O Anjo Caído
mentiroso
disse-me o mendigo ao ler meu poema
‘anticristo’, resmungou baixinho
n’ouvido fino
dessa trova insana
nasceu um cadáver
cheio de energia
e virtuosidade
Escritor, és tu sacripanta e mentiroso
ousa desfazer o nó dos bons afetos
busca nesses olhares
as pequenas sinceridades
d’javu
como sorrir em francês
e chorar em qualquer
língua latina
tudo retorna
‘anticristo’ sois vós que
anuncias
por palavras
renuncias à palavra de Deus
se torna herege
automaticamente
se torna um Deus
Sou um Deus
Crio aqui
Não me importa o que os demônios gritem
pois gritem!
Sou Deus
e desde tudo meu único território
depois de um útero
é mim mesmo
Escritores sois vós anunciadores da verdade
seja qual for a que perceberam
um dia depois do
outro
Deus na beleza das pequenas coisas
Minha proeza
nossa vitalidade
a minha
sempre haverá uma pedra
À frente do muro enorme
e eu chamarei de amor
a pedra, e o muro
O anjo caiu e ele tem garrinhas
os olhos comprimem
e saltam
do rosto, azuis
escritores que contemplam a arte
com a boca amarrada
na prática
são desequilibrados
outros ainda tentam,
descuido por descuido
um sopro nas artérias
atrás das cabeças sãs
e, com asinhas cortadas
voam baixo sobre uma terra podre
pois são parasitas
e amanhã não saberão de nada