Memória e História

Esta entrevista foi realizada para o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).

Contar a historia de mulheres é tirá-las do anonimato, é romper o silencio em que elas estavam tornando-as visíveis através dos seus discursos e imagens. Portanto fomos a campo para ouvir a historia de uma mulher que faz a diferença na comunidade evangélica. Está mulher é a Missionária Dione Fernandes da Silva, que fundou igrejas na cidade de Puxinanã, e na cidade de Campina Grande nos Bairros do Pedregal e Catolé.

Conforme entrevista realizada com a Missionária Dioni no dia 27 de agosto de 2008 quando questionada com a seguinte pergunta “A quanto tempo você é missionária?” ela disse as seguintes palavras:

Na verdade eu comecei o meu ministério com quinze anos de idade, mas você sabe que hoje a nossa vida precisa muito de um diploma, embora o próprio Paulo diga eu considero o estudo como esterco, mas esterco tem valor, as lindas plantas as arvores e jardins elas precisam de esterco, mas com quinze de anos de idade eu comecei a minha vida pregando em toda esta pátria brasileira, mas depois eu fui para o seminário porque precisava de um diploma. Então depois do diploma em 1971 eu terminei, e até hoje estou nesse ministério da palavra, estou com sessenta e oito anos de idade e isso tem sido uma benção em minha vida.

Nesse primeiro relato da Missionária Dioni, podemos perceber a sutileza das palavras quanto ao ministério da palavra. Com trinta e sete anos de ministério a sua motivação pelo trabalho é muito empolgante. Quando ela foi questionada “O que lhe motivou a abraçar o ministério pastoral”? Com entusiasmo respondeu o seguinte:

Tem muita gente que recebe um psiu, quando tem esse psiu diz, pronto estou sendo chamado, então tem aquela alegria e vai. Na verdade não tive um psiu, tive um chamado. Chamado de Deus para a obra. Às vezes mim pergunto o que sou no corpo? A Igreja é um corpo. Às vezes gostaria de ser a parte do coração que ama, mais às vezes gostaria de ser a mão, porque a mão chama, abraça, toca. E começo a mim perguntar o que sou no corpo? E descobri que sou o pé, a Bíblia diz formosos são os pés que mim anunciam. Eu amo anunciar a palavra de Deus. E o que mim levou a motivar a viver esse evangelho até hoje, foi o chamado de Deus para a minha vida dizendo, os campos estão prontos, quem é que vai? Onde estão os Elias da vida? Onde estão os Eliseus da vida? Onde estão os Gedeões da vida? Fico louca para mim colocar no lugar de um deles, como não sou nenhum deles. Deus chamou Dioni para fazer a obra Dele.

Embora o chamado de Deus para o “Ide” seja para todos, orando, enviando ou indo, são poucos os que se dispõem para uma vida de total entrega, renúncias e obediência para cumprir esta ordem. Ir por todo o mundo requer coragem e intrepidez, vida de adoração, caráter irrepreensível, “visão de águia” e ser íntimo de Deus, para entender que é através da obediência que alcançamos as promessas. Tornando-se sensível a palavra e ao coração de Deus, a Missionária Dioni se dispôs a cumprir o chamado, realizando os seus maiores sonhos para alcançar os mais remotos lugares da terra e os povos mais difíceis. Como serva se dispôs com responsabilidade para levar a mensagem de salvação. Nos livros de Isaias e de Lucas descrevem como a vontade de Deus foi manifestada na vida de Jesus, e conseqüentemente na vida da Missionária Dioni com a seguinte declaração:

“O Espírito de Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados: a apregoar o ano aceitável do Senhor”. (Isaias 61: 1, 2; Lucas 4: 18, 19)

Com relação ao gênero, principalmente a mulher na relação ministério pastoral e igreja, questionamos a Missionária como ela vê a conquista da mulher em relação ao ministério pastoral dentro de uma instituição que é totalmente masculinizada? E ela respondeu o seguinte:

