CICLO DA VIDA

A primavera estava indo embora e o verão chegava resplandecente, ensolarado.
No meio daquele parque ficava aquela velha árvore centenária. Dizem que um velho monge budista ali havia plantado aquela sementinha. Era , agora, um enorme carvalho. Durante a primavera encheu-se de folhagem nova, verdinha.
Agora no verão, seus galhos e folhas verdes serviam de repouso para os velhos e crianças. Quantos piqueniques ali naquela sombra! Risadas de crianças felizes, sono leve dos mais velhos. Quantas juras de amor e corações cravados naquele tronco que sangrava. Ninhos de pardais, tico-ticos, bem-te-vis e tantas outras aves que emprestavam seus belos cantos à paisagem. Quase encostando ao pé do carvalho corria um pequeno riacho de límpidas águas espelhadas que desciam em pequenas cascatas das grandes pedras logo adiante.
Milhares de folhas verdes faziam a alegria da natureza.
O verão passou rápido e depois dele chega o outono. As folhas clorofiladas agora estão se tornando amareladas. Brisas sopram a copa da árvore e folhas vão se desprendendo para dar espaço às outras que logo virão.
Aquela pequena folhinha teimava em ficar na copa da árvore, não queria desgarrar-se dali. Ali tinha bela vista da paisagem. Segurou-se até o fim. Gostava de ouvir o canto dos pássaros, gostava de ficar perto do azul do céu, de ver as nuvens brancas a se transformarem em desenhos, sentir a brisa balançando-a. Se lembrava ainda de quando era apenas um pequeno e frágil brotinho despertando para a vida, crescendo ao farfalhar de suas amigas. Sentiu medo quando algumas de suas amigas começaram a amarelar e a despencar para o abismo do chão. Algumas mergulhavam no riacho e se iam para sempre, outras eram levadas pelo vento. Então agora era ela que amarelava, porém já o medo se esvaía, sabia que como as amigas anteriores a ela lhe deram passagem para nascer e crescer, também ela agora tinha esta missão. Veio o vento e ela soltou-se do galho. Foi soprada para longe e ao cair encontrou-se com velhas amigas.
Agora ela sabia que enriqueceria o solo adubando-lhe para que a próxima primavera fosse tão linda e extasiante como esta que ela presenciou. Sentiu-se aliviada, pois sabia que de alguma forma, ela, aquela pequenina e frágil folhinha, de alguma forma tinha feito parte do grande ciclo da vida.