A CIDADE DAS VELAS

Fábula Adaptada

Numa cidade tranquila e muito simples, vivia a comunidade das velas. Nos lugares em que as velas passavam eram prestigiadas. Ajudavam levando a luminosidade para todos que as solicitassem, pois quando vinha o entardecer saiam para iluminar as casas com a mesma generosidade de sempre. Nunca se viu qualquer sinal de arrogância ou coisa parecida entre as velas por ocuparem na cidade lugar de destaque, devido a importância que representavam para toda a população. A simplicidade era a maior qualidade das velas.

Até que numa manhã de primavera, quando os primeiros raios de sol brilhavam no alto da montanha mais bonita da cidade, parou na praça central um imenso caminhão com inúmeros fios, transformadores e lâmpadas de todos os tipos e tamanhos. Todos se dirigiam para o local, um alvoroço jamais visto em todos os tempos por aquelas redondezas.

Aos poucos as informações foram chegando e a notícia da energia elétrica inovou a cidade de forma que não havia outro assunto. Casas e mais casas foram recebendo os técnicos que trabalhavam sem parar para que a população fosse igualmente atendida.

Em pouco tempo as velas foram ficando esquecidas enquanto as lâmpadas ganhavam todos os privilégios na cidade. Agora somente as lâmpadas eram vistas com suas luzes que deixavam as praças bastante iluminadas. Todos se encantavam em fazer passeios noturnos, o que era uma grande novidade!

Transformações mudaram tanto os costumes da cidade que era quase impossível imaginar viver sem a energia elétrica. As lâmpadas ficavam cada vez mais vaidosas, faziam questão absoluta de serem cortejadas. todos discutiam um novo nome para a cidade, mais moderno e digno das novas moradoras. Para as lâmpadas foi organizado um grande baile com todas as honrarias possíveis. Logico que as velas não foram convidadas!

Quando elas ficaram sabendo se sentiram rejeitadas e verdadeiramente esquecidas. Era como se tudo que haviam feito anteriormente não tivesse mais valor para aquela cidade.

Chegou o grande momento; o tão esperado baile das lâmpadas tinha a grandiosidade de um evento incomum, e assim as lâmpadas vaidosas se exibiam ainda mais. Foi um desfile de luzes e cores fazendo com que cada uma brilhasse mais que a outra. Mas as lâmpadas não sabiam que toda aquela exibição, traria uma sobrecarga aos transformadores. A consequência disso tudo foi uma grande explosão que danificou todas as lâmpadas que estavam no salão. Neste momento a escuridão tornou o ambiente desesperador, pois nem mesmo umas as outras era possível enxergar. Todos se lamentavam pelo acontecido,

principalmente depois de tantas expectativas e sabendo que a festa estava muito no início para ser encerrada de uma maneira tão decepcionante. Mas quando buscaram um especialista para resolver o problema, ele disse que sem claridade nada seria solucionado. Foi uma correria para buscar as antigas moradoras da cidade: as velas. Humildemente, as velas foram ao grande salão para ajudar. Demonstrando generosidade, as velas cuidaram da iluminação enquanto eram feitos todos os reparos necessários sem um só questionamento. Aos poucos as lâmpadas foram iluminando o salão e a alegria foi voltando ao grande salão. Todos se divertiam. Agora estava até mais animado! As lâmpadas ficaram envergonhadas por terem chegado com tanta arrogância. Agora estavam satisfeitas com a grande ajuda das velas, agradeceram e disseram que elas eram verdadeiramente as convidadas de honra naquele baile.

Desde então velas e lâmpadas tiveram para os moradores valores importantes porém distintos. Nunca mais se esqueceram da lição aprendida na noite do baile e em sinal de reconhecimento decidiram que o nome da cidade permaneceria; “Cidade das Velas”.

Algumas fábulas contadas, têm um sentido especial, principalmente quando são passados em uma sala de aula. Esta, ouvi da professora “Irmã Ana Maria”, com seu jeito muito especial de contar . Gostei tanto que hoje faço o mesmo com os meus alunos. As fábulas são verdadeiras receitas da vida.

SANDRA SAMPAIO