Os Três Pássaros do Vale do Encanto

Os Três Pássaros do Vale do Encanto

Numa pequena fazenda, rodeada de lindas montanhas com tons de esmeralda, três pássaros conversavam, empoleirados em um dos retorcidos galhos de uma árvore próxima a um celeiro.

Um deles dizia:

- Passei próximo ao portão do celeiro, e logo atrás daquela carroça, vi uma fêmea de sabiá que me pareceu ser muito atraente. Sabe como é... A primavera está chegando, e temos que ficar atentos às nossas oportunidades, se quisermos uma mãe dedicada a chocar nossa prole. Como ainda temos um certo tempo até a estação de acasalamento, proponho uma brincadeira: cada um de nós três, vamos até ela, lançando mão de nossos predicados, para ver quem irá conquistá-la primeiro.

Um dos demais pássaros, e, o mais bonitos de todos, que escutaram a proposta, abriu as asas e disse: - Serei o primeiro, e único, já que irei conquistá-la bem rápido!

Ele era um sabiá bonito e vistoso, e estava muito confiante em seus atributos.

O último dos três pássaros, não parecia ter dado muita importância à disputa proposta pelo amigo, já que ele mesmo tinha certeza que, sua magreza, rodeada de penas opacas não deveria ser um atrativo bem visto pelas várias fêmeas que por ali viviam.

O mais belo entre eles, depois de um lindo salto do galho das árvores, descreveu, um vôo rasante que, com certeza, desafiava a gravidade. Ao chegar próximo ao local, subiu com toda a velocidade e pousou na área indicada, com total elegância e maestria. Batia as asas na medida certa para um pouso cinematográfico, como se estivesse em câmera lenta. Os raios de sol que tocavam sua penugem eram refletidos por cores vivas e brilhantes. Os demais pássaros, que por ali se encontravam, não poderiam deixar de ter notado a beleza e a plástica daquela bela ave e, alí ficaram observando aquele show.

Ao chegar lá, ele olhou e não conseguiu acreditar - aquela fêmea era a Sabiá mais linda que ele já tinha visto. Suas penas eram, também, de um brilho arrebatador e as cores eram de uma palheta quente e viva. Ele esteva certo que ela faria o par perfeito com ele, e que juntos, teriam os filhotes mais bonitos de toda a região.

O belo sabiá então fazia poses, confiando em sua beleza, mas era boçal a ponto de erguer tanto o bico que mal conseguia olhar nos olhos daquela linda fêmea. Ele se exibia, rodopiada, cantava e assobiava lindas canções, e toda vez que ele dava uma pequena olhada para a bela Sabiá, notava que ela também estava de cabeça erguida, e mal olhava para ele, e mais: parecia desafiá-lo, pois conseguia reproduzir os mesmos movimentos acrobáticos que ele fazia, sempre o compelindo a fazer cada vez mais, daquelas difíceis piruetas. O mais belo dos belos, rodopiou até ficar exausto e voltou para o galho e para a presença dos outros dois pássaros que lá esperavam, rindo de sua esbaforida campanha.

- Não tem condição nenhuma! Ela é a fêmea mais bonita que já vi, mas também é a mais difícil de todas. Não importou o que eu fizesse, ela não me olhava nos olhos e ainda me desafiou em todos os movimentos que pensei ser eu, o único a conseguir executar - desisto!

O sabiá que havia proposto a disputa, o maior e mais forte de todos, empurrou os demais abrindo bem as poderosas asas, estufou o peito e proclamou, cheio de si: - mostrar-lhes-ei como se trabalha um profissional!

Ele então subiu e arrancou uma das frutas com o bico e a levou para o celeiro. A fruta era grande, e nenhum outro pássaro conseguiria suportar tanto peso em pleno vôo.

Ele então, fez um pouso controlado, colocando a fruta no chão e mantendo-se sobre ela, num claro sinal de dominância. Ele queria mostrar que era um bom provedor, e que nem aquela fêmea, nem seus filhotes, passariam fome ou perigo. No primeiro momento em que o grandalhão olhou para o local onde se encontrava a Sabiá, ele notou que ela também tinha uma grande fruta sob suas patas. Seu peito estava projetado, também em sinal de dominância e poder, e a imagem dela desafiava seu instinto a se superar. Ele então partiu e retornou depois de alguns minutos com um fruto ainda maior e que só crescia numa árvore a centenas de metros dalí.

