O Anjo Caído

mentiroso

disse-me o mendigo ao ler meu poema

‘anticristo’, resmungou baixinho

n’ouvido fino

dessa trova insana

nasceu um cadáver

cheio de energia

e virtuosidade

Escritor, és tu sacripanta e mentiroso

ousa desfazer o nó dos bons afetos

busca nesses olhares

as pequenas sinceridades

d’javu

como sorrir em francês

e chorar em qualquer

língua latina

tudo retorna

‘anticristo’ sois vós que

anuncias

por palavras

renuncias à palavra de Deus

se torna herege

automaticamente

se torna um Deus

Sou um Deus

Crio aqui

Não me importa o que os demônios gritem

pois gritem!

Sou Deus

e desde tudo meu único território

depois de um útero

é mim mesmo

Escritores sois vós anunciadores da verdade

seja qual for a que perceberam

um dia depois do

outro

Deus na beleza das pequenas coisas

Minha proeza

nossa vitalidade

a minha

sempre haverá uma pedra

À frente do muro enorme

e eu chamarei de amor

a pedra, e o muro

O anjo caiu e ele tem garrinhas

os olhos comprimem

e saltam

do rosto, azuis

escritores que contemplam a arte

com a boca amarrada

na prática

são desequilibrados

outros ainda tentam,

descuido por descuido

um sopro nas artérias

atrás das cabeças sãs

e, com asinhas cortadas

voam baixo sobre uma terra podre

pois são parasitas

e amanhã não saberão de nada

Gabriel Sacramento Filho
Enviado por Gabriel Sacramento Filho em 21/08/2015
Reeditado em 21/08/2015
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