Entrevista ao "Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro"

      Depois do expediente de amanhã, os usuários do Metrô do Rio devem fazer da Cinelândia sua estação de desembarque. Ocorre que a partir das 18 h., o mezanino Odeon servirá de palco para um "happening"com performances, recital de poesia, lançamento de livros e até música cigana.
     Será a 1ª mostra do Varal de Poesias ao Sabor do Vento, promovido pela Banca Nacional de Literatura Independente, com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura.
     Pode não existir vento no mezanino, mas os varais estarão lá: 81 poesias de 57 poetas serão literalmente penduradas em cordas de nylon, não para secar, mas para serem dissecadas pelo público, sempre ávido por arte. Uma seleção do que se tem produzido nesta década pelos quatro cantos do País. Poemas que mostram um pouco do social e político da vida do brasileiro e que ficarão no Metrô até o próximo dia 18.
'     - Escolhemos o Metrô por ser um local que concentra um público diversificado, que poderá tomar conhecimento da poesia que não é difundida pelos meios de comunicação de massa' - esclarece o poeta e antropólogo Douglas Carrara, que pesquisa a poesia brasileira há muitos anos e foi responsável pela seleção da primeira mostra do varal.

"SOLO - SUBSOLO"

     A alegria, entretanto, começará cedo na Cinelândia: às 16 h., ocorrerá a primeira apresentação do Grupo Poça d'Água, em frente à Câmara dos Vereadores, com textos de teatro sobre a Constituinte. A segunda, será no mezanino Odeon, com poesia teatralizada: por isso, o sugestivo nome do duplo recital do grupo: "Solo - Subsolo".
     Assim, no início da noite de sexta-feira, o carioca terá oportunidade de conhecer o trabalho dos poetas dos anos 80 - "Poemas concisos e contundentes", frisa Carrara -, quando declamam, de forma descontraída, seus poemas preferidos. É a poesia-espetáculo, com os recitais completando os "varais": textos desenhados a nanquim, acondicionados em sacos plásticos e afixados em cordas.
     Esta será a primeira de uma série de mostras que a Banca Nacional de Literatura Independente pretende organizar no Rio, com o apoio da Prefeitura. Criada em janeiro de 1983, a banca tem como proposta comercializar obras literárias de escritores independentes de todo o País, tendo como veículo o reembolso postal.

' - Somos uma livraria sem loja e nosso mercado principal tem sido o interior do Brasil, embora tenhamos propaganda em todas as importantes cidades brasileiras. Com a pesquisa de muitos anos, reunimos o cadastro de aproximadamente 5.000 leitores e escritores, que recebem boletins informativos dos livros que dispomos. Em algumas cidades do interior, os jornais publicam esses boletins, facilitando a divulgação' - completa Carrara.
     Entre romance, poesia, cordel, ensaios literários e científicos, a Banca reúne 200 títulos e alguns deles poderão ser adquiridos no stand que acompanhará o Varal até o dia 18 próximo, na Cinelândia.

                               HAPPENING

     Vai ter de tudo um pouco na festa da Estação Cinelândia. Um grupo de músicos ciganos animará o lançamento do livro 'Povo Cigano', uma pesquisa antropológica de Cristina da Costa. Ainda serão lançados posters-poemas - "Libertas quae sera tamen" de Douglas Carrara e os cartazes dobráveis "O Dia em que meu cavalo resolveu pintar as cores da bandeira" de Artur Gomes e o livro "Fomicidade" do niteroiense Luis Pucú. Sem esquecer a performance que será apresentada pelo ator Edgar Ribeiro.

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1) Publicado no "Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro" de
4/09/1986.