destroços de naufrágio

Sonhei que gozava na cara de todas as garotas que já passaram pela minha vida, todas as que me abandonaram, me fizeram sofrer, todas as que eu decepcionei. O inferno para onde elas foram tem mil entradas, eu contei sete. Eu espero o perfume erótico, o som dos passos, mas só a morte quer trepar comigo. A fossa me engole aos poucos, as pequenas derrotas lentas e cotidianas, as mais dolorosas, escarnosas. No feriado tudo fecha as portas, o céu, o inferno, todos os bares de misericórdia. Meu último cigarro roubado tem gosto de tristeza e câncer. A minha morte cheira a um animal pendurado no gancho do açougue, querendo ser escolhido entre os outros pra ser devorado no jantar por algum velho fudido, deslizar pra dentro do estômago e virar merda. Se arrastar pra casa no final do dia como uma reles trepada de quinta, esperando, esperando a merda sair do corpo, esperando o dia em que a gente vai sair dela.

Arthur Rabelo
Enviado por Arthur Rabelo em 30/01/2018
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