Minha vida secreta

Minha vida secreta

Movimento 63

Ele pensou na garota e como seria se a abraçasse

Jorrando liquido azul poderia ficar desidratado

Seu pensamento foi violentado por uma voz forte e aguda

Ela, pedalava o triciclo, por isso ofegante ao dizer:

Use a chave de fenda e nunca a chave de corda.

Minha vida secreta

Movimento 62

Ele não sabia a hora certa e as brotoejas ficavam mais azuis

Bastava girar a chave de corda

O formato de borboleta era só o fenômeno de pareidolia

A borboleta era leve e se movia com rapidez

Ele não gostou da cor das brotoejas, elas expeliam liquido azul.

Minha vida secreta

Movimento 61

Depois de algum tempo sentiu brotoejas precipitarem por todo o corpo

Eram azuis, brotoejas azuis como bolas de gude azuis

o solo também se precipitou numa estalagmite

Girando em quanto se elevava, ele estava pronto para acertar o relógio.

Minha vida secreta

Movimento 60

Ele notou que a torre já estava com algumas rachaduras e que pedaços eram sugados.

Uma implosão poderia causar danos ao relógio e descobrir a hora certa era fundamental

Nada podia ser feito e a torre implodiu-se

Muito pó, silêncio absoluto e ele pendurado no mastro

Escorregou até a base, se livrou do pó das botas

O relógio flutuava feliz

Ele ficou ali parado.

Minha vida secreta

Movimento 59

‘Parabolizado’, quase perplexo notou que um homem velho passeava tranquilamente no meio do vendaval.

Não tentou entender a técnica e continuou agarrado firme ao mastro.

Sentia que não conseguiria por muito tempo.

Ele estava a poucos metros da torre do relógio.

Observou que o relógio parecia feliz.

Minha vida secreta

Movimento 58

Ele não tinha muito tempo, não poderia, por circunstâncias obvias parar para pensar.

Era um homem da práxis, se agarrou ao mastro, para não ser sugado

Ela estava tentando vencer a ventania, o triciclo já não existia.

Estava agora sustentada pela corda e na ponta oposta, bem fixa numa palmeira a lança do arpão.

E de repente, não mais que de repente, foi atingida por uma antena parabólica.

Ele, incrédulo pensou em soltar o mastro se deixar sugar.

Minha vida secreta

Movimento 57

O vento era forte e soprava ao contrario, era um veto que sugava.

Ele era empurrado em direção oposta ao vendaval, era inútil resistir

Como um pedaço de papel ao vento ele bateu em paredes, postes, palmeiras e algumas vezes, quicou no solo, até achou engraçado, mas, logo mudou de opinião.

Depois de se chocar contra um mastro defronte a igreja, entendeu porque ela tinha um arpão.

Minha vida secreta

Movimento 56

Não muito longe dali estava a torre do relógio, e ele decididamente precisava saber quantas horas.

Tal necessidade era tamanha que ele decidiu correr e depois de algum tempo descobriu que estava no mesmo lugar.

Ofegante parou, foi quando a moça passou por ele.

Ela pedalava um triciclo e tinha com ela corda e arpão.

Ele ficou sem entender o arpão.

Minha vida secreta

Movimento 55

Enquanto caminhava, percebeu que a confusão temporal era ainda maior ou que pelo menos tinha um novo elemento, pois, o que se movia ao contrário, estava estático.

Tudo ali eram obstáculos. Resolveu testar, parou e o que estava em volta começou a se mover ao contrário.

Pelo menos a lógica do movimento foi conservada.

Ele pensou: Que lugar estranho!

Minha vida secreta

Movimento 54

Ele percebeu que parado o tempo não passava

Lembrou da igreja, das batatas fritas e de sua passagem pelo campo de balões.

Logo concluiu que o tempo é mesmo uma concepção humana, muito embora as ações aconteçam ao contrario, não estão ligadas ao tempo, pois o tempo só é.

Ao pensar assim, se moveu em direção à torre do relógio.

Minha vida secreta

Movimento 53

O homem irritado começou a escrever ao contrario

Ele viu surgir a sua frente frases sendo escritas a partir do ponto final.

Esperou calmamente e depois pegou o papel em branco

O casal se afastou e só então percebeu que ali existia o presente e o passado.

O passado era o futuro do presente.

E o casal, na medida em que se afastava para o passado sorria ao contrario.

Ele parou pra pensar numa solução.

