AS FORMIGAS E OS ROUXINÓIS

Era tempo chuvoso. Não havia dias que não caíssem algumas gotas de chuva. A comunidade, composta por diversas famílias, tinha pouco espaço de manobra. Mas nem por isso a família de formigas deixava-se abater. Dona Felisberta, uma formiga zelosa, e seus dois filhos, desdobravam-se no cultivo de alguns produtos à volta de casa. Não era novidade, pois, desde os tempos do falecido esposo Raimundo, a família dedicou sempre parte do seu tempo à agricultura de subsistência.

-Meus filhos, o amanhã é um mistério! Então, é necessário acautelar. - Dizia Dona Felisberta, aos seus filhotes Efigénia e Eufrásio, respectivamente.

Enquanto o tempo se manteve inalterável, na casa ao lado prevaleciam os momentos de intenso relaxamento. Era uma família de rouxinóis que levava a vida desprevenidamente entre cânticos e banquetes,

Depois de alguns meses o tempo chuvoso deu lugar ao tempo seco. Deixou algumas sequelas: vias intransitáveis, a corrida do táxi disparou, o preço dos produtos no mercado encareceu enfim, a vida ficou mais difícil.

Numa tarde friorenta, a família de formigas fazia a colheita dos produtos cultivados no tempo chuvoso, quando dela se aproximou uma turma de rouxinóis:

- Vizinha Felisberta, estamos numa situação aflitiva. O nosso mantimento esgotou-se e o pouco dinheiro que nos resta não dá para fazer frente aos preços dos produtos no mercado. Por isso, resolvemos recorrer à senhora para que nos possa dar algo da vossa colheita para saciarmos a fome. – Suplicaram os rouxinóis.

- O que estiveram a fazer enquanto perdurava o tempo chuvoso? – Perguntou, atónita, Dona Felisberta.

- Cantando vizinha, cantando! O cântico é o que nos move! E sem banquete não tem nenhum sentido! – Responderam os rouxinóis.

- Pois bem, continuem a cantar e a dançar até porque, com esse frio terão que sacudir muitas vezes os corpos. - Retorquiu Dona Felisberta.