Olha é meio complicado. Nós sabemos que existem algumas denominações que esse ministerial comum nenhum problema que a denominação já nasceu com esse propósito de mulheres serem pastoras. Existe algumas denominações que não aceitam mulheres serem pastoras. Eu vejo assim a figura do pastor, no Velho testamento podemos ver a figura do pastor como aquele que cuida de ovelhas, portanto hoje eu vejo que os homens cuidam de ovelhas, mas vejo também as mulheres cuidando das ovelhas. Os homens cuidam das ovelhas com amor, mais as mulheres cuidam com tanta delicadeza, tira os carrapichos das ovelhas com tanto amor, limpa a pele das ovelhas com tanto amor, hoje vejo que esse ministério tem crescido consideravelmente, eu dou graças a Deus por esse ministério. Há dificuldades há. Há alguns lugares que não há aceitação, isso é verdadeiro, mais Deus tem convocado mulheres também para fazer e trabalhar nesse ministério glorioso e a única coisa de mulher ser pastora é pregar o evangelho, ganhar almas para Cristo, acalentar ovelhas, colocar o cajado no pescoço da ovelha, trazer para perto, aconselhar, ajudar, chorar com ela, então isso não pode ser proibido, isso é benção, uma mulher cuidar de ovelhas.

Podemos então entender que a igreja que todos seguem os mandamentos de Cristo é aquela em que homens e mulheres vão para o campo, trabalham lado a lado nos diversos ministérios da comunidade. Eles aprendem uns dos outros, apóiam-se mutuamente e contribuem com suas qualidades positivas para missão da igreja, sem serem prejudicados por distinções de gênero. Sabemos que algumas dificuldades existem quanto ao exercício do ministério, e perguntamos a Missionária Dioni “Quanto ao seu ministério quais as dificuldades encontradas dentro dessa instituição patriarcal?” ela resume com a seguinte declaração;

Na verdade nós sabemos desde Roma, a mulher era considerada só uma coisa. No tempo de Jesus a mulher só servia para ter menino, então eu estava mal, pois nunca mim casei, não tenho nenhum filho, então eu estava mal nessa situação. Então a mulher era considerada uma coisa, portanto desde desse tempo, nós vemos as dificuldades que surgem para o ministério feminino. Mas eu olho para o meu mestre Jesus que deu um show, deu um espetáculo. Ele olhou para a mulher, Ele levantou uma prostituta, Ele conversou com outra, Ele perdoou outra, Ele permitiu que outra lavasse os seus pés e enxugar. Jesus deu um valor muito grande à mulher. Agora há dificuldades do ministério feminino, há sim, ainda existe barreiras,ainda existe denominações que na verdade que não aceitam o ministério feminino, por isso sou missionária, para mim até hoje não encontrei nenhuma barreira, amo os meus pastores queridos, amo as denominações , amo as igrejas que as portas tem se aberto para mim, então eu tenho que dizer a você até hoje eu não vi barreiras para meu ministério em nenhuma denominação e nenhuma igreja que tenho ido,mas tenho abraçado os pastores, tenho respeitado cada um como homens de Deus, masculinos que são, fortes que são, admiro a cada um, mais Deus tem mim levado a pregar em toda essa pátria brasileira e fora dessa pátria brasileira, Deus tem mim usado e até hoje não tenho encontrado barreiras para o meu ministério.

Diante dessa conquista no espaço ministerial perguntei a Missionária, “Como os pastores (homens) vêem o seu trabalho, se há algum tipo de rejeição ou diferença nas atribuições administrativo-religiosas? Ela responde o seguinte:

Eu preciso parar e perguntar a algum pastor como é que eles mim vêem, até hoje eu não perguntei a eles. eu respeito muito eles, meus queridos pastores, eu nunca perguntei o que eles acham, mas enquanto eu não pergunto, estou trabalhando no bairro do catolé, estou dirigindo a Igreja Congregacional do Catolé. Construi esta igreja, construi debaixo de oração, de entusiasmo, de amor, eu mim considero uma pessoa desbravadora, quando cheguei no catolé me sentia um pouco egoísta mulher altamente privilegiada, mim ajoelhava e dizia Deus mim dê o catolé para cristo, eu pensava que sozinha eu ia conquistar o catolé. Deus mim ouviu de outra maneira, hoje o catolé está minado de varias denominações, mim sinto uma mulher altamente privilegiada, cada igreja que se abre, cada denominação que investe no catolé, mim sinto privilegiada porque Deus ouviu minhas orações, por isso não vou perguntar aos meus pastores o que eles acham do ministério feminino.

Através do seu depoimento podemos observar que o discernimento que Deus tem dado a Missionária Dioni, faz com que ela desempenhe o seu papel ministerial de forma ética, e conquiste o seu espaço no ministério pastoral, sem agredir ou confrontar os pastores ou qualquer denominação.

Miguel Braga
Enviado por Miguel Braga em 08/01/2010
Código do texto: T2019062
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