Minha vida secreta

Movimento 52

Ele ficou encantado com as botas, até bateu uma contra a outra, depois saltou só pra conferir se a tinta estava mesmo fixa.

Enquanto olhava as botas, percebeu que as pessoas andavam ao contrario, o som era invertido e o que era côncavo agora era convexo.

Ele riu e apertou a fivela do cinto enquanto um casal que caminhava ao contrário passou e parou a sua frente, ele inicialmente não entendeu o que falavam.

Era preciso um tempo para se acostumar com a nova maneira de falar.

Minha vida secreta

Movimento 51

O tempo não seria o suficiente para uma reflexão

Na verdade ele não pensou nisso, se tivesse tempo cantaria uma música

Só resolveu não fechar os olhos, ele queria ver e sentir o impacto na totalidade

A convergência superior estava sob influência dos túneis das distâncias incalculáveis, dos semáforos indecisos e dos caracóis surfistas.

A convergência dessas influências provocou um nó no tempo e no espaço

Ele não acreditou, mas a 1,5m de distância e o caminhão em alta velocidade ficou no passado.

Ele usava botas coloridas com cano alto.

Minha vida secreta

Movimento 50

Por muito tempo dirigiu sem sair do lugar,

o túnel tinha paredes iguais e a convergência superior estava sempre a 5 KM

Ele resolveu parar e continuar caminhando, quando desceu do caminhão já estava na convergência.

Ele esperou que ela parasse. Ficou no meio da pista e na medida que o caminhão se aproximava, sentia medo.

15 metros era distância entre ele e um caminhão em alta velocidade

Ela continuou sem frear.

Ele pensou:

Terei que fugir do hospital.

Minha vida secreta

Movimento 49

Na entrada do túnel principal, ela não usou os freios, desligou as luzes

Ele negociou com o motorista e assumiu a direção, ligou o turbo e abandonou a carga.

Ela dirigia muito rápido e pegou o túnel com curvas pra direita

Ele ainda estava no túnel das samambaias

Sentiu que poderia alcançá-la na convergência superior

Acelerou e entrou no túnel das distancias incalculáveis.

Minha vida secreta

Movimento 48

Confuso, pois o grito ‘Ela roubou meu caminhão’ despertou a multidão de motoristas do silêncio colossal.

Num instante, o barulho foi ensurdecedor, cerca de 600 caminhões tiveram seus motores ligados.

Sem escolher, ele entrou na boleia de um dos e uma perseguição se iniciou.

Ela dirigia em alta velocidade em direção ao labirinto de túneis.

Minha vida secreta

Movimento 47

O vento soprava frio

Percebeu que a garota andava furtiva entre os caminhões estacionados.

Ele correu para alcançá-la, a quantidade de caminhões e as dimensões do estacionamento não permitiu.

De um lado para outro, atento ouviu o som de um motor no lado oposto do estacionamento.

Apenas o motorista nervoso.

- Ela roubou meu caminhão!

Minha vida secreta

Movimento 46

A garçonete lhe serviu o café e um biscoito

Ele olhou com desdem, cheirou o biscoito e decidiu pedir mais um

Pensou:

- Não vou abandonar apenas um biscoito, dois é o numero ideal.

Tomou o café e decidiu sair.

Ao se virar percebeu que os caminhoneiros se abraçavam

A garçonete explicou - pelo menos uma vez por semana temos um protesto e um abraço coletivo e hoje o senhor não paga o café.

Ele pensou nos biscoitos antes de sair.

Minha vida secreta

Movimento 45

Ele gritou para pedir um café

Silêncio total no ambiente, no entanto,

a garçonete gritou - Com ou sem açúcar?

Indiferente, respondeu com calma:

- Só café.

Minha vida secreta

Movimento 44

Por um erro de trajetória

Ele conseguiu cair sobre o toldo de um restaurante para caminhoneiros

Na ocasião, acontecia um protesto por falta de palitos de dentes

Não se abalou com a situação. passou por entre os revoltosos

Tinha apenas um objetivo, depois de tomar café

Procuraria um telefone.

Sentiu se animado, sentou se.

Minha vida secreta

Movimento 43

Sem um plano se lembrou

“ Para voar basta errar o chão” (Douglas Adams)

Instantes depois ele iria descobrir, os literatos floreiam muito a realidade.

Durante a queda ele se perguntou:

- Qual é o pensamento de quem pensa enquanto cai do prédio?

Uma questão muito especifica, porém fundamental. Afinal, pode ser o ultimo ato voluntario.

