O corvo e a galinha

Em uma fazendinha isolada havia um grandioso milharal. Não muito distante do milharal, ficava um galinheiro, onde as comadres galinhas cacarejavam suas intermináveis histórias sobre como o milho era gostoso. Cacarejavam e bicavam o milho e depois se punham a cacarejar de novo. O corvo, sempre com vontade de se apropriar de uma boa espiga, espiava o galinheiro, já que o velho espantalho não arredava pé do milharal e o afugentava a todo tempo. Ele morria de inveja daquelas galinhas por receberem todo o milho e ele ficar sem nada. Foi depois de muito penar que ele teve uma ideia e bolou seu plano. Iria apostar com a galinha mais tapada do galinheiro o dom dele de voar em troca do milho dela. Para isso, iria propor a ela uma corrida até o topo do celeiro. Foi até ela e propôs o combinado. Ela aceitou de pronto, pois sempre desejara voar. Então se posicionaram na saída do galinheiro e a galinha disparou correndo em direção ao celeiro. O corvo, matreiro que só ele, foi até o prêmio e começou a devorá-lo. Enquanto isso a galinha subia de pouco em pouco até o topo do celeiro. Após terminar a refeição, o corvo apenas alçou voo até o ponto mais alto do celeiro e pousou ali esperando a galinha. Vários minutos depois ela chega, cansada devido ao grande esforço e percebe que perdera a aposta. Não satisfeita, ela desafia o corvo ao dobro ou nada. Mesmo já tendo satisfeito sua vontade de comer o delicioso milho daquele enorme milharal, a gulodice dele falou mais alto e ele aceitou a aposta, pois sabia que não havia modo de sair perdendo. Eles acordaram a nova corrida para daqui a uma semana, dando tempo à galinha para se preparar para ela. O corvo, mesmo que relutante, aceitou esperar o tempo que fosse necessário em jejum de milho, sabendo que logo provaria novamente do salgado quitute. A galinha se exercitou durante a semana, correu de um lado para o outro, estudou o percurso, fez de tudo para ganhar a corrida, afinal de contas, não era só seu milho que estava em jogo, mas também a vontade de voar no céu azulado. Deu a semana seguinte e novamente os dois animais se posicionaram na frente do celeiro e a galinha correu bem mais rápido que a da primeira vez, novamente em direção ao celeiro. Como da outra vez, o corvo foi se deliciar com o milho antes mesmo de terminar a corrida. A galinha, ligeira como nunca, subia os obstáculos em direção ao ponto mais alto do celeiro. Mas seu treinamento não fora o suficiente. O corvo terminou de comer, deixando apenas a espiga e voo até o topo do celeiro, ganhando novamente a aposta. A galinha enfurecida disse que não iria se entregar facilmente. Que a terceira vez era a certeira. Era o tudo ou nada, valendo todo o milho que o corvo conseguisse comer. Aquilo fez os olhos do corvo brilharem e ele aceitou de imediato. A galinha tinha um objetivo em mente e propôs mais uma semana de regime para o corvo, assim ela manteria o treinamento e se prepararia para vencê-lo de vez. E durante toda semana treinou arduamente o percurso até o topo do celeiro. Porém percebia que não seria rápida o suficiente, pois o corvo sempre conseguia chegar ao topo em questão de segundos devido ao seu dom de voar. Foi então que se deu que na véspera da nova corrida, a fazenda estava em festa. A casa principal fora toda enfeitada com bandeirolas, fitilhos e balões. Foi então que a galinha teve um lampejo de genialidade pela primeira vez na vida. Tratou de surrupiar algumas bexigas já cheias e as escondeu até o dia seguinte. Quando foi a hora da corrida, assim que o corvo se virou para abocanhar o milho, a galinha tirou os balões e os amarrou em sua cintura. As bexigas flutuaram, carregando a galinha junto com elas. O corvo nem se deu conta e, terminado o ritual de estraçalhar a espiga, levantou voo e já se imaginava dono de todo o imenso milharal, podendo comer das espigas até não aguentar mais. O susto foi tremendo quando ele se deparou com a galinha flutuando no topo do celeiro. Ela apenas lhe deu um aceno de despedida e disse que ele poderia ficar com todo o milho que quisesse, pois ela já havia conseguido o seu dom de voar. Agora o céu era o limite.

Moral da história: Quem se prepara se equipara.

Gustavo Alves Ribeiro
Enviado por Gustavo Alves Ribeiro em 08/09/2016
Código do texto: T5754429
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