Branca de Neve e a Mullher Esqueleto

Branca de Neve, abandonada pelo caçador e amaldiçoada pela rainha, foge descalça sob o frio inverno floresta adentro. Saia azul índigo, comprida. Rosto congelado, segue desprotegida. Passaram-se dias. Ali entre as folhagens, ela tornara-se quase um animal selvagem, tendo que sobreviver como pôde do que encontrava pelo caminho e passando as noites entre pedras, rios, onde fosse possível dormir. Eis que para sua sorte, ela avista após a paisagem abrir-se, um iglu. Venta forte. Assim, ela poderá esperar a tempestade ir embora e abrigar-se da neve. Quase não acredita, poderia ser uma miragem, no entanto, quis crer que haveria ali alguém disposta a dar-lhe um pouco de comida.

Para sua surpresa, ao entrar no pequenino iglu ela deparou-se com uma escuridão imensa. Ouviu o arfar da respiração de um homem. Ele parecia amedrontado, na verdade apavorado. Ela ficou ali, imóvel, sem dizer uma palavra sequer, poderia assustar ainda mais o homem que ainda não a tinha visto, talvez de tanto pavor. Aos poucos a respiração dele começou a acalmar:

- Ainda bem, estou a salvo agora.

Ele acendeu um pequeno candeeiro e quase caiu para trás. Diante dele estavam Branca de Neve e a Mulher Esqueleto. Ele não acreditou.

- Agh!!! Moça, o que fazes aqui? Quem é você?! Agh!

Branca de Neve não sabia se respondia a pergunta ou se olhava para aquela cena. Estava estupefata. A Mulher Esqueleto estava toda confundida dentro da rede do pescador, sua calva cabeça branca e sua expressão de fome comoveram-na.

- Eu estava pescando quando achei que tinha fisgado um peixe enorme, ao ver isto eu saí correndo de meu barco, desesperado. Ela veio atrás de mim, e quanto mais corria mais ela vinha. Achei que havia me livrado mas olhe só! Agh!!!

- Pobre mulher... deve estar com muita fome e muita sede.

- Você é Branca de Neve! Mas está irreconhecível. Aquela de cabelos cor do Ébano, lábios como a rosa e pele branca como a neve?

-Sim, eu mesma, mas ao invés da casa dos sete anões vim parar no seu Iglu.

Depois do espanto, veio um silêncio. O estranhamento. Eles entreolharam-se. O pescador precisou olhar bem fundo nos olhos dela para acreditar e aos poucos, tomados por uma estranha sensação começaram a desenredar juntos a Mulher Esqueleto, calmamente, as linhas da rede entrecruzavam as mãos e libertavam os membros presos da Mulher, foi um trabalho para uma tarde inteira. Ambos estavam comovidos com ela. O pescador por fim, cobriu as duas com um quente cobertor e adormeceram.

Nesta noite, Branca de Neve deparou-se com uma das cenas mais belas que seus olhos de princesa já haviam visto. O pescador estava sonhando e uma lágrima caiu de seu rosto. A Mulher Esqueleto despertou e bebeu da lágrima que transformou-se num rio profundo e largo que não cessava mais de correr. Ela deu de suas mãos, água para Branca de Neve beber e as duas saciaram-se da sede que tinham. No mesmo instante, a Mulher mergulhou as mãos ossudas no peito do pescador e tomou-lhe o coração que batia como um tambor. Ao ver aquilo e estando famintas elas começaram a cantar e a dançar:

- Carne! Carne! Carne! Carne!

Dançavam ao som das batidas do coração. Foi então que aos poucos, a Mulher Esqueleto aproximou-se de Branca de Neve e adentrou em seu corpo, fundindo-se nela e incorporando-se na carne dela. Agora, elas eram uma e não mais duas mulheres. Branca de Neve, estava com o coração do pescador em suas mãos e faminta que estava comeu parte dele e quanto mais comia, ele se regenerava, quanto mais comia ele renovava-se, e batia, batia cada vez mais vivo. Por fim, saciada de fome e de sede e tendo dentro de si uma morta de cem mil anos ela devolveu ao peito do pescador o coração que regenerava-se a cada mordida, despiu-se de suas roupas de Branca de Neve e despindo o pescador permaneceram ali aquecidos até a primavera.

Mila Mariz
Enviado por Mila Mariz em 12/03/2012
Código do texto: T3549108
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