Idiotas sofrem menos

Ele vive num quarto,

nem claro nem escuro.

Vive de porta fechada,

e janela entreaberta.

Tem um violão mas não toca.

Um caderno onde não escreve,

uma cama onde não dorme.

Ele tem planos

que não executa, ou não dão certo.

Ele passa os finais de semana sozinho,

e às vezes sai para ver a noite.

Ele bebe,

muito mais do que deveria,

Ele pensa em uma mulher,

ou em duas, ou várias.

Todas as que se foram,

que ele perdeu.

Que ele quis que ficassem, mas sem muita explicação,

foram embora.

Ele lê Bukowski,

desejando definhar e escrever até o fim do mundo,

ou o fim da vida.

Algo lá dentro lhe diz,

“Você foi feito para viver sozinho, se acostume”

Ele sonha,

dormindo e acordado.

Tenta tocar os sonhos com os dedos,

mas nunca os alcança.

Ele se olha no espelho pela manhã quando acorda.

Jamais faz a barba,

mesmo que isso lhe deixe com uma terrível aparência.

Ele sente que ninguém consegue captar a sutileza do que lhe aflige,

ninguém além do seu próprio reflexo.

De seus olhos vermelhos.

De sua barba malfeita.

Seu cabelo emaranhado.

Ele queria ser cínico.

queria não sentir essas coisas.

Ou ser simplesmente um idiota.

Idiotas sofrem menos.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 11/06/2013
Reeditado em 13/06/2013
Código do texto: T4337016
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