Vânia Moreira Diniz entrevistando Cristina Arraes Moreira

O Jornal Ecos entrevista a escritora , poeta e estatística e pós graduada em Educação Maria Cristina Arraes Moreira

Por vânia Moreira Diniz

1-É muito difícil entrevistar à própria irmã, não é verdade? Crescemos e vivemos juntas infância e adolescência...sempre... Cris, o que significou sua infância em termos de colheita futura?

R Vânia, acho que minha infância foi o início de tudo. Crescemos numa família, em que nunca percebi as diferentes possibilidades entre homens e mulheres. Isto já foi de grande ajuda para que pudesse almejar um lugar no mundo que fosse de realização dos meus mais caros ideais. Tivemos também um ambiente propício, em que os livros e o conhecimento de uma forma geral eram muito valorizados.

2-O que marcou profundamente sua educação em projetos de vida nos vários aspectos?

R Acho engraçado que, embora já adulta, meu tema preferido de pesquisa se iniciou pela atuação da mulher no mercado de trabalho, sempre quis muito ser mãe. Quanto a isto me sinto plena, pois consegui construir uma família em que tudo é partilhado, em que tudo se discute, e que principalmente todos se amam muito, sentindo-se responsáveis uns pelos outros. Mas é claro que este não é o único projeto de vida. Acho que o que marcou mais minha educação foi a garra e determinação de nosso pai. Acho que nunca o vi desanimado. Quando, em algum momento, penso em desistir de meus sonhos, lembro de seus imensos olhos azuis e da força deles emanava.

3-Sua grande paixão desde pequena foi matemática. Quando começou a sentir que essa ciência lhe atraía tanto?

R- Acho que desde muito pequena, esta ciência me fascinou. Acho maravilhoso caminhar, tendo a lógica como guia. Penso que dá uma segurança indiscutível e que abre caminho para quase tudo. Deus nos deu a capacidade de pensar para que possamos fazer dela um instrumento de crescimento e amadurecimento. Não vou negar que ás vezes me sentia meio diferente. Enquanto a maioria detestava trabalhar com os números, eles me fascinavam. Mas cedo, muito cedo, compreendi, que a vida é feita de contrastes.

4-E porque a dificuldade da maioria das pessoas para ela?

R- Não sei bem o que acontece, mas talvez a maneira pela qual é transmitida, muitos símbolos e antigamente muita coisa decorada. Isto bloquearia qualquer ciência. O que não dizer então de algo que tem a lógica como sua mola mestra? Tive o privilégio de ter excelentes professores. Em casa também, meu pai foi para mim um grande incentivador. Lembro-me como me achavam distraída e aprendi que esta característica é própria dos ‘matemáticos’. Na verdade deveria ser uma matéria que fosse melhor olhada e didaticamente aprimorada, pois abre caminho para tudo, uma vez que a vida é lógica.

5-Há uma relação entre a filosofia e a matemática?

R- Creio que sim. A filosofia é uma nova conquista, ou melhor dizendo, um novo desafio em minha vida. E acho que minha facilidade em matemática me ajudou a entender os poucos filósofos dos quais já li alguma coisa. São Tomás de Aquino, por exemplo, nos leva à certeza de Deus, por uma questão de lógica. Tudo tem que ter um motivo real para que possa acontecer. E tem que ter uma causa primeira, motor de todo os motivos. Esta causa é Deus.

6-Qual o grande líder de sua vida, no sentido de influências e valores os mais diversos?

R- É difícil falar em líder, ainda mais um líder. Meu pai foi um grande líder, o primeiro que conheci. Influenciou muito minha vida e ainda continua influenciando, pelo legado que deixou em ética, moral, conhecimento, solidariedade, amor ao próximo e chefe de família. Conheci outros lideres que também me influenciaram. O Papa João Paulo II foi um deles. Com sua maneira serena, seus braços sempre abertos para acolher o mundo. Discordava dele em algumas coisas, mas inegavelmente me transmitia a imagem de Cristo. Há um frei, no Convento Santo Antônio, que muito me influenciou. Seu nome é Frei Neylor. Com enorme carisma, atrai as pessoas quando fala, transmite a imagem de um Deus que sempre soube que existe: aquele Deus amigo, presente e próximo, que não está preocupado com nossas faltas, mas que nos convida a estar com Ele sempre.

7-A Literatura chegou para você de forma mais íntima em que época e de que forma?

R- Nesta hora quero falar de você. Foi quem mais me incentivou no caminho da literatura. No início não achava que era este um de meus caminhos. Mas você me mostrou um lado meu que nem mesmo eu conhecia. Hoje tenho prazer em escrever. É como mergulhar em nossa própria alma. E é um mergulho nem sempre fácil, mas invariavelmente gratificante. Costumo dizer que você foi minha grande inspiração, trazendo-me à tona algo bonito e que estava tão escondido. Falo bonito no sentido de me abrir para o mundo. Logo eu, que era considerado tão tímida!

8-E os autores preferidos?

