O Beijo Invisível

No céu nublado a lua se fazia ausente, mas a garotinha não se importou, como das demais vezes. Gostava de noite de lua cheia, até contava as estrelas, mesmo tendo medo de nascer verrugas nos dedos das mãos.

Olhando com redobrada atenção, o lindo par de olhos azuis gostou das flores que, de forma natural cobriam o túmulo que estava á sua frente.

- Lindas margaridas douradas, feito à lua.

Observou a garotinha, olhando para a velhinha que estava ao seu lado.

- Sim, querida.

- Foi a senhora quem plantou, não foi?

- Foi, querida. Eu sei que adora a cor amarela, não é verdade?

- Sim , obrigada. Está lindo. Ele ia gostar, aprendi com ele a gostar das margaridas.

Seus olhinhos lacrimejaram, um pequeno soluço se fez presente na sua caixa toráxica.

- O papai um dia vai estar comigo, ou tem mortos que nunca acordam?

A velhinha a abraçou, enlaçou-a com um dos braços pelo seu ombro miúdo, e retarguiu:

- Oh, minha queridinha, não chore. São os desígnios de Deus. Você ja sabe que os mortos um dia acordam.

- Ele não pode acordar, agora?

- Acho que é muito cedo, a hora dele vai chegar.

A menina permaneceu em silêncio por alguns eternos segundos, olhava para o túmulo, fitava a fotografia do pai.

- Eu quero ir ver a mamãe, a senhora me prometeu...

-Ora, queridinha, promessa é promessa, vamos. Recomponha-se, sem lágrimas nos olhos, querida.

De mãos dadas seguiram pelo caminho dos alpes. As carruagens passavam alhures á presença das duas. A doce menininha a cada passo dado, recordava dos momentos felizes vividos por ali.

Após a curva, no declive, la estava a casinha de campo, uma casa de simples camponeses.

- Vovó, olha la que linda. A minha casinha.

Disse a garotinha, apontando com euforia desmedida. Os olhinhos saltitaram das órbitas, disparava o coraçãozinho no peito.

Enquanto corria, puxando a avó pelo braço, exagerou assim:

- Posso ir visitar o Janjão, a Bibi e a minha professora?

- Não, o nosso tempo é curto, você sabe disso.

- Ah, que chato, queria ver todos, todos eles...

As duas seguiam de forma apressada. A netinha puxando a avó pela mão. Tinha pressa de chegar á porta da casa.

Chegando frente à porta estancou. Estava insegura e meio confusa. O coração quase saindo pela boca.

- Va queria, não tenha medo. Não queria tanto isso?

Encorajava a velhinha.

- Oh, vovó. Estou tão feliz, eu achava que nunca mais iria ver a mamãe. Eu vou la, venha vovó, venha comigo.

Na sala estava Clotilde. Uma jovem senhora, estava sozinha á beira da lareira. Os demais familiares repousavam. Era uma noite fria de outono. falou a sua mãe, sussurrando:

- Nunca vou esquecê-lo. Eu o amava demais.

- Mamãe eu estou aqui, está TUDO BEM.

A menina a abraçou forte, enlaçando-a pelo tronco.

Dos olhos de Clotildes escorriam fartas lágrimas. Narinha se deixou levar pela dor da mãe. Pôs-se a chorar, também. Ficaram ali, unidas como se fôssem um ser único.

- Mamãe está tudo bem, jamais vou esquecê-la, jamais vamos esquecer do papai. Nunca esqueci da senhora e dos meus irmãozinhos. O João, a Clô, e o meu queridinho o Nezinho, a coisa mais fofinha deste mundo, o nosso caçulinha.

A avó interveio, batendo as mãos, palmas de alerta, de som único.

- Querida não chore. Eu disse para ficar alegre, e so dizer coisas boas. Ajudem-se, por favor.

- Mamãe, alegre-se tem nossos pequeninos. Precisa ser forte e cuidar deles.

- Vou ser forte, tenhos os meus pequeninos para cuidar.

- Isso, mamãe.

-É, isso...

- Eles vão te dar felicidades.

- Os meus pequeninos vão me dar muitas felicidades.

Demonstrando ter fino trato com aquele tipo de situaçâo, a avó interrompeu mais uma vez.

- Basta, queridinha, ta na hora de ir.

Então, Narinha deu um beijo prolongado no rosto da mamãezinha, e com a avó partiu, deixando ela e o pai, eternas saudades.

Fim

* Conto dedicado a todas às famílias que ja perderam anjinhos e sentem saudades.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 13/06/2012
Reeditado em 06/10/2015
Código do texto: T3722929
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