Dr. Marcelo A Domingues de Minaçu falar sobre células-tronco

Em entrevista exclusiva a Pastoral da Juventude (PJ), Dr. Marcelo André Domingues de Minaçu falar sobre células-tronco. Médico especialista em cirurgia geral a mais de 20 anos pela UFU - Universidade Federal de Uberlândia, diz ser contra as pesquisas com embriões por ferir o direito a vida.

1.Por que o senhor é contra o uso de células embrionárias para pesquisas e terapias?

Sou contra. Ser contra o uso de células embrionárias para pesquisas e terapias em pessoas portadoras de doenças disabilitantes em que o uso de células tronco poderia representar uma melhora na qualidade de vida e, ocasionalmente, a cura para essas enfermidades, soa como cruel e desumano para uma sociedade que considera justificável essas ações e relativiza a situação de embriões descartáveis após não mais representar interesse para os seus doadores.

No entanto, basta fazer uma reflexão sobre o grave risco ético e o potencial similar para as pesquisas em células tronco adultas que veremos que é justamente cruel e desumano a atitude de usar embriões para essa proposta. Veja por exemplo:

O potencial de aplicações médicas nesse campo - a utilização de células tronco para produzirem materiais biológicos - tem sido utilizado como justificativa moral para a liberação de pesquisas em células embrionárias. Em um país em que as questões de biossegurança não conseguem assegurar caminhos seguros para a pesquisa em animais de laboratório, como aprovar legislação permissiva para pesquisa em embriões humanos. Os que defendem a realização de pesquisas com células tronco embrionárias humanas utilizam o raciocínio moral de que um bem social, que será útil para muitas pessoas que sofrem de doenças hoje incuráveis, se sobrepõe ao de um indivíduo. Ainda mais quando este indivíduo é um embrião em fases iniciais. Várias personalidades do meio político, artístico e científico tem se posicionado nesse sentido.

De outro lado, aonde me enquadro, movimentos sociais em defesa da vida, respaldados por justificativas científicas em defesa do conceito da vida partindo da fecundação questionam de forma incisiva os graves entraves de natureza ético-social para a permissividade da liberação do uso de células embrionárias em alguns países que não tem conseguido evitar questionamentos e abusos praticados por entidades de pesquisa públicas e privadas inescrupulosas.

Já dizia Claude Bernard (Bernard C. An introduction to the study of experimental medicine. New York: Dover, 1957:101. (original publicado em 1852): “O princípio da moralidade médica e cirúrgica é nunca realizar um experimento no ser humano que possa causar-lhe dano, de qualquer magnitude, ainda que o resultado seja altamente vantajoso para a sociedade.” No Brasil e em qualquer lugar do mundo em um contexto de valores individuais que se sobrepõem aos valores coletivos dificilmente conseguiríamos dirimir os entraves éticos ligados ao abuso e ao interesses inescrupulosos de nossa sociedade materialista, individualista e utilitarista, em que tudo é descartável e relativo às nossas necessidades de consumo. Ao longo de 2001 foram publicados vários artigos em diferentes periódicos leigos e de divulgação científica defendendo e negando a pesquisa em células-tronco embrionárias. Na revista Correio da UNESCO foi publicado um artigo sobre o tema com uma grande preocupação sobre a possibilidade de envolvimento econômico na obtenção de gametas e embriões para a produção de células tronco, desrespeitando o tratado de Nuremberg assinado após a segunda guerra mundial.

2.O que o senhor pode dizer sobre as expectativas de pesquisas com células embrionárias?

Após as últimas pesquisas com células-tronco adultas realizadas no ano de 2007 chega-se à conclusão que o impedimento de utilizar embriões neste tipo de pesquisa não inviabiliza a investigação do uso de células tronco para fins terapêuticos. As células-tronco, ou stem cells, podem ser obtidas de outras fontes que não embriões. Em experimentos animais já foi possível obter células diferenciadas de fígado. Estas pesquisas também podem ser realizadas com células obtidas a partir da medula óssea humana ou de células de cordão umbilical.

Baseado nesses fatos fica evidente que só se justifica a manutenção de pesquisa em células-tronco embrionárias somente para alimentar a vaidade de alguns pesquisadores financiados por empresas que têm como único objetivo a ampliação do “mercado da vida”. Cabe a sociedade entender os motivo essencial de nossa existência e a importância da ciência como construtora de melhores perspectivas para toda a sociedade, respeitando os limites entre o bem e o mal, do “sofrer” e “não-sofrer”e, sobretudo, da vida e da morte.

3.E com relação aos embriões congelados, o que fazer com eles?

Em relação ao destino desses embriões que são vidas humanas, como são os portadores de deficiência mental, física e os idosos improdutivos, discriminados nessa sociedade de consumo e possivelmente as futuras vítimas dessa cultura relativista, com identidade própria, como também esses citados, cabe a eles destino humanizado, implantando aqueles possíveis e conservando outros para que o próprio destino natural, ou seja, o morrer natural venha a lhes dar um final digno de pessoas que são. É inadmissível que “jogos de ciência”, simplesmente com argumentos de perspectivas de compensação para o sofrimento de pessoas nascidas, coloquem estes embriões humanos na condição de cobaias para o alívio daqueles, que podem e devem garantir a esperança de dias melhores em pesquisas com células-tronco adultas.

4.O que o senhor pode dizer com relação ao julgamento no STF?

Quanto à decisão do STF retirando o veto para o uso de células tronco embrionárias para fins científicos dentro da lei de biossegurança resta lamentar essa decisão em momento inoportuno em que as pesquisa em células-tronco adultas transcorrem a passos largos e acreditar que a sociedade possa estar conscientizada do risco de natureza ética que essa decisão poderá levar, sobretudo em relação a outras possíveis decisões legislativas relacionadas à discriminalização do aborto, a prática da eugenia e a liberação da eutanásia.

Por: Sérgio Fernandes, Assessor de Comunicação da Pastoral da Juventude de Minaçu-Go.

Dr Marcelo Andre
Enviado por Dr Marcelo Andre em 15/03/2008
Código do texto: T901765
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.