Um pequeno conto sobre aquela garotinha do filme

Através do labirinto, Ofélia encontrará um mundo fantástico onde os seres não são coloridos, tampouco as fadas brilham…

Num grande labirinto há vários caminhos, e é muito mais fácil perder-se do que propriamente encontra-se. Chegar no centro dele pode ser o mais perto do próprio interior, uma busca pela identidade mais essencial, longe das referências externas. Ofélia, a menina que acredita em fadas – e por que acredita, elas existem, já dizia Clarice Lispector – encontra com aquilo em que mais procurava dentro dos livros: a fantasia. E a possibilidade de ser ela mesma protagonista de uma história já inventada e contada por outros: a princesa do reino mágico.

Claro que subitamente a menina alegrou-se em saber do que seria para ela, sua verdadeira origem. Como seria bom poder fugir do seu destino de mortal para viver entre seres fascinantes, e re encontrar sua verdadeira família! De início, faria o que fosse preciso: lutar contra um sapo malvado em um pântano cheio de bichos nojentos e gosmas grudentas e sujar sua roupa nova– mesmo que isso viesse a chatear sua verdadeira mãe, que, numa tentativa de felicidade, entregou um vestido lindo para a filha usar no jantar do padrasto.

Faria as provas que fossem precisas. Porém, como humana e mortal que é, vacilou. Vacilou porque teve desejos que não conseguiu reprimir: desejo de comer uvas. Qual criança resistiria ao ver algo suculento pra comer, ao alcance das mãos? Tal qual a Alice, no país das maravilhas, ela comeu, e teve consequências. Viu pela primeira vez o Fauno, guardião do labirinto, voltar-se contra ela, julgar sua atitude de fraquejo.

Mas, como toda fábula, por mais cruel que possa ser, a menina teve uma chance, pode provar como seu desejo de juntar-se ao reino fantástico era maior do que sua tentação gastronômica.

Passou então pela terceira e última prova. Com louvor, eu diria. Pagou com a própria vida de criança seus maiores anseios infantis. E encontrou, seja da forma que for, o que para ela, era sua verdadeira história.

Fernanda F
Enviado por Fernanda F em 02/10/2012
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