A Rã e a Tartaruga
- Vovó, conta aquela da rã e da tartaruga!
- Ah! De novo Paulinho?
- Conta vai! Eu adoro imaginar a cena das duas.
- Está bem, está bem! Então vamos lá preste bem atenção, não vale dormir antes do final hein!
E Paulinho ia se aconchegando silencioso e atento para ouvir novamente aquela linda história, como se fosse pela primeira vez!
....Era uma vez, num lugar muito distante daqui e há muito tempo, tempo em que os animais falavam. A noite estava muito escura e fria porque havia chovido bastante, quase um dilúvio. A terra estava encharcada para todos os lados onde se pisasse, e o céu continuava encoberto por nuvens densas e não havia nenhum sinal de estrelas. E o vento anunciava mais chuva.
Todos os animais recolheram-se rapidamente para os seus abrigos. As formigas para o formigueiro, os cavalos para o estábulo, as galinhas para o galinheiro, enfim, - todos os animais foram para suas devidas "casas", juntar-se às suas famílias até a chuva passar o que provavelmente só aconteceria no dia seguinte.
Rãsoleta frágil por sua cegueira, caíra num brejo lamacento e pegajoso, prendendo o seu pezinho de tal forma que ela mal conseguia se mexer. Atolada quase até o pescoço e muito assustada com o silêncio que lhe rondava, - começou a berrar.
- Socorro! Socorro! Alguém me ajude?
E nada. Ninguém respondia aos seus apelos. Onde estariam todos, pensava ela, aquilo estava ficando sinistro! Para onde teriam ido os seus amigos que não apareciam para salvá-la, para resgatá-la daquela poça de lama... Daquele brejo?
- Socorro, socorro!!!
Nenhum sinal. Começou a chorar em desespero.
- O que estaria acontecendo que ela não estava sendo ouvida?
De repente, parecia ter escutado de longe, um "cri, cri". Seria o grilo Teobaldo? E sabia; se dependesse dele estaria frita, pois o amigo havia ficado surdo, coitado, desde que Dona Pierina lhe atirara água quente, incomodada com seu ruído dentro de casa causando-lhe insônia.
- Socorro, socorro! Alguém me ajude! Venham depressa por favor!!!Estou presa aqui nesse brejo maldito e não consigo ver mais nada além de um insólito escuro como jamais vi em toda a minha vida!
- Socorro. Socorro!!!
E nada, ninguém respondia nem vinham a seu encontro. Desta vez ouviu de longe o coaxar de um sapo, seria Agripino o bom e velho companheiro confidente? Ah mas esse também não lhe serviria de nada, mal conseguia se locomover de tão velhinho que era.
- Ai meu Deus, corro sérios riscos! Já pensou se me aparece aqui uma daquelas cobras querendo me engolir?
- Socorro! Alguém me ajude pelo amor de Deus!
Pressentiu que algo caminhava em sua direção, e tremendo de medo, mal respirava para não ser pega.
- Hei amiga parece assustada?
- Quem está ai?
- Sou eu, sua boa e velha amiga Tartanice!
- Ah! É você? Pelo jeito continua cascuda e lenta, mas pelo amor de Deus tire-me deste lugar...!
- Fique calma amiga já estou chegando... Espere só mais um pouquinho, vou tirá-la daí em segundos!
Para Rãsoleta aqueles foram os segundos mais demorados de toda a sua existência.
- Sobe ai no meu casco, depressa!
E plaft, pulou Râsoleta achando-se sã e salva pela velha e lenta Tartanice, mas foi logo dizendo: - Por favor amiga, não dá para andar mais depressa não? Sinto calafrios, só de pensar numa cobra malfazeja e faminta nos farejando.
- Relaxa amiga. Comigo você estará protegida. Posso pedir-lhe uma coisa? Fique de boquinha fechada, pois podemos ser alvo de algum predador desavisado que não conseguiu chegar em casa a tempo, e querer uma carona.
- Daqui de cima, não estou vendo nada, amiga, nosso caminho está livre. Mas ande mais rápido pelo o amor de Deus!
- Andar mais rápido? Eu estou quase correndo você não percebe?
...E finalmente as duas amigas chegaram num abrigo seguro e até comemoraram por estarem vivas.
- Ufa!! Muito obrigada amiga, você salvou a minha vida!
- Por nada querida, amiga é pra essas coisas!
Autor: JOSEFA MATOS