Certo de que agora a impressionaria, ao soltar o fruto em frente à fêmea, não pode deixar de ficar surpreso ao perceber que aquela fêmea grande e forte, também tinha um fruto parecido com o seu, em tamanho e formato. Mesmo já cansado ele tentou algo ainda maior. Saiu planando de forma mais lenta e desta vez demorou mais para retornar. Agora, trazia um fruto absurdamente enorme e que só crescia em árvores no distante vale após as montanhas. O grande pássaro estava completamente exausto, mas ergueu a cabeça, estufou o peito, uma última vez, certo de que aquela fêmea nunca conseguiria fazer nada igual, olhou de canto de olho e o que viu, terminou por completo com toda a sua confiança. Uma fêmea, por maior que fosse, jamais conseguiria carregar aquele peso. Ele não mais olhou para ela, e retornou ao galho envergonhado, para a companhia dos outros dois amigos que estavam impressionados com tamanha força daquele pássaro e tamanha resistência daquela fêmea. A este ponto da estória, vários e vários diferentes pássaros, impressionados com as virtudes dos dois pássaros, já se aglomeravam para observar a competição.

- Desista! - disseram os derrotados para o último e mais fraco pássaro - somos fortes e bonitos e não galgamos êxito. Não há jeito de um pequeno e feio sabiá como você, conquistar a fêmea mais bonita vista por estas bandas.

No fundo, ele sabia que seus dois amigos estavam cobertos de razão, afinal de contas, ele não tinha os mesmos atributos de beleza e força, mas ficou tentado a ir até o local e ver com seus próprios olhos, a Sabiá que havia desafiado e derrotado seus amigos. E então ele foi sem acrobacias ou peripécias e não carregava absolutamente nada em suas patas ou bico. Fez um pouso desajeitado, pouco antes do local onde se encontrava a tão falada fêmea de sabiá. Continuou andando pelos últimos centímetros, de cabeça baixa, passos curtos e olhando para o chão, sentia como se não quisesse que seus olhares se cruzassem.

As centenas de outros pássaros que por ali estavam, riam daquela cena, já que seria impossível para ele conquistar qualquer uma que fosse, com aquele tamanho e atitude.

Ao chegar bem de mansinho no local, olhou de forma tímida para a fêmea e viu não o que seus colegas descreveram, mas uma criatura, que apesar de não ser forte, nem bonita, tinha uma beleza especial nos olhos. Ele sorriu para ela, de forma simpática e respeitosa e disse um simples “olá”. O mais incrível aconteceu, ela foi receptiva e retribuiu seu sorriso - um lindo e espontâneo sorriso, que demonstrava carinho e bondade.

Todos, de forma incrédula, olhavam aquela cena - como poderia aquilo estar acontecendo?

O pequeno sabiá, como tinha certeza que, aquela fêmea havia sido apenas simpática com ele, pediu licença, e baixando a cabeça, retornou para seu galho com os demais amigos, que o olhavam fixos e sem falar nada. Neste mesmo momento, uma das fêmeas que estavam num pequeno grupo, próximo dalí acompanhando a disputa, ficou encantada com a atitude humilde e carinhosa e foi ao encontro do despretensioso pássaro de belo sorriso e o convidou, bem na frente dos seus dois amigos, para um passeio pelo Vale do Encanto, que se estendia com todo o seu esplendor, até onde suas asas podiam alcançar.

Os dois pássaros envergonhados foram embora, assim como todos os outros pássaros que estavam ali, apenas observando.

E quando a noite chegava, o pedaço quebrado de espelho, que estava encostado na lateral do celeiro, atrás da carroça, não tinha mais o que refletir, apenas o lindo pôr do sol, que selava com ouro, um dia que iria servir como exemplo para muitos.

FIM

09 de janeiro de 2012

Duke

Duke Webwriter
Enviado por Duke Webwriter em 10/01/2012
Código do texto: T3432545
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