Entrevista com o autor
BATE PAPO FINAL
(do livro de humor reflexivo "Sexo, Mulheres e Ecologia" de Luiz Otávio D. Pinheiro)
- Como e quando você começou a escrever?
- Foi na época da faculdade. Colocava algumas coisas no papel, tipo final das frases dos professores e juntava tudo para ver se conseguia formar algum sentido, um novo sentido. Nada a ver com termodinâmica e equações. Aos poucos, eu mesmo fui me
incentivando.
- E o que o impeliu a prosseguir?
- Dizem que toda a criação artística é proveniente de uma insatisfação. Creio que, no meu caso, a politicagem no serviço público - direita X esquerda - desprezando-se a competência e os meus desamores, se encarregaram de me fazer prosseguir.
- De onde vêm as suas idéias?
- De diversas fontes; do som das palavras, casos que me contam, leituras e simples imaginação. Alguns textos foram feitos para dar arcabouço a um conjunto de frases não necessariamente interligadas. Não escrevo a meu respeito, e sim, sobre uma forma de encarar a vida e sempre pelo viés da irreverência, do humor.
- Vários escritores falam que escrevem rodeados de lápis, e você?
- Sempre escrevi rodeado de canetas. Como fui forçado a ser destro, o ato de escrever acaba me cansando, aí, mudo de caneta. Aliás, gosto de colecioná-las para uso. Tenho sempre a minha disposição umas quarenta. Mas atualmente estou na era da informática, o computador ajuda a quem quer escrever, sem dúvida.
- Você se envolve em vários textos simulta neamente?
- Depende do que me ocorre no momento, de quanto o tema está me envolvendo. Se me surgir uma boa idéia e eu estiver desenvolvendo uma outra, anoto no que for possível e guardo para uso posterior.
- Você costuma pedir opinião dos outros antes de considerar o trabalho pronto?
- Com freqüência. "Corta isso", "aqui não gostei". Se o palpite incide sobre algum ponto em que estou em dúvida, acabo aceitando. O curioso é que algumas coisas que julgo fracas são bem recebidas, e outras, em que aposto que vão dar certo, acabam não dando.
- E o que acontece nesses casos?
- Penso: preciso me aprimorar mais. Quanto ao destino do texto objeto da avaliação, aí depende.
- Você reescreve seus textos com freqüência?
- Não. Posso fazer mudanças, mas nunca por completo. Se, ao final, ele não agrada, vai para o lixo, sem pena. Outros podem fazer melhor...
- Você não escreve nada sobre sexo, em compensação a mulher é muito freqüente nos seus textos. Fale um pouco sobre isso.
- Sabe que eu não havia percebido esse detalhe? Mulher é um tema sempre atual. Em re lação a sexo, apesar de conhecer este tipo de literatura, não sei o que poderia escrever... Sexo só entra em título de livro para dar charme. Até hoje ainda não deu para escrever coisas neste campo.
- O que você quis dizer com "até hoje"?
- Tenho idéia de um dia escrever um livro de contos de mistérios eróticos ou de erotismo misterioso.
- Por que nos seus textos quase a totalidade dos nomes femininos estão no diminutivo?
- Talvez para contrastar com a realidade, enfatizando que é tudo ficção. Tenho por costume não chamar ninguém pelo diminutivo. Uma conhecida, chamada Sílvia, me perguntou certa vez se o uso do diminutivo não seria uma forma de demonstrar pouco caso para com as mulheres. Ela falou: "É só Esterrezinha pra cá, Fernandinha pra lá." Na hora me deu vontade de responder que sim, só para ver a cara com que ela ficaria. Desde este dia, para mim, ela virou Silvinha.
- Para finalizar, quais são os principais problemas para um escritor novo se lançar?
- Destaco a questão de ser "do meio" e de já ter o nome divulgado de alguma forma. Isto ocorre não só com o escritor, como também com o compositor. Se eu chegar numa gravadora com uma fita com músicas inéditas dos Beatles, eles vão falar que não é vendável, não tem valor. Se eu pegar uns versos desconhecidos do Vinícios de Moraes e procurar uma editora, dizendo que são meus, a acolhida será a mesma. A recepção, porém, seria totalmente diferente se eu fosse filho de alguém famoso, se a minha cara aparecesse na TV, ou se o meu nome fosse vinculado a uma CPI, escãndalos, coisas no gênero. O meu consolo é que Fernando Pessoa, como eu, em vida muito escreveu e pouco publicou, aliás, Leon Eliachar também.