Último suspiro

Doutor…

Doutor…

Doutor…

Chamava ele com a voz desacelerada, e num tom razoavelmente audível pelo médico

que passava pelo corredor de sua sala de internamento, por coincidência.

“Sim, já vou meu senhor” responde ele. “Será que o senhor pode-me fazer um

favor, por favor?” Questiona-o ele com as forças repousadas aos poucos pela

doença .

“Como não meu senhor?”, “Em que lhe posso ser útil”, acrescentou o médico.

“É de manhã pois não?” pergunta o paciente. “Pois sim, meu senhor” diz ele. “E

o sol já nasceu?”. Pergunta-lhe. “Claramente senhor, e faz um belo sol logo

nas primeiras horas do dia” responde gentilmente o jovem senhor médico. “Será

que me pode levar até lá fora, para contemplá-lo?” pede o paciente. “Mas

senhor, o senhor devia poupar os esforços” aconselha-o. “Eu sei doutor, será

um segredinho nosso não contarei para ninguém que me levou até lá,

ficará entre nós” afirma o paciente sem saber que não sobram outros médicos,

para além daquele. Pensou o jovem senhor “Nada disto devo dizê-lo, está num

estágio crítico de saúde” guardou a conclusão de seu pensamento para si, com as

mãos cobertas com as luvas tocou na as do paciente “Está certo senhor, eu vou

levá-lo para ver o nascer do sol, esse é um segredinho nosso não deve

contar para ninguém, certo?”. “Pode ficar tranquilo doutor, o senhor tem a

minha palavra” diz ele com um leve sorriso a espreitadela no canto de seus lábios.

Levou-o para então contemplar o sol, lágrimas não tardaram para rolarem em seus

olhos, “olha doutor, como é belo”, “simplesmente belo” acrescentou. “claro

senhor, é muitíssimo belo” diz o médico.

“A natureza tem sido muito generosa, o senhor nem pode imaginar o

quanto tem sido generosa” diz o paciente acamado. “como assim senhor?”

Questiona o Doutor como quem realmente não entendeu o que fora dito. “foram-se

os primeiros para que não lamentassem, e nem sequer pranteassem a

morte dos outros”, “olha doutor como realmente é belo, intrigante belo.”

Acrescentou ele com um brilho indescritível em seu olhar. “Quer que a gente

volte senhor? Questiona o médico. “Não doutor, eu já não tenho como voltar,

eu também partirei para não carregar o mesmo fardo, só queria ter a

certeza última de que não sou um homem, apenas um homenzinho que

olha para o universo de forma diferente” Acrescentou o paciente. Mas o

senhor já não deve se preocupar com isso, não acha não senhor? Questiona

o Doutor sem se aperceber que o paciente deu o seu último suspiro. Aquelas foram

as últimas palavras de Zambi paciente de 10 anos de idade para o seu amigo doutor

Madukih de 76 anos de idade.

Padrões poemia II de Susatel

Susatel
Enviado por Susatel em 20/11/2021
Reeditado em 27/11/2021
Código do texto: T7389977
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