MAIS MÉDICOS OU ATENDIMENTO MELHOR REMUNERADO?

Dr. Márcio – Li sobre a realidade da criação da Faculdade de Medicina em Araras e outras cidades vizinhas, com mensalidades para os alunos a R$ 7.000,00 e achei muito lógico o comentário feito. Como o senhor, caso tenha lido, o encara? - José Carlos.

José Carlos – Resolvi propositalmente não citar seu nome, pelas razões que nós dois conhecemos e que poderia prejudicá-lo profissionalmente.

Quando recebi a notícia da vinda da Faculdade de Medicina para Araras, com o apoio de Pirassununga, Leme e Conchal, minha primeira reação foi de alegria, pois via a população sendo bem atendida, pelos Catedráticos e alunos. Esta emoção não desapareceu, pois estamos carentes de atendimentos médicos em todo o País.

Quero entretanto, comentar algo que me deixa na expectativa: formei-me na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais considerada como concorrente com a USP, no primeiro lugar no Brasil.

Além das aulas teóricas em salas confortáveis, frequentávamos depois das aulas básicas, o Hospital das Clínicas, que era uma beleza, com vários andares, onde internavam clientes das enfermidades não contagiantes, com instrumentos de auxílio diagnóstico, de causar inveja nos clientes e visitantes.

Complementando, atendíamos clientes em outras especialidades isoladas em hospitais, que tratavam de doenças contagiantes, como a lepra e a tuberculose e outras doenças infectantes, todas as clínicas bem distantes da Faculdade e do Hospital das Clínicas.

Cheguei a ter muita alegria, ao descobrir que eu era imune à Lepra e por isto não me assustava cuidar destes pacientes.

Além disto, tínhamos uma vez por semana, uma aula na escola de enfermagem, onde éramos preparados para entender o trabalho da enfermagem, a cuidar com carinho de quem cuidava diretamente dos clientes, não apenas ministrando nossas medicações, como cuidando fisicamente deles, chegando a limpá-los ao fazerem suas necessidades, banhá-los e dar muito carinho a todos.

Esta parte da minha formação foi tão importante, que ao vir Trabalhar no “Sayão”, era muito querido por enfermeiras, enfermeiros e suas chefias.

Executei tantos trabalhos publicados e apresentados nos Congressos de Psiquiatria, nos primeiros dois anos, e fui um dos principais responsáveis pela eliminação do Eletro-choque em pacientes, que fui dispensado de fazer provas para obter o título de Psiquiatra.

A Faculdade nunca me cobrou um centavo sequer pela minha formação, o que me criou a idéia de que eu jamais poderia cuidar mal de meus clientes e nem parar de ser um estudante ferrenho.

Estas falas, podem lhe parecer que estou fazendo propaganda do meu trabalho. Eu só tenho orgulho dele e o faço criando verdadeiros amigos entre meus Clientes.

Uma das afirmativas que li, como você deve ter lido, diz respeito à cobrança do ensino, que será muito cara, fazendo com que os médicos busquem Faculdades já experientes.

O Governo vive buscando mais médicos num papel safado, onde se não houverem propinas, o país que os manda para cá, recebe uma porção de dinheiro, no mínimo quatro vezes maior do que ganham os profissionais. Vejo nisto uma dupla canalhice, pois os profissionais no atendimento médico, vivem de cestas abaixo das “básicas” (melhor dizendo: enganação para obterem votos).

O mais sensato seria se o (DES)Governo pagasse uma quantia melhor, pois assim, a grande maioria médica iria mais feliz, não precisaríamos de importar explorados e o atendimento seria adequado, não de 15 minutos, sem exames, na maioria das especialidades.

Como pode ver Faculdades de Medicina feitas aos montes, com mensalidades altas e ensino vagabundo, vão formar o quê?

Uma Plantonista conhecida, disse-me que em seu horário de trabalho chega a atender até cem pessoas num plantão. Estou procurando entender a espécie desta “planta grande”...

Como vê a politicagem é doce (para os políticos), mas é de difícil deglutição (para nós).

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Dr.Márcio Funghi de Salles Barbosa

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