A FABULA DO QUASE RAIMUNDO, OU IMUNDO.
 
Era uma vez uma pessoa que, desde o nascimento, fora acometido de transtorno de personalidade paranoica e, assim, nutrira a ideia de que o mundo, por ser pequeno, no universo, podia ser abraçado, dominado e impedido de se soltar das garras de pensamentos de poder absoluto. O menino cresceu e colheu os frutos da semeadura, isto é dos pensamentos de poder a qualquer preço; entretanto, no início, não fora levado a sério, diante da sua vida e conduta absurdas para o homem médio, normal.

Cresceu e soube aproveitar momentos sociais de fraqueza política, a fim de, paulatinamente, aproximar-se mais do mundo. Apalpou-o, beijou-o, seduziu-o ao prometer acabar com a miséria humana e  social de toda a humanidade e enriquecê-la com tesouros escondidos onde somente ele sabia. Em dado momento, num gesto de puro golpe paranoico, tal qual o caminhar de uma onça faminta, passo a passo, devagar,  atacou e abraçou fortemente o mundo, sem o desejo de livrá-lo daquele ato egoísta. Afinal, pensava o jovem, que se dane o mundo, eu não me chamo Raimundo. Sim seu nome não era Raimundo, mas sim outro, bem próximo, qual seja,  imundo. O mundo, para ele, era um instrumento que alimentaria seu egoísmo imundo.
 
Mentes esclarecidas e conhecedoras da verdade acompanharam, com preocupação, os golpes do quase Raimundo; contudo, ainda que invocassem a sabedoria da metáfora contada por René Descartes, no sentido de evidenciar que os pensamentos, por si próprios, não têm potência para garantir o poder pretendido, não lograram, pacificamente, combater a sanha perigosa dos gênios malignos. Descartes, para essas situações, anunciou o gênio maligno, cujo propósito é incutir na mente dos descuidados e ignorantes sociais, de imundos espirituais, pensamentos falsos, para resultados demoníacos. Por conseguinte, sequer a sabedoria cartesiana serviu para demover a verdade no sentido de que os humanos são falíveis e a todo o momento estão sob a vigilância, domínio e influência dos gênios malignos.
 
O jovem quase Raimundo sempre, ao longo de sua vida irresponsável, sempre alimentou pensamentos egoístas; lamentavelmente, logrou êxito na escalada da falsidade. Sem qualquer cuidado, escrúpulo ou solidariedade humana engendrou um grande golpe, seu último pensamento, para poder apertar o mundo que abraçara e que pretendia estrangulá-lo desta feita. Nesse momento de sua vida corrupta já conquistara a simpatia de enorme falange do mal e de adeptos inconsequentes, os quais, em nome do bem comum, buscavam o bem não comum, mas exclusivos deles, tal qual mercenários humanos.
 
O representante do gênio do mal, personagem principal desta fábula, divulgou que lograra realizar um pacto com Deus, e, para comprovar a mentira, dizia que havia conversado com o Criador, porque o mundo que abraçara estava sob sua guarda e vigilância, porém necessitava de um dirigente de confiança. Dizia que, uma vez subjugado todo o mundo, nomearia Deus como um de seus ministros mais próximos e, em assim procedendo, o Papa, que podia ser uma resistência, não estaria em condições de negar uma pretensa canonização, ainda em vida, para novo santo tivesse lugar: o santo imundo, padroeiro dos corruptos. Todo aquele que fosse fiel ao santo corrupto, não seria, por causa da corrupção, levado ao inferno.  
 
Ocorre que o golpe não vingou, porque esbarrou no poder maléfico do inferno. Uma vez que os pensamentos falsos, alimentados por gênios do mal, a bem da verdade sempre estiveram a serviço  de satanás a trama urdida pelo imundo traria um resultado prejudicial ao inferno, porquanto se pretendia diminuir a densidade demográfica daquela região.  Por essa razão, ao perceber o perigoso resultado do golpe em andamento, ou seja impedir-se que no futuro o imundo, e tantos outros, mesmo sendo praticantes do mal, deixariam de ser encaminhados às trevas, sob o argumento de inocência. O superior chefe do mal, imediatamente, entrou em contato com seus emissários, dentre os quais, alguns, eram ministros corruptos, detentores de poderes em vários segmentos e, outros, magnatas que alimentavam a corrupção,  e ordenou que todos criassem um dissídio político e jurídico, alimentado por delações, porquanto era o momento de por cobro à sanha do pretendo santo imundo. Para o mentor do mal, não importava se muitas cabeças relariam, afinal no inferno há espaço para muitos.
 
Assim aconteceu e o filho do gênio do mal, o imundo ou quase Raimundo, entrou em desespero, esperneou, negou todas as acusações, ofendeu a Justiça e todos que pensassem diferente deles, no que foi apoiado pelos poucos herdeiros do mal. Perdeu o poder, perdeu o cargo e, se não se cuidar, se não se redimir dos pecados, aquela voz íntima que lhe visitou e demonstrou a possibilidade de se perderem até os pensamentos, receberá  sua derradeira e  grande lição.
 
 
aclibes
Enviado por aclibes em 03/02/2018
Reeditado em 03/02/2018
Código do texto: T6244256
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