Era preciso terminar a queda e avaliar os resultados.

Continuou caindo.

Minha vida secreta

Movimento 42

Considerou cortar a corda e fazer uma reflexão

Isso levaria muito tempo e o vento poderia mudar

Resolveu fazer um plano de vôo

O pouso poderia ser tranquilo

Instabilidade e queda livre

Ele pensou:

Não será desta vez que farei um plano.

Minha vida secreta

Movimento 41

A ambulância, o mundo lá fora e a fuga

A ambulância

(Bônus) 1

Não teve problemas para entrar na ambulância

Sentia cólicas e um estado de embriagues

Ao abrir os olhos a luz forte procurava sinais vitais

O ambiente não era confortável

Faltava travesseiros e as janelas estavam cerradas

O mundo lá fora

(Bônus) 2

Ele tentou, sem sucesso, as janelas não abrem

A cólica, falta de ar e a paisagem mutante da janela

Escuro, claro, rápido, lento e o suor

O mundo lá fora convidava para uma caminhada

Seria lenta e cheia de detalhes

Ele pensou:

Vou caminhar descalço.

A fuga

(Bônus) 3

Encheu os pulmões, segurou e soltou

Sentia se com força suficiente para uma fuga

Ele não planejará a fuga, teria que improvisar

Usaria táticas de guerrilha, mas escaparia

Alguns lençóis, com nós fez uma corda

Mais nós, pára-quedas pronto

Ele saltou e num instante, já estava fora

Puxado pela ambulância

A paisagem do alto era tranquila.

Minha vida secreta

Movimento 40

Ele estava livre do corpo

Podia se mover com velocidade incrível

A ambulância já estava partindo

Ele pensou:

Vou recuperar meu corpo.

Minha vida secreta

Movimento 39

Enquanto seu corpo era removido

A consciência do corpo e da realidade

Dessincronia!

Seu próprio corpo carregado

Ele ficou ali olhando

Minha vida secreta

Movimento 38

Ele pensou:

- Que pé é esse? Direito ou será o esquerdo?

Tudo lhe parecia distante, desconexo

Uma dor leve, aguda e rápida no braço

Seu corpo foi virado de um lado para o outro

Sentiu necessidade de regurgitar.

- Caso de intoxicação clássica.

Minha vida secreta

Movimento 37

Silêncio absoluto, as luzes foram se apagando

Cheiro de mirra, a escuridão era densa e palpável

Quase liquida, ele sentiu o corpo leve

O solo não lhe sustentava, flutuava sem questionar

Algo lhe tocou um dos pés

Quente e com vida, estava em duvida.

Minha vida secreta

Movimento 36

A porta se abriu violentamente

O corredor do teatro igreja foi inundado

Os gritos eram de alguém desesperado

Talvez precisasse se confessar

Somente o som do grito passou por ele

A porta se fechou.

Movimento 35

Achou engraçado o manustérgio

Usou como bandana e resolveu não esperar

Não saberia se comportar ao ouvir uma confissão

Enquanto caminhava para saída, pensou na moça

- Ela deve vir se confessar

Minha vida secreta

Movimento 34

Para atingir a transcendência desejada

Tomou o cálice nas mãos, tomou num só trago

Comeu a grande hóstia

Pessoalmente tocou o grande sino

Olhou a âmbula, servida com batatas fritas

Em silêncio pensou:

- Amanhã teremos mais fiéis

Minha vida secreta

Movimento 33

Ele abriu os olhos

Estava atrás de um enorme altar

Substituiu sorrateiramente as hóstias por batatas fritas

Vestiu a Alva e pensou:

- Estou pronto.

Minha vida secreta

Movimento 32

Com a força da sucção,

todos os pêlos do corpo lhe fora arrancados.

Era uma dor gelada e superficial

Sentia se purificado, limpo.

Sem soltar o pacote de batatas, pensou:

- Devo abrir os olhos.

Minha vida secreta

Movimento 31

Seu corpo não se adequava à dança

Procurou a porta dos fundos, sairia assim.

Identificada, foi em tal direção

Abruptamente,

Ele e um pacote de batatas fritas,

foram sugados.

Minha vida secreta

Movimento 30

A festa estava animada

Ele, completamente nu, foi aplaudido

Todos o imitaram, ele sorriu antes de encobrir a tela

Arrancou a corda da cortina

Fez um colar e foi dançar.

