Entrevista ao jornal "O Globo"

     Com o objetivo de incentivar a publicação de livros independentes de autores pouco conhecidos ou totalmente desconhecidos, o antropólogo Douglas Carrara e sua mulher, a poetisa Jania Cordeiro, moradores do Jacaré, resolveram montar a Banca do Pó-etá, em janeiro de 1983. Acontecendo inicialmente todas as sextas-feiras, na Cinelândia, o projeto deu certo e hoje a pequena banca se transformou em editora.
     Segundo Douglas, de início os livros vendidos limitavam-se aos que vinham sendo produzidos pelos autores da cidade do Rio de Janeiro. Mais tarde, diversas correspondências foram enviadas pelo casal, para os escritores de outros estados. A partir de 1984, quando a Feira na Cinelândia começou a se esvaziar, a Banca começou a acompanhar o Projeto Cultural Passa na Praça que a Poesia te Abraça - que levava todos os domingos para as praças cariocas a poesia de autores independentes -, participando também de encontros comunitários em diversos bairros da cidade, inclusive o Meier.
     - Atuamos em diversas praças da cidade, mas foi na Zona Norte que conseguimos um resultado melhor. Com este trabalho, o acervo da Banca cresceu e hoje dispõe de aproximadamente 300 títulos, entre livros, revistas e jornais. Os escritores nos fornecem os livros e deixam em consignação com a editora, que só tem a tarefa de distribuí-los e divulgá-los. Não contamos ainda com recursos para a edição - explica.
     Este projeto, diz Douglas, veio ajudar o poeta que está iniciando sua carreira. Segundo ele, as grandes editoras estão sofrendo um processo de elitização que prejudica o escritora chamado independente.
     - Acredito que as grandes editoras não tem competência para analisar e entender o novo. Elas não dão oportunidade para a pessoa que começa e isso faz com que o mercado fique cada vez mais restrito. E as livrarias, quando aceitam o livro em consignação, não o expõem devidamente ao público, que acaba não tomando conhecimento da obra - afirma, acrescentando que no caso da Banca, para ajudar na divulgação dos livros, foi criado um boletim que circula para os cerca de 5000 assinantes em quase todas as cidades do Brasil.
     Há pouco tempo, porém, Douglas e Jania resolveram fixar um negócio na Rua Primeiro de Março, no centro. Cansado de acumular divesas funções, como divulgação, organização de eventos e vendas de livros, Douglas resolveu abrir a editora Ribro Soft Editoria e Informática Ltda para organizar melhor todas estas tarefas.
     - Já dispomos de assinaturas de escritores e jornalistas, assim como entidades culturais, livrarias e editoras, onde fazemos a divulgação do nosso trabalho. Até agora, o projeto tem dado excelentes resultados, o que já nos proporcionou a edição de dois livros independentes.

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1) Publicado em "O Globo" - 22/02/1989
2) Publicado em "Poesias ao Sabor do Vento" - http://www.bchicomendes.com/dcarrara/glob2202.htm