R- Hoje dedico-me mais a leituras filosóficas e religiosass. Gosto de Platão, São Tomás de Aquino, Aristóteles, são meus preferidos no campo da filosofia. Dos livros religiosos leio obras do Frei Neylor. Teillard, Leonardo Boff, Frei Beto e outros. Na literatura, gosto muito de Fernando Sabino, Jorge Amado, Lya Luft, Cronin e também das poesias de Vinicius de Morais. Sou admiradora de meus dois irmãos escritores: Francisco Sergio Arraes Moreira e Vânia Moreira Diniz. Falam-me da vida, dos sentimentos, da emoção.

9-A matemática pode ter alguma relação com a própria literatura?

R- Não sei, mas acho que sim também. Não é propriamente a matemática, mas a lógica nela embutida. As palavras vão se encaixando de uma forma que é incontrolável. Percebo que escrever é olhar para dentro de si, perceber o mundo com nossa alma e a lógica aí se torna um grande instrumento. Escrevemos a primeira palavra e pronto! Tudo o mais é conseqüência, vamos para um lugar que ainda não descobri qual é, e tudo brota num maravilhoso encadeamento que me faz pensar em número que refletem a verdade de todos nós.

10-Poderia relatar aos seus leitores como decidiu se formar em estatística e sente prazer em trabalhar até hoje envolvida nessas pesquisas?

R- Na verdade tudo veio de uma forma muito natural. Percebei que sentia prazer em conhecer mais e mais a matemática e que ela me possibilitava cruzar limites inimagináveis. Tentei escolher uma profissão que ela fosse o centro de tudo. Hoje avalio diferente: ela não pode ser o centro, mas o instrumento. Atuo na área de ciências sociais. Acho maravilhoso o concreto e o abstrato se completando. Sinto prazer sim, mas hoje estou mais voltada para teologia e a filosofia. Faz parte de uma nova etapa que está se iniciando. Mas certamente as ciências sociais ligada a matemática tem um lugar me minha vida.

11Qual seu sonho maior ainda não realizado?

R- Bem são tantos! Quero ver meus filhos formados e atuantes em suas profissões, sempre no caminho que privilegie o mundo, as pessoas em suas múltiplas necessidades. Tenho o sonho de ver um Brasil mais justo, em que as oportunidades sejam mais igualitárias. Gostaria de ainda estar viva para ver nosso país liderado por pessoas que realmente estejam preocupadas com o bem comum. No campo pessoal, ainda tenho vontade de estudar fotografia. Gostaria de unir esta arte com outras coisas que já faço, como literatura, filosofia, teologia e quem sabe meio ambiente? Falar em sonhos é muito difícil. Eles brotam de forma tão inesperada! E têm outros que ficam, assim no cantinho, aguardando sua hora. Mas tenho um grande sonho: o de compreender e ser compreendida. Afinal para que serve a literatura, fotografia, teologia, filosofia, senão para o bem comum? Espero ainda um dia, poder fazer algo, por intermédio de tudo isto, que faça diferença no mundo.

12-Cris , admiro a forma com que se aproximou da teologia há alguns anos. O que a levou a pesquisá-la com mais afinco?

R- Vânia, sempre senti a necessidade de Deus. Lembro-me de como gostava das reuniões que nosso pai fazia em nossa casa. Mas depois isto foi se tornando mais forte. E aí pensei: se Deus é tão importante para mim, tenho que conhecê-lo mais. E tem sido bastante gratificante. Procuro passar para outras pessoas o que aprendo. Hoje, considero a Bíblia irresistível. Gosto de lê-la sempre e mais. Orienta-me nos momentos difíceis, alegra-me, faz-me mais feliz porque sei que me traz a lembrança de Deus. A teologia tem me fascinado de maneira Especial e tenho o projeto de um dia escrever sobre toda esta caminhada. Acho que o motivo principal de me aproximar da teologia, é ter sentido em meu coração, um grande chamado.

13- O que á a literatura para você?

A literatura para mim é uma forma de apresentar ao mundo, tudo isto que estou vivendo. Entendo-a como uma forma de colaboração como tantas outras. Reclamamos tanto de tudo mas ás vezes não fazemos nada. Acho que a literatura é uma forma de mudar o mundo. É você que escreve, o outro que lê, interpreta. Se este outro ficar com uma pequena parte, já é importante. Portanto devemos cuidar da literatura com todo carinho. Ela é uma árvore, frondosa, cheia de frutos. Muitos vêm buscar alimento em sua sombra e nestes frutos.

14- Obrigada Cris querida. Foi um prazer enorme para o Jornal Ecos entrevistá-la. Deseja dizer algumas palavras sobre sua vida, sua arte ou simplesmente se despedir de seus leitores?

R Vânia, foi um prazer enorme responder estas perguntas e espero que possa estar contribuindo. Mostrei aqui vários aspectos de minha vida: a maternidade, a literatura, a teologia, a fotografia, a filosofia. Estou num momento de intensa atividade em todos estes ramos. Tenho certeza que ainda posso planejar um grande projeto unindo tudo isto. Agradeço a oportunidade de falar um pouquinho de mim, de meus sonhos. Peço que Deus a continue iluminando, para que possa dar seguimento a este projeto seu que se tornou também de todos nós, escritores de sua página e de seu jornal. Um grande beijo

Cristina

Cristina Arraes
Enviado por Cristina Arraes em 18/08/2009
Código do texto: T1760750
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.