Minha vida secreta

Movimento 29

Ele queimou um pouco as mãos

De fato, muito menor que os bailarinos

Desviando de uma possível pizada

Encontrou o jardim e procurou o jato do sistema de irrigação

Se hidratou o suficiente para ficar na festa.

Minha vida secreta

Movimento 28

Procurando a saída.

Ele estava no ponto mais alto da popa

Na moldura uma fenda.

Ele pode ver a moça se pendurando na corda da cortina

Ele correu para alcançá-la

Ela já deslizava pela corda quando gritou

- Quando sair procure uma torneira.

Minha vida secreta

Movimento 27

Os convidados se movimentavam freneticamente na grande sala.

Alguns admiravam a pintura em óleo sobre tela.

De um lado a tela, do outro, a sala

Ele ouvia o buxixo da sala e o quebrar das ondas

O leme estava travado.

A navegação só era possível entre os dois mundos.

Minha vida secreta

Movimento 26

(Três leis são suficientes)

1 - Passageiros ou a tripulação não podem ser perturbados.

2 - Só existe uma saída.

3 - O destino do barco depende das correntes.

A companhia de navegação e transporte funerário agradece sua presença.

Minha vida secreta

Movimento 25

Caído junto ao mastro central, o convés visto de tal ponto, parece maior.

Ficou imóvel por algum tempo. Pôs se de pé!

Se dirigiu para a cabine, supostamente, do comandante.

Numa placa, escrito com letras góticas.

REGIMENTO DE BORDO

Antes do regimento um aviso.

‘Se você consegue ler, esta no barco errado.

Minha vida secreta

Movimento 24

Achou melhor não pensar em culpa.

Sentia um pouco de frio, mas não se ateve a tal sensação

Procurou sentir outras coisas e abruptamente, a sua frente um veleiro

O choque foi inevitável e a enorme vela se curvou.

No instante seguinte, deslizava rumo ao convés.

Ele pensou:

Tenho que cair em pé.

Minha vida secreta

Movimento 23

O coro de balões se manteve no limite da cerca.

Os Tenores temiam uma tragédia, mas foram repreendido pelos otimistas Sopranos.

Os balões salva balões, nada podiam fazer por ele.

Parado diante do rio, precisava rapidamente decidir entre o mergulho insano e o regressar para o suave mundo dos balões.

A corredeira parou, pois, a velocidade de mergulho era a mesma da corredeira.

Ele fechou os olhos e decidiu ficar assim, até o momento do possível impacto.

Enquanto isso pensou:

Serei culpado pelo que penso?

Minha vida secreta

Movimento 22

Enquanto se aproximava da cachoeira, analisava cuidadosamente o ambiente.

Concluiu que não se tratava de uma cachoeira, sim de um rio vertical e,

com a velocidade da corredeira muitos fios de água se congelam em forma de agulhas.

Grande risco para os balões e inofensivo para a moça que se preparava para saltar.

Ele correu para impedir o salto.

Ela não o percebeu, saltou com graciosa acrobacia.

Minha vida secreta

Movimento 21

O despertar, o campo de balões e a cachoeira de agulhas congeladas.

(Bônus 01)

O despertar.

Ele ignorou toda a lógica que conhecia ou imaginava conhecer.

Haviam balões cantantes no ambiente, formavam um coro, em semicírculo e identificados como Baixos, Tenores, Contraltos e sopranos.

Ele pôs se de pé, encantado com os Tenores foi em tal direção

Ao se aproximar, o coro se elevou.

Tal movimento revelou uma paisagem rica em cores e detalhes.

O campo de balões

(Bônus 02)

Estava agora em um imenso campo de balões.

O coro de balões o acompanhava de perto

Tudo ali era formado por balões a grama, montes, árvores e flores

Ele identificou um cão balão, uma abelha balão e uma girafa balão

Pensou na moça:

- Se ela não tivesse caído tão rápido poderia apreciar a bela paisagem.

Logo esqueceu e tomou a estrada de balões

Após a curva, podê ler num balão de sinalização:

Cachoeira de agulhas congeladas.

(Bônus 03)

O balão de sinalização indicava que a Cachoeira de agulhas congeladas estava próxima.

O barulho, já podia ser ouvido.

Ele se apressou, pois estava de certa forma, curioso

Pouco tempo depois estava diante de uma cerca de balões e de um balão de advertência

‘Área proibida para balões’.

A partir da cerca nenhum balão se aventurava, exceto os balões salva balões ou os balões suicidas.

Parado diante da cachoeira de agulhas congeladas, ele pensou:

Preciso entender isso.

