NA HORA DE A ONÇA BEBER ÁGUA

Em um lugar distante, numa floresta onde os bichos falavam iguais aos homens, existia uma onça suçuarana muito velha e doente que não podia mais caçar. Ela vivia, quando podia, de comer restos de caças de outros bichos, deixados em alguns lugares por outras onças.

Um dia a onça suçuarana muito velha e doente, estando com fome, andou por alguns lugares da floresta, em busca de restos de caças para comer e de repente cansou, deitando-se à beira de um caminho, onde, perigosamente, passavam-se outros bichos e homens predadores. Ali, ela desfazia-se todas as esperanças de vida e morreria, conforme acontecia com todos os animais que chegavam à mesma situação dela.

Aconteceu que, após a segunda tarde de a velha e doente onça suçuarana estar ali, à beira do caminho, apareceram por lá três jovens cabritos, que, ao vê-la, assustaram-se e correram para se esconderem por trás de uma enorme moita de capim. A velha e doente onça suçuarana, sem força para miar, olhou para a moita de campim onde se escondiam os três jovens cabritos e farejou os ares pensando tristemente: “As carnes daqueles cabritinhos escondinhos naquela moita haveriam de estar tão saborosas! Pena que eu não tenho mais forças para atacá-los e servir-me deles em minha refeição...”

Enquanto a velha e doente onça suçuarana olhava atenuamente para os três jovens cabritos, um dos cabritos dando a certeza de que ela estava velha, fraca e doente, comentou aos outros dois jovens cabritos.

- Olha só, aquela onça deitada à beira do caminho, não passa de uma onça velha e cansada. Ela jamais terá forças para nos vitimar...

Os outros dois jovens cabritos, ao ouvir o comentário do amigo, tiveram uma brilhante ideia em pirraçar a onça e fazê-la pagar duramente pelas maldades de outrora cometidos por elas aos seus rebanhos ancestrais e a outros bichos indefesos daquela floresta. Eles então saíram da moita de capim e dirijam-se tenazmente até onde estava a onça suçuarana velha e doente. Eles provocaram a onça com pirraças, xingamentos, patatas e leves chifradas. A coitada da pobre, velha e doente onça suçuarana não podia fazer nada para se defender dos insultos dos três jovens cabritos. Ela soltava miados fracos e fazia os cabritos rirem ao mostrar a boca com pouquíssimos dentes.

No outro dia, os três jovens cabritos contaram aos outros cabritos do rebanho sobre o que fizeram com a velha, cansada, fraca e covarde onça suçuarana. Os cabritos do rebanho, dando risadas sobre o malfeito dos três jovens cabritos feito à onça suçuarana velha e doente, resolvera-me unirem-se em bandos e voltarem até lá, naquela tarde, para pirraçar, zombar, insultar com pontapés e chifradas a coitada da pobre, velha e doente onça suçuarana, a ponto de fazê-la entrar em óbito. Todos concordaram e alguns até resolveram amolar os seus chifres nas árvores e nas pedras de uma pedreira próxima.

Aconteceu que, durante aquela manhã, uma jovem onça suçuarana estava caçando pela floresta e encontrou a velha e doente onça suçuarana, parenta dela, caída á beira do caminho. A jovem onça suçuarana, preocupada com a situação da velha e doente parenta, prestou a ela solidariedade, socorrendo-a com comida e água.

Após sentir-se um pouco apta a falar, a onça suçuarana velha e doente contou à jovem onça parenta dela o que lhe havia sucedido na tarde anterior, quando três jovens cabritos apareceram por lá lhe burlando o orgulho com zombarias, palavras ofensivas, chifradas e pontapés. A jovem onça suçuarana impressionada com o fato de desagravo à parenta, teve uma ideia de vingança: ela chamaria outras amigas e parentas para prepararem uma tocaia contra os folgados e covardes cabritinhos...

Quando veio a tarde, os cabritos formando-se um só bando chegaram onde estava a velha e doente onça suçuarana e logo começaram a rir e zombarem-se dela. Como se isso não bastasse, alguns cabritos mais fortes aproximavam-se da indefesa, velha e doente onça suçuarana para dar a ela pontapés e chifradas afiadas, capazes de levá-la ao óbito. Antes que isso acontecesse, ou seja, dada a hora de as onças beberem água, várias onças suçuaranas e de outras espécies saíram-se dos arredores dos matos e fecharam o cerco contra o bando de cabritos, fazendo-os de reféns. As onças prenderam os cabritos em suas tocas e, dizem que, por muito e muito tempo tiveram suas ceias fartas, alimentando também a velha onça suçuarana, que não ficou mais doente e que viveu feliz ainda por muito tempo e muito tempo.

MORAL DA HISTÓRIA: “CUIDADO, pois quando os fracos contam com o apoio dos fortes, eles também se fortalecem mediante as circunstâncias”.

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Shicko Rodrigues
Enviado por Shicko Rodrigues em 18/04/2012
Reeditado em 25/04/2012
Código do texto: T3619934