Malu Entrevista Emmanuel Clelio, O Kekel!

Malu Entrevista Emmanuel Clelio, O Kekel!

"Meu partido

É um coração partido

E as ilusões

Estão todas perdidas"

Com os versos de Cazuza inicio a conversa com esse moço alegre, inteligente e sincero.

Vamos conferir o que tem a nos dizer Emmanuel Clelio - O Kekel?

Kekel, qual a grande lição que você tirou do grave acidente que sofreu?

- Ah, várias Malu, várias. Não consigo nem enumerar todas, mas vamos lá: Primeiro que a distância entre a vida e a morte não existe. São coisas entrelaçadas como se a vida fosse apenas uma maneira da morte nos chamar para algo que ninguém sabe nem saberá nunca. Em relação a isso, cito cazuza quando cantou: " eu vi a cara da morte e ela tava viva, viva!". No mais e mais: Cuidar de valores como amizades, gratidão e honrar a quem gosta de você. Também que a vida não é só de curtição como eu pensava e ultima - meio que "tirando": NÃO VÁ MUITO LONGE ATRÁS DE UMA MULHER, OS OLHOS CUIDAM DE SE ENCONTRAREM. Vez que nesse acidente tinha ido a uma festa numa cidade vizinha rumo a uma garota que eu tinha um certo relacionamento.

Quando aconteceu o acidente, você estava dirigindo em alta velocidade?

- Nitidamente lembro que não dirigia em alta velocidade. Mas vinha sem cinto. Também com toda certeza afirmo-lhe que não estava bêbado, mas bebi o equivalente a me cansar e fazer-me cochilar ao volante.

Qual a mensagem que você deixa para os que não obedecem as leis de trânsito?

- Quanto a quem desrespeita as regras de trânsito: Cuidado! Podem ter certeza, a principal consequência nunca será a multa. Essa é o de menos! Dinheiro se ganha, se consegue, se empresta e até se rouba. Mas vida... vida mesmo: se faz necessária repudiar os atos idiotas!

Quando temos saúde e dinheiro, ganhamos tapinhas nas costas, muitos amigos, mas é na doença que conhecemos os verdadeiros amigos.

Qual o nível de importância que seus amigos tiveram ao longo da sua recuperação?

- Cara... o nível que teve meus amigos? Ah, isso é forma de medidas. Nunca imaginei que tinha amigos tão fiéis, gentis, complacentes e companheiros sobretudo. Constatei que os amigos são a água que regam o nosso jardim, o jardim dos laços que não se desatam. Fico emocionado até hoje do que meus amigos foram capazes de fazer por mim. Claro devo tudo de minha recuperação a minha mãe. Mas sem dúvidas, depois dela vem os amigos. Não sei... fico emocionado consigo nem falar. Lembro de uma festa que eles me levaram, eu estava andando de moletas, eles me carregaram, contra a vontade de minha mãe, mas era porque sabem que sou um rapaz muito alegre. A festa era num lugar amplo. Como eu não podia andar, fiquei sentado e todos a minha volta: uma legião de uns 20, 30 amigos. Não saíram de lá um momento sequer. Tive mais atenção que a banda musical que animava a festa - a atenção deles, claro -, e lembro que isso me fez se sentir bem pois vinha eu desacreditado da vida e uma estima muito baixa. Por isso os amo tanto e serei grato a eles por muitas coisas. Em muitos momentos eles me fizeram sentir como se eu fosse um rei. Por isso hoje meu trono é deles. Aqui termino essa resposta. Até queria seguir, mas estou muito emocionado... não aguento!

Foi nessa época que você começou a escrever ou já tinha afinidade com as letras?

- Não... não foi nessa época que comecei a escrever. Mas também não muito tempo antes. De toda forma foi o momento em que me encontrei de fato nesse mundo das letras, pensamento, revolta, crítica, comicidade e até babaquices... uma vez que foi o momento em que estive muito a sós comigo mesmo: reavaliando idéias, conceitos, sentimentos... Ou seja, foi o momento no qual dei vasão aos meus instintos nostálgicos e pessimistas num momento de total introspecção. Literalmente, foi quando parei pra pensar!

" Não vá muito longe atrás de uma mulher. Os olhos cuidam de se encontrar". Então, os olhos já se encontraram te convidando a deixar o amor entrar na sua vida?