Minha vida secreta

Movimento 20

O longo tempo de queda já o entediava, ele já considerava uma bizarrice ter que cair lentamente.

Foi então que observou alguns balões e não demorou pra que se chocasse contra outros, que insistentemente bloqueavam a trajetória.

Foram vários choques, mas eram choques suaves e os balões se aglomeravam.

Um tipo de proteção construídas com balões aveludados e vermelhos.

Estava agora sobre um conjunto desses, já não mais caia. Era conduzido .

Não se preocupou e adormeceu.

Minha vida secreta

Movimento 19

Depois de algum tempo em queda, já não poderia reconhecer a ponte, mas desejou que a moça também caísse.

Ele insistiu em manter o olhar na direção da ponte.

Não queria perder a referência do ponto e sentia uma espécie de vontade de voltar.

Já estava se acostumando em com a queda interminável, quando notou que algo se aproximava rapidamente.

Se manteve firme na posição em que caia e viu a moça passar com uma velocidade incrível.

Apenas a fita azul a acompanhava.

Ele pensou:

- Ela parece conhecer o ambiente.

Minha vida secreta

Movimento 18

Ele estava agora no meio da ponte e ela inda estava sólida, mas, tinha a sensação que toda estrutura se retorcia lentamente.

Sem tempo para pensar numa saída, percebeu que a torção já estava em 90º.

A queda era suave e a velocidade não aumentava.

Passou pela moça acreditando que poderia pensar na moça durante a queda.

Nada lhe veio e continuou a queda.

Via apenas a ponte retomar sua posição original.

Minha vida secreta

Movimento 17

A ponte suspensa começou a se mover ao seu encontro.

Com ela, o rio e toda a paisagem se adequavam ao movimento improvável.

Ao se aproximar, pode perceber que sob a ponte, os enormes arcos de sustentação davam também, suporte à moça que em fitas de tecido realizava acrobacias circenses

Na medida em que avançava sobre a ponte, notou que ela (a ponte) retornava ao ponto de origem e concomitante, o cânion se aprofundava e a moça se distanciava.

Ele pensou:

- Seguirei até o meio da ponte, provavelmente o ponto de equilíbrio.

Minha vida secreta

Movimento 16

Ele ficou parado por alguns instantes e logo, resolveu seguir andando.

Já não conseguia ver a moça, poderia tomar qualquer direção.

As estalagmites já não brilhavam e o canto do feiticeiro ainda podia ser ouvido

Uma ponte, longa e suspensa lhe chamou a atenção.

Ele pensou:

Atravessá-la ei.

Minha vida secreta

Movimento 15

Não demorou até que a neblina se dispersasse e a sua frente, num ritual frenético, um feiticeiro.

Como oferendas havia flores, mel, amendoim, uma lança e um chapéu

Ele pensou:

Na verdade, ele não pensou em nada.

Quando já se afastava ouviu o quebrar da casca de um amendoim

Ele parou de repente.

Agora pensou:

- Gosto muito de amendoim e não fui convidado para o banquete.

Minha vida secreta

Movimento 14

Ele pensou:

A quanto tempo uso óculos!

Uma neblina densa, escura e triste inundou a paisagem.

Minha vida secreta

Movimento 13

A noite chegou e ele pode ver as estalagmite brilharem.

Levantou se e iniciou uma caminhada e só depois de algum tempo percebeu que a moça com o sorriso caminhava logo a sua frente.

Ela parecia bailar enquanto desviava dos exemplares mais brilhantes.

Ele a seguiu, sem ser visto.

Então pensou:

- Ela conhece o caminho para a calçada do outro lado da rua.

Minha vida secreta

Movimento 12

Todo o turbilhão de coisas passou diante de seus olhos, e tudo mais ali se desfez.

Ele sentiu uma brisa fria em todo o corpo.

Estava agora sobre uma espécie de estalagmite

Toda a paisagem tinha tal aspecto, embora não fosse difícil perceber a semelhança com um jardim de estátuas.

Ele não estava perdido, sentia se confortável, porém, sentia um frio leve

Sentou se para esperar anoitecer.

Minha vida secreta

Movimento 11

Ao entrar na ótica, se deparou com um ambiente temático para colecionadores de óculos.

Todos os exemplares disponíveis eram exatamente iguais.

Ele escolheu o terceiro da prateleira mais baixa. A vendedora disse que era uma cortesia e lhe mostrou a saída.

