Entrevista (2)

- Entrevistador Antonio Moura.

- Entrevistado: (Anônimo – autorizou divulgação)

1. Como você se comporta, quando está obsecado por algo? Os seus pensamentos seguem um padrão? Descreva.

- A obsessão é um pensamento fixo em se conseguir algo “custe o que custar.” É completamente impossível à mente pensar ou se concentrar em qualquer outra coisa a não ser no objeto da obsessão que pode ser além de bem material, pessoas, viagens, etc. é uma compulsão negativa que nos limita, física, mental e espiritualmente. Antes da minha adicção já experimentei esse dissabor com carros, motos, mulheres; era ver, querer e pronto: ficava “baratinado” para conseguir e o que é pior, em quase todas ocasiões que isso aconteceu, saí perdendo financeira ou sentimentalmente. Conseguia aquilo que eu queria, ficava feliz, empolgado por um certo tempo. Depois me desiludia quando via o alto preço pago e o verdadeiro valor do objeto. Aí ficava frustrado, com sentimento de culpa por, às vezes, ter envolvido familiares ou amigos na minha obsessão. Com mulheres também, ficava grudado 24 horas por dia fantasiando, só pensava nela e em mais nada, sem medir conseqüências até conseguir. Algumas vezes me dei bem em outras fiquei decepcionado com a conquista, por não ser nada daquilo que eu pensava. Mas nenhuma dessas obsessões chegou aos pés da minha compulsão pelo álcool. Daí sim eu vi o que é não comer, não ter estímulo, não ter qualquer outra idéia, desmazelo com o corpo e com a casa, praticamente se alienar da sociedade como um todo e passar a viver só para beber. Não importava quanto custasse; eu queria ele ao meu lado, 24 horas por dia. E conseguia.

Na questão dos meus pensamentos seguirem padrão, creio ser até redundante dizer mas, não havia nenhum outro a não ser beber. Não pensava na minha moral, em mulher, em filhos e familiares em geral. Hoje, reconheço que o único padrão seguido pelos meus pensamentos era os da destruição própria e daqueles que me querem bem.

2. Quando um pensamento passa pela sua cabeça, age sem considerar as conseqüências? De que outras maneiras se comporta compulsivamente?

- Ultimamente, antes de passar a freqüentar Alcoólicos Anônimos, só tinha pensamento voltado para o álcool, não media as conseqüências e me comportava compulsivamente. Antes da fase aguda da adicção, costumava ser “atirado” em meus pensamentos. Se eu achava que ia dar certo, ninguém me tirava aquilo da cabeça. As vezes dava certo, as vezes dava errado, mas eu fazia assim mesmo. Vejo que esse é um defeito de caráter a ser bastante trabalhado. Ainda continuo me comportando compulsivamente em relação ao meu dia-a-dia com mulheres, lugares, negócios e objetos. Confesso que só estou admitindo e compreendendo minha compulsividade nas outras áreas de minha vida, agora durante essa entrevista. Vou criar um relatório diário, citando os momentos que as obsessões ou compulsividade ocorrem e escrever ali qual foi minha reação.