acordo com o meu humor e as melhores idéias surgem quando menos espero. Às vezes, anoto apenas o tema pra não me perder. Não tenho nenhum bloco, mas alguns cadernos em que guardo tudo. Com o tempo, vejo que não tem mais lugar pra guardar o que escrevi. Isso é que me assusta!

Blog - Como nasceu o blog (Inter)dito [escritos cotidianos] ? De onde veio a idéia de utilizar a internet para divulgar literatura ?

Rômulo - O [Inter]ditos é o meu quarto blog e foi o primeiro a se firmar como um projeto mais sólido. Comecei a divulgar os meus escritos na net, porque era uma forma de compartilhar o que pensava com outras pessoas interessantes como você. Sou desses que preferem horas de diálogos e de conversas sobre diversos assuntos. O meu primeiro blog foi inspirado no livro de Rainer Maria Rilke, o "Cartas ao jovem poeta". Lá tinha o pseudônimo de vate. Já o segundo foi uma tentativa mal sucedida de unir outros blogueiros com o ingênuo nome de "Uni(r)versos". Ainda não posso esquecer do terceiro inspirado no movimento alemão "Sturm und Drang", que tinha como objetivo treinar a minha escrita em alemão. Todos, na verdade, apresentam uma qualidade em comum: uma escrita que diáloga com a realidade em que me estou inserido. Gosto de conversar sobre tudo e, às vezes, sou vítima fácil de polêmicas. Fico numa situação de interdito, ou interditado, devido à minha atitude de centralizar as discussões. Daí surgiu a idéia desse último blog.

Blog - Quais os projetos para 2009? Vem livro por aí?

Rômulo - Vivo sempre me "projetando", como diria um Sartre da vida. Mas, em 2009, planejo-me para fazer o meu mestrado em literatura e solidificar alguns projetos de minha vida. Tenho aqueles velhos sonhos: Constituir família, plantar uma árvore e escrever um livro. Desses apenas o último está bem adiantado. Tenho três livros com "mini-histórias" (prefiro chamar assim), dois com aspectos ensaísticos, dois de poesia, um longo romance escrito em forma de diário e uma reunião de crônicas e de contos para a publicação. No entanto, ainda sei muito pouco sobre o processo editorial no Brasil e não encontrei uma editora pra publicar alguma obra. Também prefiro adiar um pouco esse projeto para um período em que outros estejam mais solidificados. Afinal, a vida em nosso país ainda não dá o valor merecido à cultura ou à qualquer forma de expressão artística de seus cidadãos. Só para não deixar ninguém na curiosidade, deixo aqui um trecho de um dos livros que pretendo publicar um dia. Ele está em "O livro secreto" e também foi publicado em um dos meus blogs:

Dois (Da coragem: o sentimento que brota do coração)

Vivemos numa sociedade de covardes. E não uso de metáforas nessa afirmativa. Escolhi, então, essa parte para falar de mais um fator grave em nossos dias. Ninguém está disposto a ouvir o coração em suas ações mais importantes. A coragem foi dizimada pela democracia do medo.

Aqui a hipocrisia ressurge, porque é mais fácil esquecer os seus próprios problemas do que enfrentá-los. Isso ocorre, chego a me arriscar nessa opinião, com todos os jovens desse século. Eles parecem introjetar a figura do Rui de que narrei em outra obra.

Fomos vítimas sempre da covardia do Ocidente. Teremos, desse modo, que observar o que "eles" não querem ver. Ou mesmo, obrigam-nos a não enxergar. Para isso, coloque-se numa posição de questionamento.

Onde estariam os grandes símbolos desse século? Teríamos alguma referência? Ainda há espaço para o romantismo? E uma simples resposta surge: Não. Por isso, discursarei sobre o que proponho aqui.

Primeiramente, olho triste para o quadro inicial. Se, no século passado, ainda tínhamos Drummond e Clarice, hoje vemos resistências como o Affonso Romano (que não sei se estará vivo quando publicar esse livro). Ah..a imortalidade é a que importa! Não..nem isso mais.

Nenhum escritor, professor, ou agente social, toma para si a responsabilidade de transmitir consciência. Isso, no mínimo, já acabaria com a escassez de referências em nossa sociedade. E se, em outros séculos, sofreram com grandes pensadores, imagine o que acontece com um mundo sem pai! Até mesmo o criador do nosso Universo não tem vez nessa senzala material.

Por outro lado, os que sonham são ridiculariados. Também se tornou comum a ridicularização do Romantismo como um epíteto negativo a eles. Não entendi, por minha vez, essa estranha associação com o movimento literário mais corajoso de todos os séculos.

Pelo que entendo desse movimento, os românticos não são frágeis melosos como a sociedade insiste em dizer nos dias atuais. Todos, desse século, banalizaram o sofrimento, o amor e todos os sentimentos que advém do coração. Um músculo que, bem cuidado, é capaz de transformar a vida das pessoas de todo o mundo.

Hoje, não existe o amor à primeira vista e se declarar para alguém é uma atitude vã. Todos acreditam somente no concreto e na felicidade. Mas esquecem que um ser humano também evolue com o abstrato e com a tristeza.

Lembre-se do dia em que passou chorando a noite toda. O seu coração se apertou demais, enquanto as péssimas lembranças lhe causavam dor. Entretanto, no outro dia, já procurava, de alguma forma, pensar sobre tudo com um olhar mais crítico. Certamente, iria conversar com alguém sobre o problema ou tentar resolver isso sozinho.

E, por mais que o processo tivesse sido dolorido, você acorda renovado no dia seguinte por fazer a experiência. O que aconteceu então? Você, sem perceber, alimentou os sentimentos provenientes do coração.

A sociedade atual faz o inverso. Ninguém pode chorar! O ser humano virou um máquina de sorrisos que não pode sofrer. Insacia-se com a felicidade até não querer pensar. Pois a felicidade é o ópio de nosso tempo. Não que ela seja negativa, mas com ela deixamos de viver a realidade em sua íntegra.

E, para tal feito, precisamos do fruto daquelas noites mal dormidas: A Coragem! O homem corajoso parece não ter medo dessa assustadora democracia. Sabe lidar com as suas ânsias, embora não seja perfeito. Afinal, o ser humano perfeito nunca existiu. Trecho da obra: O livro secreto: Algumas reflexões sobre o que a Sociedade não quer refletir. Em prelo.

Blog - Por favor indique algum blog de escritor que você frequente.

Rômulo -A minha primeira opção era o Chuva na janela, porque ele tem um valor todo especial pra mim. Leio sempre o Chuva e me sensibilizo com o seu ar ingênuo, mas profundo de escrever. Decidi, então, respeitar a extrema timidez dessa grande professora, cantora e uma pessoa encantadora por onde passa. Da mesma forma, a minha nova escolha é uma forma de homenagear grandes profissionais como a Carolina, que decidiram (em conjunto) criar o sala de leitura http://saladeleituracoluni.blogspot.com/. Esse blog pertence a um grupo de estagiários do colégio universitário da UFF e teve como objetivo publicar o trabalho feito na época com os próprios alunos. Ainda não sei se eles vão mantê-lo nesse ano, mas é uma forma de prestigiarmos uma iniciativa louvável em nossa sociedade.

link do blog: http://fio-de-ariadne.blogspot.com/2009/02/entrevista-com-o-blogueiro-romulo.html

Recomendo o Fio, ele é muito interessante.

Rômulo Souza
Enviado por Rômulo Souza em 15/05/2009
Reeditado em 15/05/2009
Código do texto: T1595631
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