Para sair, seguiu a seta e o longo corredor estava regurgitando os escritórios e lojas.

Ele viu a moça ser levada no turbilhão de coisas e moveis.

Não ficou preocupado e esperou sua vez.

Minha vida secreta

Movimento 10

Confuso com uma seta pintada no piso que indicava a saída, pensou:

- Comprarei óculos e agora que sei onde fica a saída posso escolher meu destino.

Ele ignorou a porta da esquerda.

Minha vida secreta

Movimento 9

Havia portas ao longo de todo o corredor, ele pode ver a garota com a máscara de sorriso na nuca entrar em uma das portas.

Ele, não titubeou em acompanhá-la

Se esforçou para chegar rápido, parado diante da porta pode ler – Entre sem bater

Ao abri-la percebeu que estava diante de outras duas portas

Direita estava escrito – Ótica

Esquerda – Conheça seu destino

Minha vida secreta

Movimento 8

Começou a chover, era uma chuva densa e indecisa

Suas as roupas, o bastão, apito, cadeira e tudo mais daquele lado da calçada começou a se

desfazer como pintura fresca, que se lava com a água em abundância.

Ele fechou os olhos e tentou não pensar em nada.

Impossível, pensou analisando todas as conseqüências de abrir os olhos.

Ele abriu os olhos e estava agora nu, parado no centro de um longo corredor e tudo a sua

volta estava em preto e branco envelhecido.

Ele pensou:

- Preciso de óculos.

Minha vida secreta

Movimento 7

Vestido de palhaço, ele caminhava com elegância, tinha também um bastão em uma das

mãos e um apito na outra.

Pensou em se divertir, adotaria uma nova identidade e arrancaria sorrisos da multidão, mas

essa identidade seria inútil.

Parou e olhou a sua volta, identificou uma cadeira de balanço esquecida por um palhaço

idoso.

Sentou se, escolheu a posição mais confortável, usou o bastão para se balançar e ficou

olhando o outro lado da rua.

Minha vida secreta

Movimento 6

Seu campo de visão foi preenchido por uma multidão que usava roupas multicoloridas

Decidiu seguir o sorriso, mas tinha dificuldade em acreditar que seria possível

Seus bolsos estavam vazios e ele via o outro lado da rua, como o lado certo

Suas convicções sempre lhe impeliram a fazer a coisa certa

Convencido da boa intenção, um palhaço lhe emprestou suas roupas e nu se infiltrou na

multidão.

Ele sentiu as roupas apertadas e parou a respiração para se adequar.

Minha vida secreta

Movimento 5

Ele não se permitira fugir e deixar a moça com o sorriso

Então invisível gritou:

- CORTOU

Ele esperou o descongelamento total e com tantos palhaços,

Seria necessária uma máscara

Ela usava duas e tinha agora um enorme sorriso na nuca

Ele ficou indeciso e preferiu não acreditar

Minha vida secreta

Movimento 4

O tempo não fluía, seu corpo estava pesado e a moça que lhe sorrirá estava a alguns

metros.

Ele não se movia, mas pensava como deixaria o local sem ser percebido.

Sentiu que seus pés estavam se integrando ao solo.

Ele pensou:

Preciso rapidamente me mover, assim evitarei o congelamento.

Fechou os olhos e ficou invisível.

Minha vida secreta

Movimento 3

Ele resolveu acompanhar a moça.

Se virou e a cidade estava congelada, estática e a moça não estava ali.

Ele sentiu frio, mas já tinha se esquecido de como era sentir calor.

AÇÃO!

Ele ouviu de um alto-falante, então seria melhor não se destacar.

Ficou imóvel, com um largo sorriso congelado.

Minha vida secreta

Movimento 2

A moça passou por ele e retribuiu o sorriso. Talvez fosse só educação.

Ele pensou:

- É melhor não acreditar em nada, o sol ainda não se pôs.

Conferiu os bolsos, sem encontrar nada, se sentiu livre para tomar qualquer caminho.

Minha vida secreta

Movimento 1

Ele pensou:

- Se eu atravessar a rua logo estarei na calçada oposta.

Então ele atravessou e a cidade não era a mesma.

Ele se sentiu livre.

E enquanto sorria para a moça que caminhava, pensou:

- Moving cross the borders of my secret life…

Nobody cares if the people live or die.

Minha vida secreta

http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=dcZY6TzzU0I&NR=1

Sidi Leite
Enviado por Sidi Leite em 25/03/2014
Código do texto: T4743037
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