- Já!... tanto que já me apareceu muitas pessoas especiais, mas eu com o dom da idiotice e sem conter meu ímpeto de canalha já estraguei muita estória de amor. Por isso hoje com uma questão de auto conhecimento, estou desacreditado no amor. Todavia quando falo isso ou escrevo sobre isso, todo mundo toma um choque - logo eu que sempre tive mulheres especiais e fiéis xinga o amor, como até me dizem: você fala tão bem de amor, mas não acredita nele. As pessoas interpretam à sua maneira. Mas quando desacredito no amor é num amor em relação a mim, por minha causa. Por culpa do ato de minha canalhice. Por isso aprendi e disse: sou um canalha assumido. E por um fidelidade altruísta evito caso de amores. Foi assim pelo menos com minhas duas últimas companheiras. Só que hoje meus olhos novamente se encontrou com outros olhos. E se eu tiver de levar esse amor adiante, não tenha dúvidas. Evitarei ser um tolo. Mas uma coisa é fato: já traí muita mulher, mas também fui fiel a muitas mulheres amando-as mas evitando conviver com as quais para não fazê-las sofrer. De toda forma, tanto as que amei e convivi e as traí, como as que amei mas não convivi evitando traí-las, me acham cafageste, covarde, canalha etc..., então que fique claro, desacredito no amor em relação a mim. Talvez num outro estado - o de minha maturidade - eu mude de conceito, até porque o devir é um conceito que aceito. Assim, falo do amor que dou e do que recebo, não tenho autonomia pra falar do amor dos outros pelos outros! Mas que leiam meus textos e interpretem como quiserem. Sei que uma outra frase de Cazuza a mim se encaixa: "EU SOU POETA E NÃO APRENDI A AMAR!

Você se assume como um homem infiel. Já pensou nos motivos que te levam a ter essa conduta ou acha que ao homem tudo é permitido? Você daria esse direito à mulher amada?

- Eu não sou infiel.(risos) Eu estou infiel. É uma questão de estado. E isso se dá pelo fato da liberdade. Esse é o motivo. As mulheres de séculos passados estavam fiéis. Hoje por liberdade estão se equiparando aos homens. E tem pesquisas que comprovam isso: hoje a mulher é tão infiel quanto os homens. Sendo assim atribuo minha infidelidade a liberdade que sempre tive de ser infiel. Assim hoje são as mulheres também... jamais permitiria eu esse direito a alguma mulher minha. Nenhuma nunca me deu esse direito. Todas me detonavam quando, no mínimo, desconfiavam. Se ela me trair é um direito dela. Mas permitir jamais.

Cazuza é para mim um poeta rebelde, um menino beija-flor. Quais as músicas dele que você mais gosta?

- É rebelde sim. Maldito. E gosto disso. Os malditos são mais realistas. Admiro isso. Quanto às músicas, ah... Medieval, todo amor que houver nessa vida... vixe! Todas que conheço, pois há algumas que não conheço.

Qual a trilha sonora da sua vida?

- Metáfora de Gilberto Gil. Com certeza essa música mudou um lado de minha vida. Pode ter certeza: “na lata do poeta tudo nada cabe/ pois ao poeta cabe fazer/ com que na lata venha a caber/ o incabível” (...)

Livro preferido?

- Gosto muito de O Homem Medíocre do José Ingenieros. Entretanto, Seria muita covardia dizer isso incontestavelmente mesmo ao meu gosto. Não há o melhor livro. Mas escritores há sim, os malditos preferivelmente. Direi alguns: Bukowisk, Henry Miller, Augusto dos Anjos... mas também, Vinicius de Moraes, Fernando Pessoa, Câmara Cascudo, Zélia Maria Freire e outros.

Viagem dos sonhos?

- Percorrer inúmeros cantos do Brasil a pé. Cantos que acho lindos em natureza. Matas, grutas, cachoeiras, praias, morros e picos. Exterior não tenho a mínima vontade.

Sonho de consumo?

-Ter um teatro, um cinema, um restaurante, uma livraria e uma vasta biblioteca.

Você é convidado para interpretar Dom Quixote ou o Zorro. Qual você escolheria?

- Zorro. Até porque, apesar de ser um leitor assíduo, nunca li Dom Quixote. Um dia desses estive até comentando isso com uma amiga minha escritora. Inclusive ela me ofereceu o livro para ler. Mas estou sem tempo devido o ultimo ano da faculdade.

Quando menino qual era a traquinagem que tirava a sua mãe do sério?

- Tomar banho na maré quando enchia. Pulando de uma ponte e um estaleiro. Ah... tomei muito cinturão na bunda por conta disso. (risos)