Praia

Não era muito longa a faixa de praia onde ficávamos.

Não...

Dali, até o posto 4 dariam uns 200 metros, de areias brancas e águas cálidas, as vezes represadas na mare vazante pelos arrecifes da margem.

Muitas horas eu ficava tostando naquelas manhãs quase sempre iguais de céu azul e sol ardente, raramente entrando no mar, as vezes alguns minutos antes de voltar.

Nossa vida era simples apesar do lugar paradisíaco que morávamos. Não havia como hoje, a glamourização de viver na praia tão enfatizado pelos vendedores de sonhos e consumo de nosso tempo.

Em casa, minhas tias e primas não gostavam e quase nunca iam até a praia em frente, distante de nossa porta apenas alguns metros. Não gostavam do calor, da cidade, das pessoas daquele lugar, pareciam estar num eterno estado de reprovação, de nada gostavam.

Aos domingos, meu tio costumava nos levar a outras praias mais afastadas, para praticar um de seus esportes prediletos; conversar. Isso depois de passar algumas horas fitando a enorme vara de pesca fincada num cano de ferro na areia, balançando ao vento, mas que nunca ou quase nunca trazia alguma surpresa.

Ao fim da tarde, ficávamos ali naquele bar pé na areia, conversando ainda, longamente, tomando cerveja gelada, horas. Nesse momento a felicidade era algo que se podia tocar.

Eu costumava chegar na praia, lá pelas 9 horas. Nossos amigos um pouco mais tarde.

Ela....ela apenas surgia.

Costumava abrir sua esteira e sentar-se um pouco na minha frente, parecia ou queria parecer que me ignorava, apesar de toda tarde e parte da noite, passarmos horas juntos entre palavras, carinhos dissimulados, intenções secretas e disfarçadas.

Tinha porte esguio, pele dourada e um sorriso luminoso de dentes alvíssimos, seu rosto era....

Uma manhã, tivemos que sair da praia às pressas por causa de uma chuva de verão que desabou sobre nós, ao atravessar a avenida ele enlaçou meu braço e assim chegamos ao outro lado, ela meio sem jeito eu com o coração aos pulos pelo contato de seu braço com o meu e meio envergonhado confesso.

As vezes de meu lugar na areia eu a via chegar e ficava admirando seu andar, seu corpo jovem, a pele sutil, a boca ansiada ...para sempre proibida.

Nas tardes que ficávamos juntos, muitas vezes prendia minha mão entre as suas, em meio a risos e silêncios reveladores.

Um dia partiu, me dando apenas um leve aceno.

Ah o maiô negro que vestia .......

Alfred Delatti
Enviado por Alfred Delatti em 04/05/2021
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