OS TRÊS SERVOS

Vivia na cidade de Ugarit um homem muito rico de nome Jarbas, além da imensidão de terras que possuía, Jarbas acumulava rebanhos de bois e vacas, cabras e bodes, vinhas tinham muitas em suas terras e produziam o melhor vinho da região.

O fazendeiro tinha dentre seus servos, três homens que o serviam dentro de sua casa, eram seu olhos, braços e pernas, trabalhavam arduamente e faziam com que aumentasse ainda mais seu patrimônio, gozavam de sua confiança e recompensados eram dois apenas pelo seu senhor.

Amon, vencido fora em batalha e agora ele e sua família eram servos na casa de Jarbas. Em muitas guerras havia guerreado e tivera a derrota na batalha contra Jarbas, homem valente, astuto e conhecedor da arte da guerra, servia seu senhor na defesa das terras contra os Amorreus.

Silas fora capturado do povo gentílico, homem letrado e acostumado com os números, cuidava das finanças do fazendeiro e jamais o fizera amargar prejuízo.

Jerzeu, o terceiro servo, amava seu senhor, homem simples, fazia de sua força instrumento de muita serventia para o fazendeiro. Tinha fino trato com os animais, amava o campo e cuidar dos bichos, cada ano fazia crescer o rebanho de seu amo, os pastos pareciam como a areia do deserto com a quantidade de animais cuidados por Jerzeu.

Os dois servos gozavam do amor do seu senhor, Jarbas não se cansava de elogiá-los e presenteá-los, suas festas eram sempre animadas e com a presença dos dois servos. Jerzeu vivia no campo de olhos nos animais, cuidando de comprar novas terras e animais sadios para a reprodução do rebanho do seu senhor, jamais sentara na mesa de seu amo, ou sequer fora lembrado por ele.

Muitas vezes pensou que não tinha a simpatia de seu dono como Amon e Silas, mas amava seu amo e tudo que tinha nas terras, ali podia sustentar sua família com o que recebia de seu senhor.

Certo dia o rei mandou vir a Jarbas um mensageiro exigindo sua presença em Jerusalém, o homem ficou preocupado, em seus oitenta anos jamais fora a capital do reinado, aprontou a bagagem, separou os melhores animais, daria o melhor de presente para o rei.

Imposto em dia, não imaginava porque havia sido convocado por sua majestade.

O ar estava tenso, o rei com cara de poucos amigos, logo foi entrando no assunto.

- Dos muitos senhores de terras que tenho em meu reino, vós sois o único que não têm me reverenciado com sua presença em meu palácio, sois contra meu reinado? Tenho feito eu algo que desagrade o senhor e sua casa?

- Não meu senhor. Respondeu o fazendeiro visivelmente incomodado. - Sois o maior de todos os que reinaram sobre Israel, o mais justo e mais sábio, tenho eu andado ocupado em aumentar minhas posses para assim aumentar o poder de meu senhor, perdoa esse velho servo que não vê outra coisas a não ser prosperar sua majestade.

O rei ouviu tudo atentamente, mas não poupou o fazendeiro do castigo.

-De hoje em diante virás a capital com seu tributo e se apresentará a mim, tu ou teu servo mais fiel, farás de mim seu senhor absoluto, ou tirarei de ti todas as posses, e lançarei-te fora de minha jurisdição, guardas leve-o as masmorras, ficarás preso por seis meses.

O longo período de ausência do fazendeiro rico, despertou nos criados sentimentos contrários, Amon e Silas passaram a agir como donos das posses e dos animais, sobrecarregaram Jerzeu, que além de cuidar dos rebanhos, cuidava agora das plantações e ainda saia a noite de seu senhor, andava noites inteiras procurando, acreditava que seu amos poderia estar perdido por uma das cidades, talvez tivesse passado mal, ou ter-se acidentado e estar desmemoriado em algum povoado.

As festas e orgias aconteciam diariamente, os servos maus não se importavam com o que teria acontecido com seu senhor, criam que o rei o teria matado, se julgavam herdeiros do mestre por serem os servos preferidos e por terem ajudado-o a construir o império que agora administravam.

O sexto mês havia se passado e Jarbas estava agora a caminho de suas terras, havia andado vários dias e seu corpo debilitado pela masmorra do castelo fraquejava, o sol no meio do céu, fazia pesar ainda mais seu corpo, sentia-se cansado, uma tontura lançou-o ao chão e seu cavalo foi para longe, arrastou-se para uma pequena cabana construída ali como abrigo para os viajantes, dois dias se passaram e ao longe viu um vulto, tentou firmar os olhos para ver quem vinha ao seu encontro, as seus olhos falharam, sentiu um toque em seu corpo e reconheceu a voz que lhe falava.

- Glórias sejam dadas ao senhor, depois de muita busca eis que encontro meu senhor com vida!!!! Aleluia!!

-Jerzeu meu servo, és tu mesmo que estais ai? Certo como vive o SENHOR, pensei que nunca mais veria tua face, onde estás Amon e Silas? Vieram contigo em minha busca?

- Não meu senhor, as coisas mudaram após sua partida, a fazenda não é mais a mesma verás.

- Leva-me então para que veja com meus olhos.

- Temo não poder levá-lo agora meu senhor, deixa-me levá-lo para as terras dos caldeus, lá cuidarei de me senhor e quando estiver melhor trago sua guarda para que nos façam voltar em segurança, hoje temo que ao verem, se lançem contra ti e depois contra mim para que não haja testemunha.

- Assim seja. Respondeu o fazendeiro.

Semanas após, chegou o fazendeiro com sua guarda, ao entrar na câmara de banquetes, deparou-se com Amon ditado sobre as almofadas costuradas com fios de ouro, doze moças com abanadores, o homem levantou-se assustado, o fazendeiro passou direto para seu antigo escritório, encontrou Silas com centenas de moedas de ouro sobre a escrivaninha, e sacos de moedas de ouro espalhadas pelo chão, o homem pulou de costa e a cadeira virou por cima dele.

Jarbas os reuniu na câmara e pôs-se a falar.

Dei a vocês o melhor, elegi meus favoritos, sentastes em minha mesa e ceastes comigo, dei festas para vós, presentes e como me recompensastes? Fui prisioneiro do rei por seis meses e nem mandastes um mensageiro para saber de minha desgraça, ao contrário, se apossaram do que é meu e de tudo se fizeram senhores, quando Jerzeu, servo que muito me serviu, tratei por anos como um lacaio, jamais lembrei-me de sua face enquanto honrava vós outros, procurou-me por todo esse tempo e nunca acreditou que a morte teria encerrado meus dias. Certo como vive o senhor, trarei a espada aos vossos pescoços, e farei de Jerzeu não mais meu servo, mas meu amigo, e comerá de minha mesa e deitará em minha casa, e será meu herdeiro quando eu fechar meus olhos e o espirito me faltar no corpo.

Renato Cajarana
Enviado por Renato Cajarana em 18/04/2012
Reeditado em 23/06/2012
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