O QUE É SER POETA? (resposta a uma interlocução)

Luciana Carrero

Sou apenas uma escritora e não me considero poeta no sentido amplo. Costumo expressar-me em prosa, verso, alegorias, ensaios, contos, crônicas e outros formatos; e assim ando com um ou outro gênero de escrita. A minha visão pessoal é bastante exigente sobre assumir a posição de poeta. A Poesia é a mais sagrada manifestação do ser humano. Embora muitos ditos e auto-denominados poetas sejam festejados, não vejo, no mundo de hoje, alguém que possa usar esta coroa. O escritor que merece esta láurea é bastante raro, surgindo alguém empoderado, como um avatar, em cada cem ou duzentos anos. Se eu me denominar poeta ou infundir esta ideia de que o sou, em alguém, estarei sendo pretensiosa e injusta, em termos comparativos; e induzindo as pessoas a uma interpretação não real do que sou. Se algumas vezes for bafejada pela genialidade da poesia, já estarei agradecida. Ninguém é poeta o tempo todo. Sei que já flertei e flerto com a Poesia, ocasionalmente, como sói acontecer a alguns dos que escrevem, no nosso tempo, porém, quem se disser poeta poderá estar enganado. Se um dia formos poetas, na interpretação mais funda da palavra, estaremos tão impregnados dela (a poesia), que nem saberemos quem somos. A Poesia é um estado de graça e magia que não ouso macular. Na santidade da poesia vive o verdadeiro poeta, sem necessitar nem mesmo escrever. E agora lembro sua santidade Mário Quintana, que vivia em estado de poesia. Quem mais alcançou este estágio depois dele? Não estou querendo desmerecer a ninguém, nem a mim mesma, mas fecho questão: Por mais que denominem alguém como poeta, por mais que seja inspirada esta pessoa, a poesia não é para quem pensa tê-la por companhia na caminhada lítero-artística. É para os escolhidos. Meu desafio vem no sentido de: quem vai reivindicar a coroa? Ou vai aceitar a láurea? Certamente não serei eu, que ando entre prosas e versos, alegorias, rimas e ficções, ritmos e teorizações, cadências, métricas, metáforas ou seja o que for, podendo até conter alguma poesia. No entanto, a menos que um acontecimento novo faça com que a "Entidade Poesia" se apaixone por mim, sou simplesmente a escritora. E serei a última a perceber minha condição de poeta, porque, neste caso, já andaria tão congeminada a ela, que para mim configuraria um jeito normal de ser. Assim declaro, porque, no momento, ainda sou aquele "pequenino grão de areia que olhou pro céu, viu uma estrela, e imaginou coisas de amor". Abraços e obrigada por dar-me este título de nobreza, em sua interlocução. Neste comparativo e, voltando ao título, ser poeta é ser pai ou mãe da estrela do mar. Abraços.