O Formigueiro!

Era uma sociedade bem organizada, onde cada uma sabia o seu papel, porém não era o bastante para uma das formiguinhas, que dizia sempre: "não tive a sorte de nascer rainha". Nasceu operária e sabia que viveria apenas poucos meses, "poxa vida, o que vou ser quando crescer?", se perguntava a pequena saúva sempre que não queria obedecer, eram cuidadas pelas ajudantes da rainha, que além de tomar conta dos bebês, também orientavam as formigas adolescentes e rebeldes como "Vivinha".

Algumas lendas contam que a rainha era um anjo que caiu do céu, perdeu as asas e decidiu sacrificar 10 anos de sua vida, só para que outras formiguinhas pudessem ter a chance de nascer, mantendo assim a continuidade de toda a raça de formigas saúvas.

Mas "Vivinha" queria mais e já na fase adulta reivindicou um plebiscito, "plebiscito? plebiscito? Como assim?", era o que todo o formigueiro perguntava..., "você está louca?", diziam as ajudantes da rainha. Mas como a "rádio peão" funcionava muito bem na colônia, logo a rainha mandou lhe chamar e certa de que seria ouvida, "Vivinha" se pôs a falar.

- "Pois não 'Vivinha' minha filha, em que posso ajudar?”.

- "Rainha, não concordo com o nosso destino, algo precisa mudar...”.

- "Está certo e o que sugere? Ouvi dizer que está reivindicando um plebiscito, é isso mesmo?”.

- "Isso mesmo, queria saber qual a opinião das outras formigas sobre o destino que cada uma recebe ao nascer...”.

Muito sensata e paciente a rainha pensou e calmamente lhe respondeu:

- "Pois bem, como quiser, faremos a convocação, mas qual será a questão?”.

- "Bem, pensei em algo mais ou menos assim:

"VOCÊ, COMPANHEIRA FORMIGA, CONCORDA COM O FATO DE SEU DESTINO JÁ ESTAR TRAÇADO AO NASCER?"

Com a permissão da rainha, já estava então resolvida à questão e logo em seguida suas ajudantes providenciaram a comunicação.

Dois dias depois da convocação, todas as formigas já estavam no salão e uma a uma se dirigiam a votação. O problema é que as formigas responsáveis pela segurança do portão, não estavam em seus postos para informar que uma tempestade estava se formando e com o cume do formigueiro sem proteção, logo, todas seriam surpreendidos pela chuva de verão.

Enquanto isso o plebiscito continuava e ansiosas as formigas esperavam, o barulho estava muito alto e ninguém percebeu a enxurrada se formando nos túneis da galeria. De repente a empolgação deu lugar ao desespero, a chuva havia chegado ao centro do formigueiro.

"Vivinha" até então animada, começou a ficar agoniada, "o que eu fiz? Todas irão morrer...", pensava alto a formiguinha revolucionária, mas nesse momento de emergência, prevaleceu a experiência e a rainha, pela responsabilidade que tinha, pediu calma a sua comunidade.

Rapidamente chamou a encarregada das formigas operárias e pediu que levasse todas para o lado oeste da colônia, pois há muito tempo, havia sido construído um abrigo na parte mais alta da colônia, justamente prevendo situações como esta.

Já seguras, todas as formigas olhavam o aguaceiro que tomava conta dos corredores, sorte que a chuva era de verão e logo poderiam voltar a ver o chão.

A partir daquele momento a formiguinha percebeu que o fato de ser uma operária, não significava que fosse melhor ou pior que nenhuma outra formiga que tivesse uma função diferente da sua, pois cada formiga possuía responsabilidades bem definidas dentro da colônia: "realmente todas as tarefas são bem divididas...", pensava a formiguinha, mas agora com a água baixando, percebeu a rainha caminhando e isso acabou lhe preocupando.

- "Rainha, me desculpe à confusão, fique a vontade em me dar uma punição...”.

- "Minha querida filha, veja bem... Não posso te punir por ter dúvidas e discordar de certas normas e regras que mesmo antes de nascer já estão traçadas. Somos formigas e na natureza temos nossa responsabilidade, principalmente a de garantir a sobrevivência de nossa espécie..., por exemplo, imagine a bagunça e a sujeira que não ia ser? Se não tivéssemos em nossa colônia, formigas responsáveis por escavar e limpar o ninho? Ou se não tivéssemos outras para procurar alimento? Isso sem falar nas formigas-soldado, responsáveis por proteger nosso lar?”.

- "É, realmente seria mesmo uma bagunça...”.

- "Pois é, quanto ao nosso destino, já nascemos com no mínimo dois, um inicial, relacionado ao nosso nascimento e um final, que seria a nossa partida desse mundo, mas durante a nossa caminhada, somos os responsáveis pelos rumos que nossas vidas tomam e as possibilidades são infinitas dentro de nosso Campo da Vida, mas não esqueça que nós formigas, vivemos em sociedade e como tal, está implícito no significado de sociedade que seus membros compartilham interesses ou preocupações mútuas sobre um objetivo comum, que nosso caso seria...?

- "Entendi querida rainha..., além de garantir nossa sobrevivência, somos importantes para o ecossistema, pois incorporamos nutrientes ao solo e na sua aeração, além de ajudarmos outros organismos, regulando sua diversidade no ambiente”.

- "Isso mesmo 'Vivinha', meus parabéns!”.

- "Obrigada pelo aprendizado rainha, daqui pra frente prometo tentar enxergar todo o contexto antes de ser; simplesmente; uma rebelde sem causa. Agora vou indo, preciso ajudar minhas irmãs operárias a reconstruírem a colônia, até mais...”.

Moises Tamasauskas Vantini
Enviado por Moises Tamasauskas Vantini em 02/10/2014
Reeditado em 06/08/2015
Código do texto: T4984839
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